Nossa Senhora dá esclarecimentos a Raymundo sobre a agitação e a dispersão no momento do recebimento das mensagens semanais. “Você é o depositário da Obra Missionária, e tem por isso, sob a sua pessoa, a responsabilidade de resguardá-la para que não caia na confusão e no descrédito”.
24 e 26 de julho de 1995
Na noite do dia 24 eu estava na casa do Antônio e da Maria do Carmo Ageu para receber a mensagem de Nossa Senhora. Cheguei por volta das 22 horas e percebi uma certa agitação que me incomodava. Pedi silêncio às pessoas, caso contrário voltaria para a minha casa, onde receberia a mensagem em clima de tranquilidade, como de costume.
Por algumas vezes, concordei com a presença de missionários e de outros convidados, para lhes mostrar como isso acontecia e para que tivessem a graça de estar presentes enquanto a Mãe de Deus falava. Eles se reuniam mais cedo, para ficar em vigília até a chegada de Nossa Senhora. Geralmente traziam objetos para serem abençoados, bilhetes com pedidos ou perguntas, que eram colocados em cima da mesa em que eu aguardava para escrever a mensagem. Porém, das últimas vezes tenho observado pessoas estranhas, com sentido de curiosidade, prejudicando as disposições necessárias para um momento tão singular. E isto me deixava preocupado.
Nesta noite, além da agitação, tinha pessoas filmando, tirando retrato etc. Tão logo Nossa Senhora chegou e começou a ditar a mensagem, perdi o sentido por alguns instantes. Recobrando-o, não me dava conta do que havia acontecido, e continuei escrevendo o que ouvia.
Lembro bem que logo de início a Mãe de Deus me pediu que colocasse o espírito em Deus o quanto pudesse, porque eu corria risco de dispersão. Alertou-me para o fato de estar diante de Jesus Sacramentado, o que me exigiria muita atenção nas suas palavras.
Depois da mensagem, Ela me pediu que retirasse Jesus Sacramentado dali o mais rápido possível. Sem saber o motivo, apanhei a pasta com a mensagem e acompanhei o padre Rubem até a pequena sala onde ficava o Sacrário, deixando ali o Santíssimo.
Em seguida passei a pasta à minha esposa e me dirigi ao grupo para ler a mensagem daquela noite. Foi quando, surpreso, soube que havia falado algumas coisas com sotaque diferente enquanto recebia a mensagem, e não me lembrava de ter dito nada. Embora estranhasse, não dei maior atenção ao fato. Cheguei em casa por volta das 2:30 da manhã e fui dormir.
Pela manhã do dia 25, estávamos no SIM1 colocando a mensagem no computador, para difundi-la no país através do fax, quando chegou o missionário Ediwal José de Morais com o filme da noite anterior. E qual não foi a minha surpresa quando observei, a pedido dele, que a mensagem escrita começava com a saudação “Meus filhos amados”, e no filme estava “Meus amados filhos”.
Assustado, por já ter sido literalmente enganado pelo Diabo, quando quase passei às pessoas uma mensagem falsa, resolvi pedir ajuda a Nossa Senhora para desvendar a questão. O que havia acontecido? Receava que tal fato levasse descrédito à Obra. Tenho minha consciência limpa, mas a máquina não mente, e lá estava a divergência. Era para mim um fato tão grave que decidi pedir socorro à Virgem Maria.
Entrei imediatamente em jejum e coloquei o meu espírito em Deus. À noite, apesar da ansiedade, fui dormir, vencido pelo sono por ter deitado tarde na noite anterior.
Acordei pela madrugada, e num impulso irresistível fui à sala rezar. Roguei então a Nossa Senhora: “Por favor, minha Mãe Santíssima, me ajuda… o que aconteceu ontem? Eu ofendi Jesus e a Senhora estando disperso, por isso aconteceu aquilo? Por favor, minha Mãe, me escuta… vem até mim… não me abandone esta noite…”.
Então, como que por encanto, a sala foi tomada de vozes cantando, como fazem os anjinhos anunciando a chegada de Nossa Senhora. Um suave perfume me envolveu, e ouvi a sua voz inconfundível:
– Meu filho, esperava que me chamasse, por isto estou aqui. Esta noite vai ser decisiva e importante para a continuidade dos nossos diálogos e das minhas mensagens. Você foi escolhido para ser o intérprete delas ao mundo. Isto envolve uma enorme responsabilidade com a qual tenho notado uma displicência sua, e isto coloca em risco a sua continuidade.
– Nossa Senhora, me perdoa… o que eu fiz?
– Por diversas vezes já lhe falei a respeito e chamei a sua atenção pela dispersão, razão pela qual escolhi o silêncio da noite para transmiti as mensagens. Por diversas vezes você se deixou envolver e permitiu que elas fossem objeto de curiosidade, e também permitiu que expusesse Jesus sem o devido respeito à sua excelsa Pessoa. Você é o depositário da Obra Missionária, e tem por isso, sob a sua pessoa, a responsabilidade de resguardá-la para que não caia na confusão e no descrédito. Você permitiu que o demônio interferisse, e isso se deu devido à sua fraqueza em não atender o meu insistente pedido para que se interiorizasse. Você permitiu que o demônio, utilizando a sua dispersão, trocasse as minhas palavras, mas Deus, vigilante, mandou seus anjos para que no papel isso fosse corrigido. E isso teve que ser feito devido à sua irresponsabilidade diante do divino.
– Senhora, me disseram que falei durante a mensagem, e as pessoas que ouviram argumentaram que era a Senhora que falava através de mim. Isso se deu devido ao que foi relatado acima?
– Sim, tive que intervir energicamente para que Satanás se retirasse dali, e lhe advirto que isso não poderá acontecer mais.
– Mas, Senhora, Jesus estava presente, como é que ele tem força para nos tentar?
– Jesus é o poder contra todo Mal, o incorruptível, o santo, e ali estava revestido de glória. Vocês, tomados pela dispersão e pela total falta de respeito, abriram uma brecha para que o demônio tomasse conta da situação. Desejo você inteiramente entregue à minha mensagem nas terças-feiras, razão pela qual lhe peço, por mais uma vez: interiorize-se, e peça para que todos o façam.
Em seguida os anjinhos começaram a cantar, sinal de que Nossa Senhora tinha ido. Eu ainda permaneci por um tempo na sala, envergonhado pelo que ocorreu e com a promessa no coração de que isso não aconteceria mais, custe o que custar.
1 Serviço de Informação Mariana.
Referência: LOPES, Raymundo. Interiorize-se, e peça para que todos o façam. In: LEMBI, Francisco (Org.). Diálogos com o Infinito. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 75-77.