Os primeiros lugares e a primeira multiplicação dos pães II: O Grande Banquete

Lc 14, 15-24

Jesus jantava, num sábado, na casa de um fariseu notável, onde fizera um milagre e contara uma parábola, quando um dos convidados lhe disse: "Feliz aquele que tomar refeição no Reino de Deus!" Para os judeus, tomar refeição significava conviver, participar pessoalmente. Foi como se ele tivesse dito a Jesus: Feliz é aquele que convive com o Senhor! Jesus responde contando uma história que, à primeira vista, nos parece sem sentido.

"Um homem deu um grande jantar e convidou a muitos. À hora do jantar, enviou seu servo para dizer aos convidados: 'Vinde, está tudo pronto.'" Quer dizer, primeiro ele convidou; depois de pronto o jantar, mandou avisar aos convidados. Os judeus, antes de fazer uma festa, faziam uma sindicância, dizendo: Vou dar um banquete e estou convidando vocês para comparecerem. Primeiro fazia o convite, para depois chamar os convidados. Então, houve primeiro um convite. O que isto quer dizer?… Este é o cerne da questão.

Ao criar o mundo, Deus fez o firmamento, a terra e tudo que nela existe. E convidou para participar de Seu convívio o homem. Soprando sobre ele, deu-lhe vida. Este foi o primeiro convite de Deus ao homem. Não nos esqueçamos de que Jesus respondia àquilo que o convidado dissera: "Feliz aquele que tomar refeição no Reino de Deus!"

Deus cria tudo e convida o homem a participar. Esse banquete que Deus nos oferece é a participação em Sua criação, o convívio com Ele nessa casa. É o homem no seu corpo glorioso. É isto, o homem foi criado por Deus para conviver com Ele, para tomar com Ele a refeição.

E o que acontece? O homem recusa, priorizando as suas coisas. Por este pecado de soberba, perde as prerrogativas deste convite. A primeira desculpa do homem: "Comprei um terreno e preciso vê-lo", deu mais importância à posse da terra – e perde a sua imortalidade.

Depois, a segunda desculpa: "Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las." O homem norteia o seu pensamento pelos cinco sentidos da matéria – e perde assim o elo com Deus.

Finalmente, a terceira desculpa: "Casei-me, e por esta razão não posso ir." Casou-se com os seus sentimentos – e perde a companhia de Deus.

Vejamos agora como tudo isto é interessante. Deus fez um convite ao homem para "o grande banquete da criação". E o homem o perdeu por três desculpas injustificáveis, que o levaram a perder seus privilégios: perdeu a imortalidade, pela posse da terra; perdeu a ligação com Deus, por atrelar o pensamento aos sentidos da matéria; perdeu a companhia de Deus, por se entregar aos sentimentos humanos como forma de vida.

Por isso a resposta do homem "atraiu sobre si o descontentamento do Senhor". Mas pela Sua grande misericórdia, Ele convida Sua criação para retornar à casa. É o primeiro convite que faz depois do pecado da desobediência. Deus fala com a Sua criação, com os anjos, com tudo: "Vai depressa pelas praças e ruas da cidade, e introduz aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos."¹ Deus se referia ao homem que pecou, este homem enfermo de tanta ignorância, cujas desculpas revelam seus desvios pelos escuros e tortuosos meandros do materialismo.

Deus ainda assim busca este homem. Ele age como dissesse: Vou lhe oferecer este banquete. A casa está pronta, preparei tudo e quero que o coxo, o mudo, o surdo participem deste banquete, pela minha misericórdia. Os empregados foram e trouxeram-lhe todos estes, todos nós, cheios de problemas diante dele.

Mas os empregados dizem ao Senhor: "Senhor, o que mandaste já foi feito, e ainda há lugar." A misericórdia de Deus é tão grande que, com toda a humanidade participando dela, ainda sobra lugar. Então o Senhor diz: "Vai pelos caminhos e trilhas² e obriga as pessoas a entrarem, para que a minha casa fique repleta." Quer dizer, vai por todo caminho que Eu fiz, busca toda a minha criação, traz tudo de volta para cá. Eu quero que, no sentido material das coisas, todos participem do meu banquete. Isto é, além do homem, dos animais, das árvores, das pedras, tudo participe da minha criação, do meu banquete.

"Deus quis que entendêssemos Sua existência por meio da criação."

Para o primeiro convite, depois do pecado, Deus não obrigou, porque o racionalismo humano teve o discernimento suficiente: os enfermos foram por si mesmos. Mas, para aquilo que não é humano, que não pensa, não tem a racionalidade humana (o segundo convite), Deus obrigou, ao dizer: "Vai pelos caminhos e trilhas e obriga as pessoas a entrarem, para que a minha casa fique repleta."

Hoje entendemos como criação de Deus o Seu grande banquete. É o homem racional, com todos os problemas e tudo que está à sua volta: todo o firmamento, todo que está na terra: animais, vegetais, minerais.

 

1 "Nos escritos de Qumrã, estes enfermos eram excluídos do combate escatológico e do banquete que o seguiria." (Bíblia de Jerusalém, edição 1981) "Escatológico: relativo à escatologia: doutrina das coisas que devem acontecer no fim dos tempos; teol. doutrina que trata do destino final do homem e do mundo; pode apresentar-se em discurso profético ou em contexto apocalíptico." (dicionário Houaiss)

2 "Caminhos e trilhas: após 'as praças e ruas da cidade' do v. 21, 'os caminhos e trilhas' do v. 23 parecem ser fora da cidade; lá se aglomeram duas categorias diferentes: de uma parte, os pobres e os 'impuros' em Israel; de outra parte, os pagãos."

 

Referência: LOPES, Raymundo. Os primeiros lugares e a primeira multiplicação dos pães II: O Grande Banquete: Lc 14, 15-24. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 174.

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