O Caminhar das Igrejas Humana e Divina I

Mc 10, 28-52

Nesta passagem do Evangelho de Marcos, a Igreja caminha com Jesus. Sim, a Igreja, pois quando se fala dos Doze (Apóstolos) é dela que se está falando. E na conversa ela quer saber o que Jesus acha dela mesma, o que realmente se passa, até onde pode ir, o que pode pedir. É uma Igreja indecisa. Por isso Pedro diz a Jesus: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. Jesus declarou: 'Em verdade vos digo que não há quem tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa ou por causa do Evangelho, sem que receba, agora, neste tempo, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, filhos e terras, com perseguições.'"

Jesus quis com isso dizer a Pedro: Vocês não são deste mundo. A Igreja não crescerá com base no racionalismo, mas na espiritualidade, pois assim está predestinada. Caso contrário, se apegará à casa, aos familiares, aos bens materiais e não terá um crescimento consistente, pois não é este o fundamento da Igreja.

A Igreja humana vai crescer apegada ao mundo, e por isso sofrerá.

Ainda que crescesse com desapego ao que é deste mundo, sofreria perseguições, porque seria contrariada nesta disposição, nesta entrega incondicional. Não contarão com a compreensão e reconhecimento das pessoas, no desprendimento às coisas deste mundo. Só é capaz de entender esta entrega, aquele que nascer de novo, do alto. A Igreja vai procurar crescer com base num racionalismo chamado Igreja humana (Pedro). Sofrerá, porque não estará alinhada com a Igreja divina. Não adianta se preocupar com o arroz e o feijão, quando sua missão é fornecer o alimento do espírito.

O Papa está preocupado, porque a Igreja está entrando muito em assuntos de política, em questões sociais – a Teologia da Libertação desvirtuada – e está se esquecendo do seu lado divino. Ele quer que abramos o nosso coração para o divino. Por que a Igreja hierárquica não diz que Jesus está voltando? Porque resolveu seguir ideias racionalistas.

É disto que podemos imaginar que o Papa esteja falando.

E Jesus conclui esta consideração sobre a Igreja humana, dizendo: "Muitos dos primeiros serão últimos, e os últimos serão primeiros." Jesus não está condenando ninguém, não está excluindo ninguém da Igreja, Está falando apenas do curso da Igreja nascente. No início, a Igreja quer ser a primeira, e aqueles que alimentarem nela essa ideia racionalista, serão os últimos. A Igreja caminhará no racionalismo. Mas no final dos tempos aqueles que perceberem que a racionalidade não é o caminho da Igreja, serão contados entre os primeiros; mesmo estando entre os últimos, entenderão que o racionalismo desvia a Igreja de sua verdadeira missão, por isso serão primeiros.

Primeiro Jesus falou com a Igreja humana, Pedro, em seguida entra a Igreja divina, João.

"Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram até Jesus e disseram-lhe: 'Mestre, queremos que nos concedas o que vamos pedir.'" Observamos que aqui a Igreja divina está pedindo, exigindo o seu lugar. Jesus sabia, mas mesmo assim pergunta: "Que quereis que vos conceda? Disseram: 'Que nos conceda, na tua glória, sentar um à tua direita e outro à tua esquerda.'"

A Igreja divina cobra de Jesus, e cobra na hora certa. Foi como dissesse: Se o Senhor diz que vamos crescer no racionalismo, então, por que não eu, que represento a Igreja divina, devo sentar à tua direita, na tua glória, e o meu fio condutor, Tiago, à tua esquerda? Jesus tenta explicar, mas parece que eles não entenderam: "Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e ser batizados com o batismo com que serei batizado? Eles disseram: 'Podemos.' Jesus replicou: 'Do cálice que Eu beber, vós bebereis, e com o batismo com que Eu for batizado, sereis batizados.'" Jesus confirmou tudo isto, porque a Igreja divina está presa à Igreja humana, as duas se completam – o divino e o humano –.

"Todavia, sentar à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim concedê-lo, mas é para aqueles a quem está preparado." Isto porque é Deus quem prepara o lugar de todo o divino. Na sua humanidade, Jesus quis deixar bem claro: a Igreja divina terá de lutar por isto, terá de provar que é divina, para então sentar ao meu lado.

"Ouvindo isso, os dez começaram a indignar-se contra Tiago e João." Os dez, aquilo que restou como racionalismo da Igreja, aborreceram-se com a Igreja divina, por se sentirem preteridos.

Este é o conceito que se vê hoje, um confronto entre a Igreja humana e a Igreja divina. Essa Igreja que o Papa percebeu e da qual imaginamos ter dito: Vocês querem uma Igreja voltada para a política e o social, se esquecendo que estes não são os seus fundamentos.

Vimos, então, que Jesus se dirigiu à Igreja humana, com aquela proposta: "Muitos dos primeiros serão últimos, e os últimos serão primeiros." Depois, se dirige à Igreja divina, dizendo: "Aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos." Jesus propôs o mesmo à Igreja divina: servir, não ser servida. Além de lhe ter dito: "Que quereis que vos conceda?" Isto não disse à Igreja humana. É a Igreja humana e a Igreja divina caminhando juntas, mas pleiteando posições de destaque, numa eterna disputa.

Em seguida, surge a figura do cego (Bartimeu) à beira do caminho.

"Quando percebeu que era Jesus, o Nazareno, que passava, (o cego) começou a gritar: 'Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!'" A reação da Igreja humana foi de repreendê-lo, pedindo que calasse. A Igreja divina, vendo que Jesus parou e mandou que o chamassem, disse ao cego: "Coragem! Ele te chama. Levanta-te."

Se a Igreja divina pleiteou um lugar, a Igreja humana propõe a Jesus uma situação. Ambas não estão bem, encontram-se cegas, perdidas, no meio do caminho. O cego, Bartimeu, fez um escândalo, queria falar com Jesus de qualquer modo, pois sabia que Ele o poderia curar. Em seu caminho, a Igreja faz o mesmo: quer e precisa encontrar Jesus, pois está cega, precisa voltar a enxergar, e clama: Vinde, Senhor Jesus!

O racionalismo da Igreja humana e a prepotência da Igreja divina em direção a Jesus, cegam-nas.

"Então Jesus disse ao cego: 'Que queres que Eu te faça?'" Jesus fez esta pergunta somente à Igreja divina, porque à Igreja humana, aquela que tropeça, levanta…, Ele não faria esta pergunta. Quando disse à Igreja divina: "Que quereis que vos conceda?" Ela exigiu sentar-se à Sua direita e à Sua esquerda.

Se o cego disse: "Rabbúni! Que eu possa ver novamente!", quer dizer que enxergava antes. Então, por que tornou-se cego? Por uma situação que ele próprio criou. Jesus, neste momento, oferece a chave de todo este diálogo, ao dizer: "Vai, a tua fé te curou." Que coisa bem feita! Este é o caminho da Igreja humana e da Igreja divina. Se não lermos do versículo 28 ao 52, não chegaremos a este entendimento.

Temos o diálogo das duas Igrejas, cada qual querendo uma coisa, e à beira do caminho a humanidade cega. Esta humanidade que no final dos tempos brada: Pelo amor de Deus, Filho de Davi, estás passando e eu preciso te encontrar. A Igreja humana, naquele momento, vai lhe dizer: Não incomodas o Mestre, no teu racionalismo! Enquanto a Igreja divina vai falar: Jesus te chama, coragem, vai lá! E Jesus então dirá a todos que forem a Ele: A tua fé te salvou.

Somos esse cego à beira do caminho clamando a Jesus a cura, a salvação. E Ele nos dirá: Que quereis que Eu vos faça? E nós, prontamente, responderemos: Que possamos ver novamente!

 

Referência: LOPES, Raymundo. O Caminhar das Igrejas Humana e Divina I: Mc 10, 28-52. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 151.

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