Mt 17, 1-9
Nesta passagem da transfiguração temos duas situações a analisar. A primeira refere-se à reação da natureza humana diante do divino. A segunda nos leva a compreender por que João, que estava presente, foi o único evangelista que não escreveu sobre este fato tão importante.
Ao sentir a proximidade do divino, Pedro quis permanecer no monte, não queria mais descer. Foi sua visão do divino, das coisas eternas, que o levou àquela sensação, à vontade de permanecer naquele lugar e não voltar às coisas terrenas. Jesus poderia ter dito a ele: Não, Pedro, vamos descer, temos muito que fazer lá embaixo.
É isto que acontece com a natureza humana, quando descobre o divino (percebe, vê e sente as coisas de Deus). Se não fosse pela graça de Deus, as pessoas que passam por essa experiência ficariam ali, no monte, no alto, ou seja, na presença do divino. Por isso, Pedro quis construir barracas e fazer ali uma moradia, pensando assim manter-se próximo das maravilhas eternas.
João, o único evangelista presente à transfiguração, não relatou o fato. Foram justamente os outros três, que não estiveram presentes, a escrever sobre o assunto (Mt 17,1-13; Mc 9,2-13; Lc 9,28-36).
Notamos que Jesus subira ao monte para rezar. Essa expressão subir significa também elevar-se em espírito. Jesus leva consigo dois irmãos, Tiago e João, e também Pedro. Lá em cima eles percebem o diálogo de Jesus com dois patriarcas: Moisés, que representava a Lei, e Elias, o prenúncio da Boa-Nova, profeta que pregou muito a vinda do Messias. Portanto, diante de Jesus estavam: o Velho Testamento, a profecia e o cumprimento do Novo Testamento .
Aos pés do Velho Testamento, que era a Lei e o anúncio da vinda do Messias, estavam a Igreja humana e a Igreja divina ligadas pela irmandade. Pedro, representante da Igreja humana, João, representante da Igreja divina, e Tiago fazendo a ligação fraterna.
João nada fala e nada escreve. A Igreja divina, diante da transfiguração de Jesus, nada tem a dizer, pois ali estava sendo vivenciado um momento divino.
Esse diálogo de Jesus diante do Velho e do Novo Testamento, das duas Igrejas na fraternidade de Tiago, é um momento muito bonito e importante para o nosso entendimento.
Pedro toma a palavra. É a Igreja humana que fala. Pedro propôs uma solução humana: “Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.” São aquelas soluções terrenas que a Igreja humana nos propõe e sobre as quais a Igreja divina abre o caminho da santidade, a fim de que Deus lhe forneça a graça. Pedro estava propondo uma solução humana numa situação divina.
“Os discípulos perguntaram-lhe: Por que razão os escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro? Respondeu-lhes Jesus: ‘Certamente Elias terá de vir para restaurar tudo. Eu vos digo, porém, que Elias já veio, mas não o reconheceram.'” Nesta última citação a Elias, Jesus falava de João Batista, o precursor. Elias teria de vir primeiro, para depois o Filho do Homem sofrer, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia. Isto os apóstolos só foram entender depois, embora percebessem que antes se referiu a João Batista. Malaquias havia profetizado que Elias desempenharia o papel de precursor, o que foi feito na pessoa de João Batista.
O que mais chama a atenção neste Evangelho é o grande diálogo da Igreja humana e da Igreja divina diante da Lei e do anúncio da vinda de Jesus. Vemos também um momento muito bonito, no qual o Antigo Testamento se une ao Novo Testamento, dá a ele o seu lugar, sob os auspícios de Jesus. E ainda as soluções terrenas da Igreja humana. Jesus nos alerta sobre os caminhos humanos da Igreja.
Nota: “– Muito em breve o assento de Pedro estará a descoberto (exposto, sem proteção ou resguardo), quando então terão início todos esses acontecimentos. Vocês, católicos, verão dias terríveis nascerem no horizonte. Por 1260 dias da Terra, estará aceso em Jerusalém o candelabro de duas velas, único pilar da defesa da fé na Igreja.” (diálogo com Nossa Senhora, em 11 de fevereiro de 1995)
Referência: LOPES, Raymundo. Entre o Velho e o Novo Testamento: Mt 17, 1-9. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 180.