Jesus diante de Pilatos

Jo 18, 28-37

O evangelista João nos conta o momento em que Jesus é apresentado a Pilatos. Depois de Sua oração e agonia no monte das Oliveiras, de ser preso e maltratado na casa de Anás e Caifás, o Sumo Sacerdote daquele ano, é apresentado a Pilatos. Podemos imaginar Jesus ferido, com dores por todo o corpo, tendo ainda recebido uma coroa de espinhos na cabeça, após a Sua condenação. Imaginamos o horror de tudo isso, que culminará com Sua crucificação e morte.

A Igreja nos fala sobre Cristo Rei. Que reinado é este, de um homem açoitado, coroado de espinhos, entregue à sorte de um poder temporal?…

Vemos aqui o sentido deste Evangelho, quando Jesus responde: "Meu Reino não é deste mundo." Pilatos fez uma pergunta a Jesus, como se dissesse: Fostes enviado a mim por se dizer rei dos Judeus. Eu já fiz tudo, até mandei que o coroassem de espinhos. Afinal de contas, és realmente rei? Rei de quê? Jesus, então, dá uma resposta bastante significativa: "Falas assim por ti mesmo ou outros te disseram isto de mim? (…) Meu Reino não é deste mundo. Se meu Reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para Eu não ser entregue aos judeus." Jesus não se referia a um outro rei, a outra potestade, a nada de comum à compreensão daquela gente.

Na verdade eles estavam reunidos diante de um Rei, e Rei que quer dizer poder, autoridade. Apesar desta palavra estar hoje banalizada, temos Rei do Futebol, Rainha dos Baixinhos, Rei e Rainha do Carnaval e tantos outros. O sentido da palavra rei, hoje, não é o mesmo de antes, por ter-se perdido no tempo, na história.

Quando Jesus responde: "Meu Reino não é deste mundo", falava de Seu reinado em oposição ao deste mundo ao poder do mal, das trevas. Jesus estava num mundo onde não era o rei, e que tem o seu príncipe. Por isso estava em perigo, entregue às forças deste mundo, que superavam as Suas na condição de Filho do Homem, Verbo encarnado, humanado.

Ao repetir: "Mas meu Reino não é daqui", falava que o seu reinado é o das coisas do espírito, daquilo que Ele representa, daquele Rei que é sempre Rei, "Soberania Absoluta do Universo, Senhor da Criação".

Assim Jesus nos mostra que existe também um reinado que não é o de Deus, e que se abrirmos o nosso coração a esse rei, seremos súditos dele e teremos o poder de matar até o próprio Deus neste mundo em que estamos, em nós. A Mãe de Deus uma vez me disse:

"Sobre minha cabeça pesa a coroa do sofrimento, vendo tantos de vocês vassalos do reino deste mundo, entregues ao serviço da perversão e do desvio das coisas naturais, criadas e instituídas por Deus como Lei, para levá-los à felicidade. Um grande mal hoje os flagela e, devido à não observância desses princípios, nem a Igreja está poupada."

Precisamos entender que estamos vivendo num reino que não é de Deus. Na verdade somos inquilinos do Diabo, pagamos-lhe um aluguel caro. Quando Eva pecou, quando nossos pais pecaram pela soberba, fomos entregues a este reino de trevas, onde o rei é Satanás, isto é, o reino da matéria, daquilo que vemos e sentimos e que aos poucos vai vencendo o nosso espírito. O homem não foi feito para este mundo, mas para viver junto de Deus. Porém, escolhemos este reino, cujo rei tem o poder de matar; não tem poder sobre a morte, mas sobre a vida, pôde matar o próprio Deus humanado, tirando-o deste mundo.

Imaginemos, então, o que esse Diabo pode fazer conosco!…

Precisamos discernir se estamos ou não diante de Pilatos, para não sermos crucificados pelo príncipe deste mundo. Estamos sendo crucificados por ele. Conforme nos disse Paulo VI: "A fumaça de Satanás já entrou até no Vaticano", quer dizer, aquele lado humano da Igreja também está sofrendo as consequências desse materialismo que subjuga o mundo inteiro. Estão aos poucos tirando Jesus do altar central, nas igrejas, com explicações injustificáveis, alegando que os turistas desrespeitam-no, em suas visitas. Ora, bastaria dizer que o interior da igreja não é ponto turístico, e todos o respeitariam.

Ao explicar este Evangelho, costuma-se enfatizar o seu lado bonito, referindo-se a Cristo Rei, mas o seu ponto central está no alerta de que podemos estar jogando incenso no coração do príncipe deste mundo.

Estamos sendo aos poucos crucificados por esse poder materializante. Satanás não vai nos pregar literalmente numa cruz, mas por trás da mentira nos seduz a uma realidade devassaladora: do prazer, da vaidade, do dinheiro. Precisamos ter muito cuidado para não incensarmos a realeza errada.

São muitos os que caminham durante toda uma vida, para não chegar a lugar nenhum. Sem fé, vivem sem esperança; e quando chega a velhice acham que a única saída é o suicídio, abreviam assim a vida, o sofrimento, a solidão. Geralmente abandonadas, tornam-se, às vezes, pessoas de difícil relacionamento, impacientes, mal-humoradas, neuróticas, numa neurose alimentada por uma vida mal traçada. Já as pessoas que têm uma religiosidade bem orientada, bem formada, chegam à velhice de forma diferente, bem-humoradas, com a presença confortadora de seus familiares, sem aquela arteriosclerose perturbadora. São aquelas das quais costuma-se dizer: "Viveu e morreu santamente." Isto porque soube viver a espiritualidade. O melhor remédio para se viver em paz é o Evangelho. Vivendo-o, chegaremos à velhice sábios diante de Deus.

Temos de fazer barreira a esta onda materialista que assola o mundo; caso contrário, os próximos crucificados seremos nós. Precisamos ser evangelizadores, mostrando a verdade às pessoas. A palavra de Deus em nossa vida é coisa muito séria. Não é preciso ser um religioso, basta ter uma boa religiosidade. A pessoa não precisa deixar de namorar, casar, frequentar os lugares que gosta e que são saudáveis. O que é necessário é não entrar na promiscuidade, é procurar manter-se íntegro diante de Deus. Se não agirmos assim, estaremos procurando a condenação.

Devemos aprender a usar as coisas deste mundo para levarmos outras pessoas a Deus. Quem conseguir viver assim, será muito feliz, um bem-aventurado.

 

Referência: LOPES, Raymundo. Jesus diante de Pilatos: Jo 18, 28-37. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 210.

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