Mt 25, 31-46
Neste Evangelho Jesus começa dizendo: “Quando o Filho do Homem vier na Sua glória, e todos os anjos com Ele, então se assentará no trono da Sua glória. E serão reunidas em Sua presença todas as nações e Ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à Sua direita e os cabritos à Sua esquerda.”
Entendemos que Jesus fala aqui em separar os justos dos pecadores. Mas não é só isto. Ele quis dizer também que, quando Deus fez o mundo, no sétimo dia viu que tudo era bom. Deus não criou nada de ruim, mau ou errado. Assim fez o homem, perfeito, para a eternidade. Colocou-o no paraíso, onde se alimentava das frutas de suas árvores. Não havia ali a morte, a dor, o sofrimento. Mas o que aconteceu, então?… O homem pecou, pela soberba, atraindo por consequência, à criação, tudo que chamamos de ruim, de mau e de errado. Trouxe ao homem a morte e a imperfeição. Ruim é tudo aquilo que Deus não quis. E o homem teve de caminhar com tudo isto que não fora feito para ele. Deus não criou o homem para uma vida de coisas ruins.
Poderíamos até imaginar que em Sua mente divina Ele pensasse assim: O que é sofrer? O que é sorrir? O que é chorar? O que é aprender a andar? E se encarnaria para “aprender” e “entender” melhor a Sua criação naquela nova situação. Assim, viveria na carne, como homem, durante trinta e três anos, para participar daquela vida: nasceu, aprendeu a andar, sorrir. Falou, discutiu, sofreu e morreu.
Vamos, então, entender uma coisa interessante: aquele Deus do Antigo Testamento agora age de forma diferente. É como se aquele Deus não tivesse consciência, não entendesse o que o homem passou a viver após a perda do paraíso: o sofrimento, o questionamento… É como dissesse: O que é isto? Não é o que Eu quis criar! Terei de vive-lo para o entender. É claro que falamos isto tão-somente em hipótese, pois Deus tudo sabe e Sua encarnação teve outro sentido. Ele nos provou que quis viver a nossa vida terrena, humanizando-se, para nos libertar da escravidão do pecado e da morte. Ele veio pela misericórdia, para nos trazê-la. Por isso vivemos, especialmente hoje, o tempo da misericórdia de Deus. Ele entendeu o homem em todos os seus sofrimentos e aflições, e concordou apenas com a morte do corpo, não concordando com a morte da alma. Esta ficaria restrita àqueles que não fossem do Seu redil, traduzindo-se na condenação eterna. Ele conviveu com a morte da alma, pois até então ela estava num estado de condenação, para toda a humanidade, herança do pecado de Adão; mas resgatou- a ao vencer a morte, por isso “ressuscitou dos mortos”.
Jesus está aqui dizendo que, no final dos tempos, terá condição de separar aquilo que ficará à Sua direita: tudo que é bom; e aquilo que ficará à Sua esquerda: tudo que é mau.
No Jardim do Éden convivíamos somente com o bem, nada nos fazia mal. Na vida terrena o mal está em todo lugar: nas pessoas e em tudo à sua volta. O egoísmo, a injustiça, a violência… as doenças, os acidentes, as mutilações… o meio ambiente. Uma planta que se come, por exemplo, às vezes nos faz mal; um cão pode nos fazer bem, mas pode também nos atacar; uma cobra com seu veneno pode nos matar, quando nem deveria ter veneno. Tudo isto que provoca o mal é o que está à esquerda de Deus, é aquilo que Ele não criou para o homem, quando o colocou no paraíso. Esse conjunto de coisas terríveis o próprio homem trouxe para si ao pecar, atraiu para o seu convívio.
No final dos tempos, que não é o final do mundo, mas o tempo atual que chega a um fim, Jesus virá em Sua glória e haverá uma separação de tudo isto e o homem, transformado, purificado, voltará a conhecer um novo tempo, onde o bem prevalecerá sobre o mal. Será o paraíso terrestre, onde plantas e serpentes não terão veneno, não haverá animais ferozes, não subsistirá a iniquidade. Porém, estaremos ainda em nosso corpo mortal, na nossa imperfeição.
Já o Juízo Final ocorrerá no final do mundo, numa terceira e última vinda do Filho do Homem, para o julgamento final e definitivo. Do lado direito de Deus estarão os bem-aventurados, o homem glorificado em nome de Deus, que o resgata para o Paraíso celeste. E do lado esquerdo os mal-aventurados, desterrados para sempre de Seu convívio, de Seu amor.
Este Evangelho é maravilhoso. Deus quer nos mostrar que valemos muito para Ele. No contexto da criação, do reino vegetal ao reino animal, com tudo que os envolve, tem seu lado direito e seu lado esquerdo. O lado esquerdo será banido, enquanto o lado direito resplandecerá na glória de Deus.
Devemos sempre cultivar esse lado direito e esquecer o lado esquerdo. É morrendo para as coisas do lado esquerdo, que se vive para a vida eterna.
“Há, porém, muitas outras coisas que Jesus
fez e que, se fossem escritas uma por uma,
creio que o mundo não poderia conter os
livros que se escreveriam.”
Referência: LOPES, Raymundo. O Juízo Final: Mt 25, 31-46. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 234.