Raymundo tem uma experiência confusa e desagradável com a visão de três supostos jardineiros, um suposto Francisco Lembi e uma suposta Bá. Francisco tenta lhe devolver um livro do “Catecismo Leigo”. “Não quero mais corrigi-lo e nem participar dessa história. E se você deseja continuar comigo, tem que fazer o mesmo”.
13 de janeiro de 2008
Neste dia, lá pelas 10 horas da manhã, eu estava elaborando no computador o roteiro para a Missa das 17 horas, quando chegou por trás de mim a Bá1. Estava muito assustada, dizendo que o Francisco2 queria falar comigo no portão.
– Fale com ele para vir aqui – eu respondi.
Ela me disse que tinha tentado fazer isso, mas o Francisco não queria entrar. Achei estranha a atitude dele e resolvi descer. Chegando ao portão, vi três homens trabalhando no jardim. Eu não tinha contratado ninguém; ainda mais três… Não tinha cabimento uma atitude dessas, mas resolvi focar a minha atenção no Francisco.
– O que é isso, Francisco?… Vamos entrar.
– Não, você hoje contratou pessoas para me impedir.
– Eu, impedir?… Como?…
E fui logo tentando segurar na mão do Francisco, procurando convencê-lo a entrar, quando um dos homens que trabalhava no jardim me interrompeu:
– Não faça isso!
– Quem é você? – eu perguntei surpreso. Por que está aqui trabalhando no jardim? Não o conheço!
O homem, sem me responder, voltou ao trabalho. Reparei que o Francisco tinha nas mãos um livro, o “Catecismo Leigo”. Ele me disse em seguida:
– Estou lhe devolvendo este livro. Não quero mais corrigi-lo e nem participar dessa história. E se você deseja continuar comigo, tem que fazer o mesmo.
Quando fui pegar o livro, outro dos três homens me interrompeu:
– Não faça isso!
Eu, sem entender, mesmo porque a situação era igual à primeira, limitei-me a obedecer, e o homem voltou ao trabalho. Queria compreender o que estava acontecendo, mas era difícil. Alguma coisa me impedia de tomar decisões racionais, e isto estava me incomodando. Foi quando uma borboleta azul tentou pousar na cabeça do Francisco, mas ele se debateu todo, procurando impedir que a borboleta fizesse isso. Eu então o interrompi:
– O que é isso, Francisco?… Não estou reconhecendo você.
Estiquei o braço e a borboleta pousou na minha mão. Com a borboleta na mão, quis fazer com que ela ficasse no ombro do Francisco, quando vi a mão do terceiro pressuposto jardineiro me interromper:
– Não faça isso!
Nessa hora vi a Bá se aproximando, e sem titubear fui logo perguntando a ela:
– Quem contratou esses homens?
– Fui eu. Mas não como jardineiros, mas para protegê-lo.
– Proteger de quê?…
– Para que você não encoste a sua mão na mão dele; para que você não aceite o livro; e para que você não se pactue com ele por meio da borboleta.
– Meu Deus, que doideira! – exclamei.
Quando falei “Deus”, vi que o Francisco não era o Francisco. Ele tentava me atacar, quando os três homens interferiram e a pressuposta Bá foi com a mão estendida chegando perto dele e dizendo para mim:
– Fale “Deus”, fale “Deus”, fale “Deus”.
Eu ia falando o que ela me sugeria. O ambiente ficou totalmente tomado pelas asas da borboleta no meu braço e tudo começou a ficar azul. Fui ficando sem forças, quando vi então que os homens me amparavam e me levavam de volta, assentando-me no sofá da sala.
Pouco depois voltei ao portão, mas não vi mais nada. Procurei a Bá, e ela não sabia de nada.
Foi uma experiência terrível. Quero esquecê-la, mas não consigo.
1
2 Francisco Lembi.
Referência: LOPES, Raymundo. Três Jardineiros. In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 55.