Terceira tentativa: dia de Santo Agostinho
O grupo missionário se reúne para um tríduo na Capela Magnificat. Mais uma vez a oração dos pequenos salva a vida do papa João Paulo II, evita que se instale o “caos” e “modifica o curso da Igreja”.
30 de agosto de 2003
No dia 16 de junho de 1996 tive um sonho bastante estranho, em que ouvi:
– Com Marte adverso, a monarquia do grande Pescador terá problemas ruinosos. O jovem rei vermelho tomará o governo. Os traidores agirão num dia brumoso.
Agora, sete anos depois, vi uma reportagem no jornal dizendo que no dia 28 de agosto o planeta Marte estaria em oposição ao Sol – Marte adverso. Conversando com o Francisco Lembi, resolvemos fazer um tríduo pedindo a Deus pelo papa, para que nada lhe acontecesse nesse dia. Estávamos convencidos de que se tratava de uma revelação. Algo havia por trás disso, uma possível trama contra a vida de Sua Santidade.
Decidimos então convocar o grupo missionário para um tríduo nos dias 25, 26 e 27 de agosto. Eu estava com uma viagem já programada para Barretos, São Paulo, nesse período, o que me impossibilitaria de estar presente, mas não falei isso a ninguém, para evitar polêmicas.
Assim, o tríduo começou sem a minha presença. Sua programação foi composta do Rosário e de uma oração que me fora inspirada pelo Espírito Santo especialmente para esse momento. No primeiro dia do tríduo, uma segunda-feira, eu participava de uma Missa em Barretos, na festa do Peão Boiadeiro, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Estava inquieto. Pedi então a Nossa Senhora ali mesmo:
– Por favor, Senhora, me dê um sinal se estou agindo certo faltando a esse tríduo.
A resposta foi imediata. O anjo que compunha o andor da imagem caiu, espatifando-se no chão. Compreendi o recado, e me veio à lembrança aquilo que o Diabo me tinha dito, por três vezes, no dia 11 de setembro de 2000:
– Você não chegará lá!
Era isto… Eu não chegaria a fazer esse tríduo para evitar a terceira tentativa de assassinato de João Paulo II. Não titubeei, e retornei a Belo Horizonte a tempo de estar com os missionários nos dias 26, 27 e 28, dia que nos parecia ter sido escolhido para a execução do plano satânico.
No dia 26, durante a reza do Rosário, eu escutava as pessoas murmurando coisas em pensamento. Estavam preocupadas se as orações surtiriam efeito, e alguém pedia proteção divina para a operação que iria fazer. Interrompi então as orações e pedi que colocassem o pensamento em Deus, com a intenção que nos havia levado àquela reunião.
Pouco depois, por uma fração de segundos, vi um corredor enorme, cheio de mapas na parede, e um guarda com roupagem colorida, típica dos que prestam serviço no Vaticano. Apressadamente chegou a ele um senhor de meia-idade, vestido de batina vermelha, e entregou-lhe um cartão branco no qual havia uma rosa vermelha estampada com a palavra “Domani”1. Essa pessoa seguiu adiante, entrou numa segunda porta e desapareceu.
Evitei falar com os missionários sobre o que tinha visto.
No dia 28 rezamos em ação de graças, pois eu estava certo de que tudo havia corrido bem com o papa. Nossas orações tinham sido suficientes para evitar uma tragédia na Igreja, com consequências para toda a humanidade. Nesse dia, terminando as orações, vi nitidamente um quarto grande, com uma cama espaçosa e cortinas enormes nas janelas. Um homem dormia profundamente, e Nossa Senhora o cobria com o corpo, enquanto, próximo de uma das janelas, um homem a olhava com uma expressão de raiva. Deus, mais uma vez, estava agindo através dos pequenos para confundir os grandes.
Nessa noite fui deitar depois das orações, mas o sono só me veio por volta das três horas da manhã. Já era o dia 29. Dormi e tive um sonho estranho. Me vi no meio de muita gente em uma sala grande, toda revestida de madeira. No centro da sala havia três cadeiras. Na primeira, à direita, estava sentado um homem de túnica branca. Percebi que era Jesus, pois já o tinha visto antes, em Cachoeira2 e na Praça do Papa3. No centro estava Nossa Senhora e no lado esquerdo um homem também de túnica branca, que identifiquei como o mesmo que vira no portão da minha casa no dia 23 de dezembro de 19994, e portanto era o demônio.
Jesus falou:
– Minha doce e santa Mãe, sabes que nada te nego, e atendendo ao teu pedido, aqui estamos. Fala o que tens a dizer.
Nossa Senhora, cabisbaixa, levantou os olhos e disse:
– Meu divino Filho, sei que nada me negas, pois a pedido meu colocaste no trono de Pedro aquele que escolhi.
– Sim, minha Mãe, coloquei no trono de Pedro o escolhido por ti.
– Agora desejo que permitas que Eu o ampare, pois Wojtyla5 corre perigo pela terceira vez.
– Onde vês perigo pela terceira vez, minha doce e santa Mãe?
– Naquele que te tentou, quando estavas em jejum por quarenta dias no deserto terreno.
Nisto o homem que me pareceu ser o demônio levantou:
– Tenho o direito de uma interferência!
– Sim, tens, porque te dei este direito. Fala – disse Jesus.
– Está escrito que sobre o que fundaste na Terra eu não teria direito, mas não está escrito nada sobre o que eu pudesse fazer com aquele escolhido por tua Mãe terrena. E se este é o meu reino, exijo o direito de tentá-lo e tentar aqueles aos quais tenho acesso, para que lhe tirem a vida.
– Sim. Também está escrito que por direito minha doce e santa Mãe pode escolher aquele que pedirá a minha intervenção. E Eu concedo a Ela esse direito.
Voltando-se para Nossa Senhora, Jesus perguntou:
– Minha doce e santa Mãe, a quem escolhes para essa tarefa?
– Desejo que o pedido de tua interferência divina e misericordiosa venha de Daniel.
– Minha doce e santa Mãe, tens o discernimento de ser essa a pessoa indicada?
– Sim, tenho, porque Daniel é o mais fraco e o que aparenta menor possibilidade de ganho nesta tarefa de amparar Wojtyla por meio de orações a ti, meu divino Filho.
– Se assim achas, por que o escolhes?
– Porque Eu o conheço, sei como me ama, e se me ama, ama também a ti, meu divino Filho. É o meio que achei para provar àquele que te tentou durante o teu jejum terreno que será por meio dos fracos e defeituosos que o teu poder se manifestará.
– Tens santos ao teu dispor na Terra, que também te amam. Por que escolhes entre os piores?
– Porque Tu mesmo me deste a tarefa de transformá-los, para que pudessem responder por essas tarefas.
– Que assim seja feito. O teu desejo é o meu desejo – afirmou Jesus.
Eu, na plateia, procurava ver quem era esse Daniel, quando vi Nossa Senhora levantar e se dirigir a mim:
– Daniel, chegou a hora de mais uma vez estar ao meu lado. Todo o poder a mim dado por meu divino Filho me confere o direito de agraciá-lo com o pedido para que ore a Deus por Wojtyla. Se o fizer bem, será modificado o curso da Igreja; caso contrário, será estabelecido o caos.
– Senhora, eu não me chamo Daniel – respondi com firmeza.
– Daniel, Daniel… não traga sobre você o descontentamento do Senhor.
Neste momento acordei suado, apesar do frio que fazia, e fiquei pensando: “Será possível que isto está acontecendo?… Como posso eu interferir no curso da história da Igreja?…”
No dia 28 nada havia acontecido ao papa, graças a Deus, e a interferência, para que nada o ferisse, ficará para sempre nos mistérios insondáveis de Deus. Não nos cabe provar nada, mas apenas dar graças por sermos instrumentos nas mãos do Senhor Jesus, que escolhe os fracos e defeituosos para confundir os sábios e poderosos.
Pela manhã do dia 30 de agosto, por volta das 5:30 horas, desci à capela encucado. Faço tudo pela Igreja, trabalho para que tudo corra bem, amo a Jesus e Maria, enfrento padres, bispos e cardeais para que acreditem que Deus está no meio de nós e que dele nada podemos esconder, que devemos ser cristalinos em nossos pensamentos, que o nosso “sim” deve ser “sim” e o nosso “não” deve ser “não”. Não levo em conta as bobagens que falam de mim. Tenho uma vida simples. Por que Jesus me classifica entre os piores? Então, quem são os melhores?… Aproximei-me do altar, coloquei a mão na porta do Sacrário, e pedi:
– Senhor Jesus, já que o Senhor me classifica entre os piores, posso saber então quem são os melhores?
Como não houve resposta, saí pela rua afora, sentindo o frio da manhã ainda quase escura. Queria espairecer as minhas ideias; estava me sentindo derrotado. Havia uns cinco minutos que andava, quando vi ao meu lado o “garoto” que sempre me aparece. Olhando-me, ele falou:
– O Senhor Jesus me ordena que ande com você.
– Por quê?
– Ele tem planos para os piores! – exclamou o anjo.
– E para os melhores?
– Já foram concluídos.
– Olha, não sei se você é anjo, espírito, qualquer outra coisa, só sei que não estou entendendo mais nada. Você vem aqui, conversa comigo, me pede coisas, me chama a atenção, ninguém o vê. Passo os piores momentos por causa disso tudo e, desde o início, nunca pedi que essas coisas acontecessem comigo. Por que fazem isso comigo?… Por que então o Senhor Jesus e sua Mãe não procuraram de uma vez os melhores?…
– Daniel, Daniel… não traga sobre você o descontentamento do Senhor! – exclamou o anjo.
– Não me chame de Daniel, por favor. Fui batizado com o nome de Raymundo, e se você não sabe, me chamo também Luiz, Raymundo Luiz. E para arrematar, já ouvi essa frase umas três vezes!…
– Me dê a sua mão.
– Não, você mesmo me disse para não tocá-lo.
– Agora lhe digo para tocar a minha mão.
Com medo, toquei nas mãos do menino. Foi como um choque elétrico, mas agradável, e me senti num local aquecido e protegido, como se estivesse trancado em uma redoma. Percebi então que estava no meio de muitas coisas acontecendo: pessoas sendo assassinadas, milhares de abortos, doentes sem esperança, pessoas sendo espancadas, mendigos, mães aflitas à procura de seus filhos, multidões sendo condenadas por crimes que não cometeram. Era o caos; nunca vi tanto sofrimento.
– O que é isso?… – perguntei ao garoto.
– São os melhores – ele respondeu. A sabedoria divina não é compatível com o discernimento humano. E o fato de você ser classificado entre os piores não o exclui da graça de escolha da doce Senhora, e a força do Senhor está sobre você. O sofrimento dos melhores fornece à doce Senhora o poder de o escolher para as tarefas necessárias. O que ultrapassa os limites da sua compreensão pertence aos desígnios divinos, e não será revelado nem a você e nem a ninguém.
– Alguns desses melhores podem fazer esta tarefa de salvar o papa, ou coisa parecida? – perguntei.
– Se for da vontade da doce Senhora, que é o reflexo da vontade do Senhor Jesus, podem. Mas cabe a eles o poder de escolha, porque pertence a eles a sabedoria espiritual para que isto se realize. Já viu o que lhe interessa, para compreender o seu lugar no contexto desses fatos que acontecem com você?
– Vi, mas continuo não entendendo.
– A compreensão ficará para mais tarde. O importante é que não negue nunca nada à doce Senhora.
– Você sabe que eu não nego.
– Pedro disse isso ao Senhor Jesus – replicou o garoto.
E depois continuou:
– Não, não sei. Vamos voltar, porque já é dia. Vá e escreva isso, porque será importante mais tarde.
Dizendo isto, o anjo retirou a sua mão da minha, e eu me vi sozinho na rua, sentado no meio-fio da calçada. Um carro estava estacionado ao meu lado, com um casal desconhecido me perguntando se eu estava me sentindo mal.
1 “Amanhã”, em italiano.
2 Aparição de 18 de setembro de 1993.
3 Aparição de 11 de fevereiro de 1997.
4 Diálogo O Anticristo.
5 Papa João Paulo II.
Referência: LOPES, R. Terceira Tentativa: Dia de Santo Agostinho. In: LEMBI, Francisco. O Terceiro Segredo: A Vinda de Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2005. p. 113-118.