Mc 3, 31-35
Este Evangelho é muito conhecido por refletir um ponto polêmico entre as Igrejas coirmãs, ao mencionar a expressão"irmãos e irmãs de Jesus". As pessoas que o leem e têm dúvida sobre esta questão, é porque desconhecem totalmente o contexto em que o fato ocorreu e a cultura dos judeus naquela época.
Naquela região, as línguas mais faladas eram o hebraico, o aramaico e o grego, culturas que tinham por hábito se referir ou se dirigir aos parentes chamando-os de irmão, irmã, primo ou patriota. Em hebraico usava-se a palavra "Ah" e em grego a palavra "Aha", ambas com o mesmo sentido: irmão, irmã, primo e patriota. Este é o motivo de tamanha dúvida, quando Jesus diz: "meus irmãos".
Daí surgiu a polêmica e a contestação ao dogma da virgindade de Maria. Jesus se referia a pessoas que realmente eram seus parentes e que estavam com Sua Mãe, mas que não eram, como alguns querem, Seus irmãos consanguíneos, o que Ele não tinha.
As Igrejas coirmãs tiveram início a partir de pessoas que protestavam contra algumas situações da Igreja Católica. Uma destas questões, além do dogma da virgindade de Maria, era o dogma da Imaculada Conceição. A dúvida surgiu exatamente na época em que havia na Igreja Católica uma ala contra a Imaculada. Estes fatos não são revelados, porque os protestantes querem fazer as pessoas acreditarem que Nossa Senhora, além de ter tido outros filhos, não fora preservada do pecado original. Quando Jesus disse: "Quem é minha mãe?" Ele quis dar um sentido espiritual a esta palavra. Mas alguns se apegam ao sentido literal da expressão, para dizer que Ele estava desrespeitando Sua própria Mãe, ou ainda – como acontece com os protestantes – para subtrair-lhe a grandiosidade que representa sua maternidade divina, em vista da qual foi privilegiada com esta graça singular.
Para entender o Evangelho é necessário conhecer os costumes e a cultura da época, não o interpretando à letra, ao pé da letra. Tudo o que foi dito por Jesus é muito importante, mas se perde quando não temos o devido cuidado com a sua leitura.
Ele estava aqui nos dizendo que temos uma família espiritual com o Altíssimo, somos todos irmãos em Cristo, com o qual formamos Seu Corpo Místico. Portanto, antes e acima dos laços familiares, temos um vínculo maior em Deus, do qual somos um projeto. Não podemos nunca nos esquecer disto, pois aí está "a grandeza de nossa origem e o sentido de nossa fé", como disse certo doutor da Igreja.
Portanto, primeiro temos um compromisso: conhecer Deus como Pai e fazer a Sua vontade. Isto é básico, primordial a todos nós.
Referência: LOPES, Raymundo. Os Verdadeiros Parentes de Jesus: Mc 3, 31-35. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 88.