A Vinda do Espírito Santo

Jo 16, 4-12

O Evangelho de João não faz parte dos sinóticos1. Mateus, Marcos e Lucas seguem um raciocínio até muito lógico, enquanto João é mais místico e segue uma linha diferente, apresentando-nos um Jesus mais divino, místico e oculto.

Este Evangelho tem uma beleza muito grande, embora seu anúncio não fosse novidade, pois naquela época já havia um espírito crítico em relação a certas coisas do Antigo Testamento. O que Jesus aqui falou, João Batista já proclamava, e antes dele outros também o fizeram. No entanto, estas palavras de Jesus ecoaram diferente, por terem sido ditas pelo próprio Verbo encarnado.

O início e o fim deste texto são a sua moldura: "Não vos disse isso desde o começo porque estava convosco." e "Tenho ainda muito a vos dizer, mas não podeis agora compreender." Tirando-os, perde-se a ideia desta revelação. É como se cortasse o princípio e o final de uma música, mutilar-se-ia a melodia.

Jesus está aqui falando do pecado original. Tendo Deus concluído o primeiro ciclo de Sua criação, surgiu o pecado. E quem pecou primeiro foi o anjo, o homem ainda estava no Plano de Deus. Foi, portanto, o 'espírito puro', aquela estrutura angélica acima do homem. E a partir daí a criação tomou outro rumo, atingindo o homem, que sucedeu ao anjo. Sabemos que Lúcifer, anjo decaído, induziu Eva e Adão ao pecado e, por consequência, à perda do Paraíso.

Podemos perceber, no Antigo Testamento, que Deus guiava o homem quase diretamente, fazendo-se muito presente: falou com Adão, instruiu Noé, fez aliança com Abraão, com Moisés, libertando seu povo da escravidão do Egito e conduzindo-o pelo deserto… Isto para citar apenas alguns exemplos. Sua presença era forte e determinante.

Falou com o homem muito mais que Nossa Senhora tem falado nestes dois mil anos.

Mas, por que Deus falava tanto? Porque antes da encarnação do Verbo o homem não tinha consciência plena do pecado, aquela que vem do espírito. Já os anjos têm o "conhecimento e virtudes infusos" (havidos por natureza). Por isso o pecado deles fora punido severamente, com sua expulsão do Céu e exclusão do convívio com Deus; enquanto o homem foi contemplado com a misericórdia divina: a presença de Deus no curso de sua história, a redenção, a possibilidade de retorno ao Seu convívio.

E o Verbo se encarnou, para que o homem e o demônio fossem julgados. A partir do nascimento de Jesus, começa todo o julgamento. Ele viveu, morreu e no momento em que diz, na cruz: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito" e "Tudo está consumado", confirmou o Inferno, destinado aos ímpios, e abriu as portas do Céu aos justos que aguardavam, na "mansão dos mortos", a redenção que viria com o Messias. A humanidade hoje pode ser julgada, bem como o demônio; este, aliás, já está julgado. Julgamentos que só Deus pode e é capaz de fazer.

A partir daquele momento, Jesus nos mostrava o que é discernimento. Ele diz: "…é de vosso interesse que Eu parta (para o Pai), pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas, se Eu for, enviá-lo-ei a vós." É como dissesse: Eu indo ao Pai, o Espírito Santo, Aquele que auxilia o discernimento, virá sobre vocês. Mas se Eu não for, Ele não virá para ajudá-los a entender tudo o que Eu lhes disse. Por isso o povo do Antigo Testamento não tinha uma ideia clara do que é pecado e o que é de Deus.

Deus parou de falar, para que o homem pudesse ser julgado quanto às consequências do pecado original. O Verbo encarnado precisava voltar ao Pai, para que o julgamento divino descesse sobre a humanidade.

Depois de toda uma tradição religiosa, Jesus fala do espírito da pessoa e não da razão, aquela que está repleta da Lei. No tempo de Jesus os judeus só sabiam falar da Lei, que por sinal fora adulterada no curso do tempo.

Jesus disse: "Agora, porém, vou para Aquele que me enviou e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?" Esta é a grande interrogação da humanidade. Porque o discernimento implica em saber a origem e o destino das coisas. Esta interpelação de Jesus ecoa pelos séculos dos séculos: O espírito de vocês não questiona para onde volta o Verbo encarnado? Essa pergunta (Para onde o Senhor vai?) é importante. Jesus quer que saibamos, no espírito, qual o destino do homem, que é o Seu destino. Para isso o Verbo se encarnou, tornou-se humano e voltou para o Pai, a fim de que consigo estivesse também o homem, com o qual estabeleceu uma "nova e eterna aliança".

Isto só poderia acontecer se o 'Auxiliador', o Espírito de Deus viesse para a humanidade. Se Jesus tivesse permanecido entre nós, humanizado, não teríamos o Espírito do julgamento. Nem mesmo o demônio estaria julgado; e ele sabia disso, por sua soberba, aquela que obstaculava a continuidade do Plano de Deus. Se o demônio tivesse perseguido Jesus no espírito, ele não só teria deixado de contribuir para a Sua crucificação, como procuraria impedi-la, evitando com isso que a humanidade fosse resgatada na cruz, mantendo-a assim cativa na Mansão dos Mortos, subtraída ao Criador, interrompendo o plano Divino. Mas, perseguindo Jesus no Seu corpo humanado, errou mais uma vez, agora devolvendo a Deus o homem que Lhe arrancara das mãos ao induzi-lo ao primeiro pecado, em Adão.

A soberba cega a pessoa; ela não consegue ir além da razão. É como um circuito fechado. Imaginemos essa soberba no divino que existiu naquele "anjo". E todos nós, enquanto nesta vida terrena, somos inquilinos do demônio, porque ele está aqui, é o Príncipe deste mundo.

Jesus, ao pronunciar "Tudo está consumado", abriu ao mesmo tempo o Inferno e o Céu, para que, no julgamento, o espírito fosse elevado ao Céu ou precipitado no Inferno, conforme o seu merecimento.

Esta parte do Evangelho nos fala, portanto, sobre o discernimento humano. Tudo isto que vivemos depois de Cristo, até o Seu retorno final.

 

1 Sinóticos: designação que se dá aos três primeiros evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas), assim chamados porque permitem uma vista de conjunto. Apresentam grande semelhança quanto aos fatos narrados.

 

Referência: LOPES, Raymundo. A Vinda do Espírito Santo: Jo 16, 4-12. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 194.

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