O Bom Pastor

Jo 10, 1-21

Este é o único Evangelho no qual o evangelista conta que Jesus explicou uma parábola e depois diz que os discípulos não a entenderam. Contudo, não é só uma parábola, é um trecho em que Jesus une narrativa e parábola.

Jesus conta uma história em que usa a figura do pastor, das ovelhas e do redil, porque naquela época a atividade pastoril era muito comum em toda a Galileia. Os pastores tinham um trabalho penoso, por existir na região um grande número de lobos e outros predadores. Tinham de ficar atentos, para não perderem suas ovelhas; elas, por sua vez, acostumavam-se com as pessoas, conheciam seus pastores. O pastor usava um artifício para que suas ovelhas o conhecessem: uma pulseira com um guizo de sons diferentes. Quando elas ouviam esse som, sabiam onde estava o guia e podiam segui-lo.

Jesus diz outra coisa interessante: "Todos os que vieram antes de mim (os falsos messias que o precederam) foram ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os ouviram." Esta é uma frase que implica os teólogos. Eles tentam explicá-la como sendo alguns escribas e fariseus, os que vieram antes dEle.

Jesus fala dessas coisas porque naquele tempo já se esperava o Messias, há mais ou menos quinhentos anos. Durante esse período criou-se, devido às opressões, muita tensão entre judeus e romanos e outros dominadores. Para resolver essa situação e salvar os judeus, surgiam por vezes pessoas que se diziam o Messias, incitando-os à guerra, revoltas e assaltos com o propósito de agredir e enfraquecer seus opressores.

Os judeus, saturados com tantos falsos messias, acabaram duvidando do verdadeiro, pois tudo que se propunha em seu nome, para salvá-los, já não lograva êxito. Ao mesmo tempo, a crença que se sedimentou naqueles homens foi a de que o Messias ia libertar o povo de Israel do jugo tanto dos romanos quanto de outros opressores.

A imagem do bom pastor e suas ovelhas foi muito bem colocada nessa explicação de Jesus. Porém, os discípulos não a entenderam, por imaginar um messias que os libertasse da opressão política e social. Eles não perceberam que o sentido da vinda de Jesus era de libertação da escravidão do pecado, a redenção da humanidade.

Por isso Jesus disse: "Todos os que vieram antes de mim eram ladrões, salteadores, mercenários". Eram pessoas interessadas apenas em causar conflitos, e quando isso não dava certo abandonavam-nos, isto é, entregavam as ovelhas aos lobos.

Jesus compreendia perfeitamente a Sua missão como Verbo encarnado. Prova disto é a resposta que deu a Pilatos: "Meu reino não é deste mundo. Se fosse, o Pai lhes mandaria os anjos do Céu pelejar para me salvar."

Ele usou de uma máxima para dizer o que pretendia fazer na terra, qual seria o verdadeiro plano de Deus para a humanidade.

Aquele povo estava confuso, como hoje estamos com tantas "aparições" de Nossa Senhora. Falsas aparições que acabam por criar confusão e desacreditar as verdadeiras. Naquela época as coisas não eram muito diferentes, os judeus estavam confusos com os frequentes "messias" prometendo resolver os problemas, mas que acabavam em atrapalhadas.

Jesus chegou num momento difícil. Se tivesse nascido quinhentos anos antes, a história talvez fosse outra. No entanto, naquele momento, crer no verdadeiro Messias, com aquela proposta, tornara-se difícil.

É a primeira vez em que Jesus, no Evangelho, expõe com tanta clareza o motivo pelo qual veio até nós. "Eu vim para que as ovelhas tenham vida em abundância." "Eu sou o Bom Pastor, conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem." Quer com isto dizer: Eu vim para resgatá-los. E isto só pode ser feito pela via do amor.

Na verdade aqueles homens rudes e desiludidos, que ouviam Jesus, não poderiam entender essa parábola, por isso precisou repeti-la com a seguinte narrativa: "Eu sou o Bom Pastor, o bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. Sou a porta, as ovelhas me conhecem."

Esta imagem do Bom Pastor nos acompanha por toda a vida. Observando, por exemplo, o Salmo 22, quando nos fala das pastagens verdejantes, indagamos: Que pastagens são essas? São aquelas que devemos adotar em nosso caminhar, aquelas que nos proporcionam alimento saudável. Se não conseguimos separar nossas necessidades espirituais das materiais, não encontraremos Deus. O máximo que conseguiremos será chamar por Ele, a vida toda, num eterno monólogo. Sabemos que Deus, pela Sua misericórdia, nos ouvirá e nos entenderá. Houve um santo que disse: "Sofrer não é o grande problema; o problema é sofrer inutilmente." Isto é terrível, é preferível saber por que está sofrendo. E é fundamental também saber sofrer, para que este se traduza em crescimento espiritual.

Deus tem um projeto para cada um de nós, por isso nos abre as portas, convidando-nos a renascermos em espírito. São como portas do Paraíso nos sendo reabertas, para um encontro mais íntimo com Deus. E é Ele que nos conduz. Isto não significa que devemos cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, não é isso. Devemos viver com aquela confiança íntima em Deus. Não vamos deixar de fazer o que precisamos, mas vamos caminhar com os nossos projetos mantendo sempre em mente o projeto de Deus.

A coisa mais bonita e ao mesmo tempo extraordinária é saber escutar Deus. É como se fizéssemos um joguinho com Ele, onde vamos descobrindo e assimilando, aos poucos, aquilo que nos manda. É quase uma "brincadeira divina", em que caminhamos no plano de Deus, enquanto Ele nos pastoreia. Por isso Deus é o Bom Pastor. Quando isso acontece, toda nossa frustração desaparece. Se entendermos isso, nunca deixaremos de confiar em Deus, no cajado do Bom Pastor, reconhecendo que somos um importante projeto dele.

Deus nos deu tanta importância, que permitiu que renascêssemos em espírito, e ainda nos conduz neste reino que não é dele.

Essas ovelhas a que se refere, representam aquela parte que lhe pertence: o nosso espírito.

 

Referência: LOPES, Raymundo. O Bom Pastor: Jo 10, 1-21. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 124.

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