São Hélder Câmara?

dom Helder Câmara

A possível beatificação de dom Helder Câmara, ícone da Teologia da Libertação, já condenada pela instrução Libertatis Nuntius, daria mais um sinal da tendência esquerdista do pontificado de Francisco.

 

Infovaticana, 10 de janeiro de 2019.

Carlos Esteban.

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Tradução. Bruno Braga.

 

O padre capuchinho Jociel Gomes, postulador da causa de Hélder Câmara, sugeriu, em declarações ao Avvenire, publicação italiana controlada pelos Bispos, que o processo do emblemático Arcebispo brasileiro, inspirador da Teologia da Libertação, poderia ser acelerado após a canonização de Óscar Romero. “Ambos foram pioneiros no que hoje o Papa Francisco prega com tanta veemência: uma igreja em saída, capaz de chegar às periferias geográficas e existenciais”.

O evidente é que Câmara foi um dos expoentes máximos de um movimento, a citada Teologia da Libertação, que aplicava o esquema marxista ao Evangelho, e por isso sofreu as correspondentes condenações e censuras do Vaticano. O núcleo consistia em postular que o Reino de Deus não era algo a ser imposto em sua totalidade em outra vida, mas que deveria se impor na terra pela violência, seguindo um modelo socialista.

“Tenho um grande respeito pelos sacerdotes com rifles sobre os ombros”, declarou Câmara certa vez. “Nunca disse que usar armas contra um opressor seja imoral ou anticristão. Mas não é essa a minha opção, não é o meu caminho para aplicar o Evangelho”. Naturalmente, nunca escondeu o seu entusiasmo com o socialismo: “O meu socialismo é especial, é um socialismo que respeita a pessoa humana e remete aos Evangelhos. O meu socialismo é justiça” – embora, como mostra a citação anterior, tivesse que ser implantado a tiros.

Câmara foi um dos assinantes do chamado Pacto das Catacumbas, durante a realização do Concílio Vaticano II. No pacto, vários prelados se comprometiam a politizar a Igreja, dando a Ela um sentido “progressista”. “Faremos o possível para que os responsáveis pelo governo e serviços sociais criem e cumpram as leis, estruturas e instituições sociais exigidas pela justiça, caridade, igualdade e o desenvolvimento harmônico e holístico de todos os homens e mulheres, e com isso nos referimos à criação de uma nova ordem social, digna dos filhos e filhas da humanidade e de Deus”.

Não se falou muito do famoso pacto durante os pontificados de João Paulo II e Bento XVI. Mas, com Francisco, vários teólogos e prelados pretendem reivindicá-lo, começando pelo Cardeal alemão, tão elogiado por Francisco, Walter Kasper. O pacto, disse Kasper, foi relegado ao esquecimento, mas agora o Papa dá a ele vida com um programa de pontificado que é “em um grau elevado o que foi o Pacto das Catacumbas”.

A America, publicação jesuíta dos Estados Unidos, destacou recentemente a proximidade de Francisco com Câmara. “O Papa Francisco nos faz lembrar dele”, pode ser lido na publicação. “Eles têm muito em comum”. Ao dirigir-se aos Bispos brasileiros, em julho de 2013, no Rio de Janeiro, Francisco recordou “todos aqueles nomes e rostos que marcaram de forma indelével o itinerário da Igreja no Brasil”, e citou entre eles Dom Hélder”. A Crux intitula abertamente: “Ícone brasileiro da Teologia da Libertação avança até a santidade”.

Se Câmara está ou não no Céu, gozando da Visão Beatífica, é algo que ignoro por completo e sobre o que nunca me permitiria opinar. Também não tenho certeza de que não possa ser um personagem apto para ser proposto como modelo de virtudes para a Igreja Universal, embora neste aspecto admito ter mais dúvidas. Porém, não tenho dúvida alguma de que acelerar a causa de Hélder Câmara representaria uma clara tentativa de “canonizar” a tendência esquerdista da Igreja.