Por que o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, decidiu participar da reunião no controverso Clube Bilderberg? O Vaticano dá as suas explicações.
Infovaticana, 20 de junho de 2018.
[https://infovaticana.com/2018/06/20/que-pintaba-parolin-en-bilderber-la-explicacion-vaticana/].
Tradução. Bruno Braga.
O Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, aceitou o convite para falar no controvertido e hermético encontro do Clube Bilderberg, realizado no início deste mês, para transmitir o ensinamento da Igreja a um grupo de pessoas que de outra forma não teriam a oportunidade de conhecê-lo – foi o que disse um oficial do Vaticano ao Register.
Esse oficial, que preferiu o anonimato, disse que os organizadores italianos da reunião insistiram com o cargo do Vaticano mais importante depois do Papa Francisco para que participasse do evento deste ano, que aconteceu em Turim entre os dias 07 e 10 de junho,
“O Cardeal decidiu participar da reunião após os organizadores italianos o convidarem insistentemente durante seis meses”, explicou o oficial. “Refletiu sobre isso durante muito tempo e, depois de consultar pessoas adequadas, decidiu ir”.
Os temas do debate nesta 66ª edição da reunião do Clube Bilderberg incluíam “o populismo na Europa”, “o desafio da igualdade” e “o mundo na era da ‘pós-verdade’” [1].
As reuniões do Clube Bilderberg começaram em 1954, no Hotel de Bilderberg, em Oosterbeek, Holanda, e são motivo de controvérsia por causa de sua natureza hermética e sua suposta agenda globalista, que, segundo os críticos, tem como objetivo as fronteiras abertas e o governo mundial.
Os organizadores, porém, passam a ideia de uma organização positiva, na qual políticos, homens de negócio, estudiosos e meios de comunicação se reúnem para “fomentar o diálogo entre a Europa e a América do Norte” sobre as principais questões que o mundo enfrenta [2].
Os encontros são realizados sob a “Regra de Chatham House”, que estabelece a liberdade dos participantes para utilizarem a informação recebida, mas não podem revelar nem a identidade nem a filiação de nenhum dos oradores ou participantes.
A organização, atualmente dirigida pelo homem de negócios francês Henri de Castries, sustenta que a natureza privada das reuniões facilita que os participantes “não se sintam amarrados às convenções de seus cargos ou a posições acordadas previamente”, permitindo a eles assim “tomar o tempo necessário para escutar, refletir e reunir opiniões”, porque “não há consequências”.
Nos seus comentários para o Register de 15 de junho, o oficial do Vaticano destacou que Parolin “não pediu para participar” da reunião, mas decidiu ir após “amplas consultas”. Disse que não sabe por que os organizadores insistiram tanto, salvo pelo motivo de que a voz do Papa Francisco é “uma voz importante” no cenário mundial.
O Secretário de Estado do Vaticano participou por “pouco tempo, uma hora e quarenta e cinco minutos, aproximadamente”, durante a qual proferiu um discurso sobre a “Doutrina Social da Igreja”, seguindo-se um tempo para perguntas e respostas.
É óbvio que o Papa estava informado da participação do Cardeal, afirmou o oficial, e também que o Cardeal “era plenamente consciente da natureza controvertida” da reunião, mas o que o motivou a ir foi o fato de que já conhecia muitos dos participantes “em outros contextos”.
“Já conhecia algumas das pessoas, primeiros ministros e demais”, declarou o oficial.
A existência da reunião do Clube Bilderberg começou a ser difundida sobretudo a partir de 2010, quando foi criado o seu website. Até então os supostos participantes haviam negado a existência desse evento anual, apesar de a organização afirmar que foram preparadas coletivas de imprensa na véspera de cada encontro “por décadas até os anos 1990”, mas que foram suprimidas por causa da “falta de interesse” [3]
A cobertura dos meios de comunicação segue proibida, e com o propósito de fomentar o diálogo, embora personalidades da imprensa tenham sido convidadas a participar do encontro.
Personalidades de primeiro nível participaram desse encontro ao longo dos anos, como Henry Kissinger, George W. Bush, Bill e Hillary Clinton, a chanceler alemã Ângela Merkel, o ex-Primeiro Ministro britânico Tony Blair e o antigo presidente executivo do Google, Eric Schmidt. Entre as personalidades dos meios de comunicação, participaram neste ano, como em anos anteriores, a colunista do Wall Street Journal, Peggy Noonan, e o editor-chefe da Bloomberg TV, John Micklethwait.
O oficial do Vaticano minimizou a importância da questão da natureza hermética da reunião, afirmando que a “Regra de Chatham House” é muito conhecida e utilizada em outros eventos. “Outras reuniões utilizam a mesma regra”, disse. A reunião do Bilderberg afirma que os participantes têm liberdade para falar sobre o encontro, e o fazem a cada ano; pede-se apenas que não citem uns aos outros.
Algumas pessoas especularam que na reunião deste ano o debate seria centrado em como desbaratar os planos dos movimentos populistas e nacionalistas, cada vez mais presentes, como demonstra a eleição de Donald Trump para Presidente, o Brexit ou as recentes eleições na Itália, que viram a ascensão dos partidos populistas ao poder.
O oficial do Vaticano declarou “que não podia dizer mais nada” sobre a questão, reiterando que o Cardeal havia ido “apenas para transmitir a Doutrina Social Católica” e para “levar a voz da Igreja a pessoas que de outra forma não a ouviriam”.
Apesar do oficial não ter participado da reunião com o Cardeal, ele afirmou que o seu discurso e suas observações “foram bem recebidos”.
O Register entrou em contato com a reunião do Bilderberg para perguntar por que os organizadores haviam insistido tanto na participação do Cardeal e se o propósito era promover a agenda globalista, mas não obteve resposta.
(*) Publicado por Edward Pentin no National Catholic Register [4].
NOTAS.
[1]. Cf. [http://www.bilderbergmeetings.org/meeting_2018.html].
[2]. Cf. [http://www.bilderbergmeetings.org/index.html].
[3]. Cf. [http://www.bilderbergmeetings.org/frequently-asked-questions.html].