Mt 21, 12-17.33-46; 22, 15-22.23-33
De três evangelistas nos chega uma história curiosa envolvendo Jesus. Falam dos vendedores expulsos do Templo, relatam a parábola dos vinhateiros homicidas, passam por uma situação onde é mostrada ao Mestre uma moeda com a efígie de César e depois entram num assunto sobre ressurreição, citando a viúva de sete irmãos.
À primeira vista parece discorrerem de quatro fatos distintos; mas, ao analisá-los com atenção, verificamos tratar-se de um só fato, pela íntima ligação que têm entre si. Vamos vê-los sob outra perspectiva.
I – Jesus nos fala da vinha cercada com uma sebe (cerca feita com plantas; cerca viva), abriu nela um lagar (tanque onde se espremem e se reduzem a líquido as uvas) e construiu uma torre. Depois arrendou-a e saiu de viagem. Não era, portanto, uma propriedade do homem.
Deus se mostra ao povo prometido, através dos patriarcas e profetas. Deu ao povo escolhido, neste caso os judeus, condição para habitar a torre construída e, a partir daí, deixou-o como guardião da vinha, isto é, da religião monoteísta (que admite um só Deus). Deus providencia para que o pé de uva dê frutos, mas cabe a nós plantá-lo e cuidar dele.
Deu a primeira oportunidade de uma prestação de contas, e os judeus maltrataram o corpo da religião. Deu uma segunda oportunidade, e os judeus a transformaram numa religião voltada para as obrigações sociais, muitas cerimônias etc. A terceira oportunidade foi dada através de Sua presença entre eles, o Verbo encarnado. Mataram-no, lançando-o para fora da vinha, ou seja, excluíram Jesus.
Ora, é claro que Deus não deixaria ficar assim. Tomou dos judeus o que criara e o legou a um outro povo, neste caso, aos seguidores de Cristo, pois haviam rejeitado a pedra angular (Cristo). Isso, portanto, é a Obra do Senhor.
II – "Então Jesus entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam." O Mestre afastou do Templo cambistas e vendilhões. Estes vendiam animais para sacrifício, dando a Caifás uma comissão sobre as vendas. Com isso Jesus atacou diretamente Caifás, razão pela qual vieram a Jesus com o assunto da moeda. Afinal, se era lícito pagar imposto a César, porque não pagar também a comissão a Caifás?
A resposta do Mestre foi clara, uma coisa é imposto a César, outra é comissão a Caifás. "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."
Jesus, com isso, cobra dos judeus a dívida para com Deus, quando maltrataram o corpo da Igreja judaica, prejudicaram seu pensamento e mataram o Filho único.
III – Mas não ficou nisso, porque eles não desistiram, querendo de Jesus uma resposta sobre uma viúva de sete irmãos, que também morreu. Cristo resolve dar um basta, mostrando a eles a esterilidade com que ficou a revelação judaica.
Deus forneceu ao povo judeu, neste caso, a mulher que teve sete maridos (os sete dons do Espírito Santo) que não conseguiram fecundá-la, não deixando assim descendência, filhos (nenhum fruto).
Os três evangelistas deixam clara a lição: o povo judeu, escolhido por Deus para tomar conta de Sua manifestação na terra, transformou tudo num corpo estéril, portanto, na pessoa de Cristo, essa vinha é entregue a outro povo, os cristãos.
Resta saber se estamos dando conta do recado. Caso contrário, vamos cair no mesmo emaranhado; e, nestes tempos finais, vemos Cristo socorrer a Igreja Católica com a promessa de Sua volta gloriosa.
Referência: LOPES, Raymundo. A Vinha: Mt 21, 12-17.33-46; 22, 15-22.23-33. In: LEMBI, Francisco (Org.). O Código Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 149.