Mt 19, 13-30
Jesus fala sobre o Reino dos Céus e faz comparações. A primeira comparação é quando diz: "Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus". Jesus afirma que para entrar no Reino dos Céus todos devem ser como crianças: simples, tranquilas, confiantes no pai e na mãe.
A segunda comparação é quando o jovem rico pergunta a Jesus: "Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?" Jesus primeiramente o repreende, dizendo que somente Deus é bom. Em seguida responde, dizendo: "Se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos. (…) Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra pai e mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo". O moço disse que já observava tudo isto e pergunta o que lhe falta ainda. Jesus lhe diz para vender tudo que tem, dar aos pobres e terá um tesouro nos céus. O moço então saiu pesaroso, pois era rico e não queria distribuir seus bens. E Jesus, comparando, diz: "É mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus."
Jesus segue ainda fazendo comparações sobre o Reino dos Céus. Divide toda a extensão da criação em: manhã, tarde e noite, citando uma vinha, que representa a Sua criação. Ele contrata os primeiros e os últimos operários com o mesmo pagamento. E aqueles (a razão) não aceitam, dizendo que foram contratados primeiro e trabalharam o dia todo. Se assim fosse, Moisés poderia reclamar, pois além de estar entre os primeiros a falar com Deus, tirou o povo do Egito, levando-o pelo deserto durante quarenta anos, e depois de quase 3.300 anos, no século XX, surge um vidente querendo o mesmo pagamento. Para aquelas pessoas, racionalmente, isto não é certo!
Em seguida, Jesus mostra a Sua justiça: "Amigo, não fui injusto contigo. Não combinaste um denário? Toma o que é teu e vai. Eu quero dar a este último o mesmo que a ti. Não tenho o direito de fazer o que quero com o que é meu?" Os primeiros contratados receberam o mesmo que os últimos. Tanto um quanto outro herdarão a vida eterna, o Reino dos Céus, pois esta é a Sua promessa para aqueles que o seguem. Nisto consiste a Sua justiça.
Jesus toca duas vezes no assunto de riqueza e dinheiro. Esse dinheiro do qual fala é a bondade divina, pois somente Deus é bom, o Criador de todas as coisas. E a criação é toda a exteriorização da bondade de Deus. Por isso somente Ele é bom, pois ninguém cria senão Ele. A criação é fruto da bondade divina.
Jesus fala também sobre o nosso comportamento, que não basta ser justo diante de Deus. Diz que, pela bondade de Deus, recebemos dons e muita coisa boa, que não bens terrenos; porém, se retemos tudo isso e não o compartilhamos, mesmo cumprindo os Dez Mandamentos, poderemos nos tornar um "camelo" e "não entrarmos pelo buraco de uma agulha", porque para entrar no Reino dos Céus, independente de credo ou cultura, a pessoa terá de distribuir os dons que Deus lhe deu.
A responsabilidade de todos é grande. Que o nosso sim seja sim e o nosso não seja não, pois até em nossa negativa é possível distribuir os dons que recebemos.
Jesus sintetizou a ideia do Reino de Deus, ao falar da vinha. O pai de família que saiu para contratar trabalhadores para a sua vinha: uns começaram pela manhã, outros às nove horas, outros ao meio-dia e às três horas da tarde, e um quinto grupo às cinco horas da tarde. Isto explica o início, o apogeu e o crepúsculo da criação. O prêmio da vida eterna não está condicionado ao quanto cada um fez. De Adão, passando por Moisés e todos os bem-aventurados o que fizeram foi o resultado da riqueza de Deus. E Ele distribui a graça igualmente. No curso da história, pode surgir um profeta maior que Moisés. Por isso Ele pede que prestemos atenção: "Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos." A profecia é fruto da bondade de Deus, que produz de acordo com o tempo. Um vidente, hoje, no contexto de Deus, pode ser o profeta dos últimos tempos e receber o mesmo que recebeu Moisés, com toda a sua luta de conduzir o povo pelo deserto, durante quarenta anos.
Deus distribui a Sua riqueza da maneira que quer, pois é fruto de Sua bondade. Jesus, sendo o próprio Deus, dividia a criação, que lhe pertence, e sabia dividi-la. E o maior exemplo da bondade de Deus na distribuição foi Ele mesmo, o Verbo encarnado, que se distribuiu à criação. Jesus demonstrou aquilo que falou: Eu sou o produto da minha própria vontade. É o Verbo encarnado.
Referência: LOPES, Raymundo. O Reino dos Céus e as Comparações: Mt 19, 13-30. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 108.