Jesus com Nicodemos I

Jo 3, 1-21

"Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem…"

Jesus aqui tocou num assunto muito delicado para aquele povo.

Nicodemos era fariseu, "um dos homens célebres da cidade, membro do Sinédrio". Os fariseus acreditavam que as pessoas só se salvariam pelas suas obras, não pelas orações. As orações eram um modo de louvar a Deus, mas não motivo de salvação. Eram, também, como já disse, muito preocupados com regras e normas, com o exterior, com as aparências. Isso passava à comunidade uma ideia de que a pessoa era salva pela sua dedicação ao Templo e por suas obras. Essa era a política dos fariseus.

Nicodemos, porém, preocupava-se com isso e parecia gostar de Jesus. Quando perguntou-lhe: "Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus lhe respondeu: 'Em verdade te digo, se não nasceres de novo não verás o Reino de Deus.'" Nicodemos questionava o seguinte: Jesus, tu me estranhas, pois ensinas esse povo a orar e produzes milagres. Não te entendo, pois sabemos que Deus nos salva pelas nossas obras, não pelas orações. Tu ensinas as pessoas a orar e produzes milagres, como pode isso? E Jesus coloca diante de Nicodemos aquilo que não poderia entender: a Igreja humana e a Igreja divina, o que é alma e espírito.

Alma e espírito são coisas diferentes, embora interligados. O animal irracional tem alma, mas não tem espírito. E sua alma é mortal, enquanto a do homem é imortal. Jesus quis com isso dizer: Vocês acreditam que serão salvos pelas obras; porém, se não derem atenção à alma e ao espírito, não se salvarão. Precisam nascer de novo, em espírito, para que possam progredir em espírito.

Deus sopra sobre nós o espírito, e nós devemos fazer com que esse nosso espírito progrida mediante o livre-arbítrio que Deus nos deu, só assim crescemos interiormente. O espírito é sopro de Deus, mas não é a conclusão de nossa sabedoria. É isto que fala a Nicodemos. Se você não nascer de novo, do alto, ficará com o espírito em estado latente, sem crescer em Deus, sem conhecer as coisas do espírito.

Depois, Jesus diz: "Em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus." Água representa, aqui, a alma, o princípio da vida. Nós somos 70% água. Jesus está dizendo: Vocês são alma e espírito. Se não nascerem da água e do espírito, não entrarão no Reino de Deus. Se o espírito não crescer em Deus, morrerá sem essa sabedoria, que nada tem a ver com cultura intelectual. "O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito." A pessoa pode desenvolver dentro de si aquilo que Deus lhe deu; essa capacidade é inata ao homem.

"O vento (ou Espírito) sopra onde quer e ouves o seu ruído (ou a sua voz), mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito."

O espírito é sopro de Deus, é uma graça que Deus nos dá, uma sabedoria que provém do seu Espírito, graça que Deus faz brotar dentro do nosso ser, cujo crescimento depende do nosso livre-arbítrio.

Quando Deus sopra sobre você e quer colocar em seu espírito a Sua sabedoria, e você a recusa ou a nega, está pecando contra o Espírito Santo. Isto não tem perdão, pois assim você está se fechando a Deus. Ele está lhe dando uma graça e você a recusa. Não quero! Se não quer, Ele deixará de soprar sobre você. Esse sopro Deus o faz onde quer e da maneira que quer, mas nunca se impondo a alguém. Foi isto que Jesus quis dizer a Nicodemos.

"Perguntou-lhe Nicodemos: 'Como pode isto acontecer?' Respondeu-lhe Jesus: 'És mestre em Israel e ignoras essas coisas?'" Ou seja: Não sabe que Deus sopra sobre as pessoas a Sua sabedoria? Como você direciona os fariseus, formalistas tão preocupados com a exterioridade, se não percebe que Deus sopra entre vocês a Sua sabedoria?

"Em verdade te digo: falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos¹, porém não recebeis o nosso testemunho." Isto é: obras, que para vocês são de singular importância, se nem mesmo nelas acreditam, vão acreditar no espírito, naquilo que Deus está soprando sobre vocês? Não, não acreditarão!

"Se tratando de coisas terrenas, não me crês, como crerás, se te falar das celestiais?" Há pessoas com capacidade para fazer tanta coisa, mas preferem ficar em casa cuidando de pequenos afazeres. E Deus às vezes as empurra para uma missão, mas elas não vão porque é trabalhoso, requer desprendimento. Estão negando a Deus, o sopro do Espírito, o nascer do alto.

"Ninguém subiu ao Céu senão aquele que desceu do Céu." Jesus não está falando de si mesmo, pois ainda se encontrava ali, entre eles.

Do que falava, então? Nicodemos deve ter ficado intrigado com isso. O Espírito de Deus, aquele que se fez homem no ventre de Maria, primeiramente veio como anúncio. Deus programou a Sua vinda, não foi um acontecimento qualquer. "Esse acontecimento foi de tal grandiosidade, que Deus o preparou durante séculos." O Filho do Homem foi a proposta de Deus para que pudéssemos recebê-lo. Toda a anunciação foi uma programação de Deus para Sua vinda à terra.

Portanto, ao falar "Ninguém subiu ao Céu senão aquele que desceu do Céu"², significa que quando Jesus se humanizou no ventre de Maria, algo subiu. A própria ciência diz que duas coisas não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo. Algo subiu, e aquele que subiu é o mesmo que desceu. Algo de Sua natureza divina subiu, ao assumir plenamente a natureza humana, despojando-se, portanto, enquanto na carne, da infinitude daquela.

É toda a sabedoria de Deus, do Espírito, aquele do qual precisamos nascer para entender. Por isso disse que Nicodemos não podia entender essas coisas.

"Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem…": Sua morte e ressurreição. Mas Jesus ainda diz aqui o seguinte: Com a minha presença misericordiosa, vocês que foram mordidos pela minha justiça serão curados pela minha misericórdia.

"…a fim de que todo aquele que crer tenha nele a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele."

Jesus diz que não veio para condenar o mundo. Depois, em Jo 9, 39, diz: "Para julgamento é que vim a este mundo". Prestem atenção nisto. Quando Ele pegou o chicote e expulsou cambistas e vendilhões do Templo, não estava julgando? O Filho de Deus não veio ao mundo para o condenar, mas para julgar. É isto que Ele está falando. Não veio para condenar ninguém, mas para salvar; caso contrário, o Verbo não teria se encarnado. Mas no momento em que Deus se humaniza e se revela, passa a julgar. A negação a essa revelação, à luz, é pecado contra o Espírito Santo.

"Este é o julgamento: a luz veio ao mundo mas os homens preferiram as trevas à luz…" Esta é a causa da condenação: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas. E que luz é essa? Jesus, Deus conosco. Com Seus ensinamentos, Ele dissipa as trevas.

Há diferença entre julgar e condenar. A condenação é consequência de um julgamento; portanto, sucede a este. Enquanto julgamento, é passível de mudança, desde que se passe a crer, pois sendo outra a disposição interior, a consequência não pode ser a mesma. O mesmo já não ocorre na condenação, por se tratar de um fato consumado.

A luz de Deus chegou, programou toda a humanidade de Deus entre os homens, mas estes não quiseram nascer de novo, do alto, resolveram negar toda a sabedoria de Deus. É isto.

"…porque as suas ações eram más. Pois quem faz o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas obras não sejam descobertas." Se acham que serão salvos apenas pelas obras, estão aborrecendo a luz. A má ação ofende a luz de Deus. Neste caso, não se aproximam da luz para que não sejam arguidas as suas obras. Ou seja, não querem entender a sabedoria de Deus, para não serem cobrados por Ele. "Mas quem age segundo a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus."

A boa obra é necessária e é coisa de Deus, mas é preciso também louvar, agradecer a Deus. Pois a obra sem oração não é de Deus. Para isso há que nascer do espírito, ou seja, não fazer barreira à luz de Deus que lhe vem, porque só pela obra não se salva.

Há pessoas que acham que por estar numa igreja, num trabalho de assistência social, naquele circuito fechado, de lá para casa, estão quites com Deus. Não estão! Porque assim não se renasce e consequentemente impedirão que os dons do Espírito Santo produzam algo de bom em suas mentes. E desta forma morrerão em espírito. Por isso a

Igreja hoje está tão voltada para o social. Isto é um perigo enorme, pois pode negar o Espírito Santo.

Em síntese, o que Nicodemos escutou de Jesus foi: se não nasceres de novo, se não deixar que o Espírito de Deus aja sobre você, a fim de que suas obras possam refletir suas orações, não terá a salvação. E Nicodemos não entendeu nada.

 

1 "Falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos,…". Embora falasse com autoridade, Jesus não falava por sua própria autoridade, Ele diz o que viu do Pai; Ele é a Palavra. Por ela tudo foi tirado do nada. Uma condição apenas requer: crer na Palavra, permanecer nela, seguir seu mandamento de amor. Jesus dá testemunho da verdade contra o mundo, do Pai e de Si mesmo, como enviado do Pai." (explicação bíblica – Bíblia de Jerusalém, edição 1981)

2 "Ninguém subiu ao Céu, a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem…" Uma alusão à Ascensão, que manifesta a origem celeste de Jesus. O Filho do Homem deve ser elevado, ao mesmo tempo levantado sobre a cruz e reintroduzido na glória do Pai. Para ser salvo, será preciso olhar a Cristo na cruz, isto é, crer que Ele é o Filho único. Ficar-se-á então purificado graças à água do seu lado traspassado. Ele tem em si a vida e a dá aos que nele creem. Esta vida é simbolizada pela água e alimentada pela palavra. (explicação bíblica – Bíblia de Jerusalém.

 

Referência: LOPES, Raymundo. Jesus com Nicodemos I: Jo 3, 1-21. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 96.

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