Por que os Bispos temem os jovens tradicionalistas?

Catequese
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Hoje em dia não é raro que associem o conservadorismo moral e o tradicionalismo teológico a doenças mentais. É tempo de identificar mais claramente essas concepções estereotipadas e contestá-las.

Joseph Shaw.

LifeSiteNews, 09 de outubro de 2018.

[https://www.lifesitenews.com/blogs/why-do-bishops-fear-young-traditionalists].

Tradução. Bruno Braga.

 

Apesar do fato de a sua diocese ser terrivelmente pobre em vocações, o Bispo Gunn, de Münster (Alemanha), deu a recente declaração: “Eu afirmo decididamente que não me importo com os tipos de clérigos pré-conciliares, e eu também não vou consagrá-los” [1].

Essa não é uma atitude incomum, e não está limitada à Alemanha. Eu ouvi histórias do seminário de St. Cuthbert’s College, em Ushaw, Inglaterra, e que agora está fechado por falta de interessados. Os superiores estavam tão preocupados em eliminar a mentalidade conservadora dos candidatos ao sacerdócio que observavam até como eles postavam as mãos durante a Missa. Se as colocassem de forma orante, isso era registrado como ponto contra eles. Os seminaristas se reuniam nos quartos para rezar o Rosário em segredo, por temerem que essa atividade subversiva pudesse causar-lhes problema, e escondiam livros de teologia de Joseph Ratzinger.

Essa atitude parece ir além de uma simples questão de discordância teológica. Sinais de conservadorismo são considerados como sintoma de lepra e, de fato, não raro se ouve a comparação do conservadorismo e do tradicionalismo teológicos com a doença mental. É preciso dizer que essa atitude é menos radical, pelo menos na Inglaterra, do que acontecia na geração passada; mas ela não desapareceu, e é espantoso que um Bispo alemão a abrace tão abertamente.

Embora me falte qualquer informação especial sobre o Bispo Gunn, acho que posso lançar luz sobre o fenômeno como um todo. A linguagem comumente utilizada para se referir aos jovens conservadores e tradicionalistas – “rígidos”, “conformistas”, “autoritários”, “clericalistas” – está relacionada às tendências na psiquiatria que foram influentes nas décadas após a Segunda Guerra Mundial. Aqui está uma típica descrição da “personalidade autoritária”, publicada em 1970 (Peter Kelvin, The Bases of Social Behaviour):

Essas tendências refletem sobre um tipo de indivíduo que tem a necessidade de sentir que o seu ambiente é altamente previsível… ele precisa saber onde está; então ele se apega às normas: ele não “se deixa levar”, por medo de onde possa ser conduzido; ele olha para a autoridade como um guia… Ele também se apoia fortemente sobre os estereótipos na sua percepção do meio social. Além disso, os estereótipos utilizados por uma personalidade autoritária tendem a ser muito evidentes, e a inflexibilidade característica dessa personalidade conduz à relativa inabilidade para modificar o estereótipo, uma vez que ele está formado.

No contexto atual – o da revolução sexual em curso – aqueles que não querem “deixar-se levar”, que “se apegam às normas” e “olham para a autoridade” são meramente conservadores sociais. O autor quer associar essa moral ou posição ideológica ao “autoritarismo”. Uma das figuras-chave dessa vertente da Psiquiatria, Theodor Adorno, a associa ao Nazismo. A associação é feita pela afirmação, que é o ponto-chave dessa visão, de que a verdadeira razão pela qual aquela pessoa adota atitudes socialmente conservadoras é a debilidade psicológica. Eles “precisam saber onde estão”, eles querem um “ambiente previsível”, pois têm egos frágeis, falta-lhes auto-confiança: em suma, eles têm medo.

O Papa Francisco também parece ter sido influenciado por essa visão. Disse ele sobre os jovens que gostam da Missa Tradicional:

Eu me pergunto: Por que tanta rigidez? Escave, escave, essa rigidez sempre esconde algo, insegurança ou até algo mais. Rigidez é defesa. O amor verdadeiro não é rígido [2].

A dificuldade com essa visão é que não há necessariamente conexão entre o conservadorismo social e a aprovação tranquilizadora do ego dos superiores e pares, que é tipicamente procurada por pessoas sem auto-confiança. Desde que a revolução sexual começou com a elite social e educacional, e foi disseminada pelas outras classes sociais, teria sido insensato em qualquer estágio dessa história assumir que os seus adversários estavam buscando favores do establishment, ou que os seus partidários estavam corajosamente arriscando sua posição na sociedade. Na década de 1980, um jovem que falhasse em seguir as novas regras arriscava ser um pária da sociedade. Esse não é o caminho preferido por quem nutre insegurança.

O mesmo vale para o conservadorismo teológico em muitos seminários hoje. O Bispo Gunn deixa potenciais seminaristas sem a menor dúvida: a evidência de tendências “pré-conciliares” irá acabar com as suas chances de ordenação.

Parte do pano de fundo para essa teoria psiquiátrica é a afirmação de Freud de que pessoas que estão sexualmente em castidade são “reprimidas”. Freud sugere que energias sexuais contidas podem romper em histeria, depressão ou violência. Essa afirmação, no entanto, não tem base empírica, e é obviamente incompatível com o ensinamento católico.

Quantos Bispos, diretores vocacionais e reitores de seminário ainda nutrem e acolhem a visão de que jovens que resistiram à pressão dos pares para manter a sua integridade sexual, ou para uma vida espiritual contra-cultural, devem por essa razão ser psicologicamente debilitados? É hora de tais ideias serem mais claramente identificadas e contestadas.

NOTAS.

[1] Cf. [ https://www.lifesitenews.com/news/german-bishop-i-will-not-consecrate-men-wanting-to-be-traditional-priests ].

[2] Cf. [ https://www.catholicworldreport.com/2016/11/14/digging-into-pope-francis-remarks-about-the-old-latin-mass-rigidity-and-insecurity/ ].

 

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