Jo 1, 29-34; Mt 3, 13-17
O Batismo de Jesus nos é apresentado aqui por dois evangelistas: Mateus e João, que têm visões diferentes desse fato. Mateus o descreve com a ótica da Igreja humana, enquanto João Evangelista o faz com a ótica da Igreja divina.
Mateus nos conta que João Batista questiona Jesus, ao dizer: "Eu é que devo ser batizado por Ti e vens a mim? Jesus, porém, respondeu-lhe: Por enquanto deixa como está, pois assim nos convém cumprir toda a justiça."
É a visão da Igreja humana, aquela que questiona o óbvio, pois Jesus foi até o rio Jordão para ser batizado com água, isto é, com o batismo humano. E não deu maiores explicações a João Batista sobre aquela situação, falou apenas que era necessário, naquele momento, que fosse feito daquela forma. Portanto, o batismo visto por Mateus é o batismo da água, que conhecemos na Igreja humana.
João Evangelista vê o episódio destacando as seguintes palavras de João Batista: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim, vem um homem que passou à minha frente porque existia antes de mim". Essa é a declaração da Igreja divina de que Jesus é o enviado de Deus.
Percebemos que João Evangelista muda a ótica completamente, embora falando do mesmo acontecimento, pois em sua narrativa João Batista diz: "…este é que batiza no Espírito Santo". Enquanto em Mateus ele fala, antes de se encontrar com Jesus: "Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo". Este fogo (instrumento de purificação) é a ascendência do Espírito Santo sobre a Igreja divina.
João Evangelista nos mostra que Jesus sabia o que estava fazendo e João Batista também. Portanto, o batismo descrito tanto por Mateus quanto por João Evangelista é o mesmo.
A Igreja humana questiona e tem a seguinte sensação: se tendes mais poder do que eu, então fazei vós o que é preciso.
Já a Igreja divina tem a seguinte sensação: se tendes o poder, dou graças a Deus por isso.
Na mesma situação, um vê Jesus como o Cordeiro de Deus e o outro o questiona: Por que não sou eu a ser batizado? Esse questionamento é a nossa caminhada na matéria, no racionalismo. Muitas vezes recebemos a graça e nem percebemos. Às vezes percebemos, mas a questionamos e ainda achamos que não a merecemos.
Na verdade, não merecemos a graça de Deus; não fomos criados para depender dela. Ele nos criou em estado puro e perfeito. Assim nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram colocados no Paraíso, condição que perderam pelo pecado. Só então passamos a depender da graça de Deus.
Também não podemos dizer: eu não mereço a graça de Deus, senão O ofendemos, pois, se Ele nos dá, é uma dádiva, e Ele sabe o que está fazendo. É ainda o mesmo que disséssemos ao receber um presente de que precisamos: Não, muito obrigado, eu não preciso ou não mereço este presente. A graça é algo de que necessitamos, não tem porque rejeitá-la antecipadamente por não nos acharmos merecedores. Nascemos sem merecer nada, mas não devemos rejeitar ou questionar quando Deus nos dá a graça.
Referência: LOPES, Raymundo. Eu é que devo ser batizado por Ti e vens a mim?: Jo 1, 29-34; Mt 3, 13-17. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 54.