O Papa Francisco recebeu, no passado dia 30 de maio, uma delegação do Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa Russa a quem confessou que sofre sempre que algum católico deseja o “uniatismo”, ou seja, a conversão das Igrejas Ortodoxas cismáticas à Fé Católica. conversão da Rússia
Em Moscovo há um só Patriarcado: o de vocês. Nós não temos outro. Quando qualquer católico, seja leigo, sacerdote ou bispo, tenta levantar a bandeira do “uniatismo”, que não funciona mais e acabou, para mim é uma grande dor. Acho que se deve respeitar as Igrejas unidas a Roma. O “uniatismo” como caminho de unidade, não deve existir mais”.
(Francisco I; in Vatican News 02/06/2018)
O uniatismo é um caminho de conversão que se materializa na reintegração de comunidades cristãs ortodoxas na Igreja Católica, abandonando, desse modo, a condição cismática em que se encontravam. As Igrejas Uniatas são Igrejas Católicas sui juris que, mantendo as tradições litúrgicas orientais, regressaram, em algum momento da história, à unidade com Roma, submetendo-se à autoridade papal e passando a professar a mesma Fé das restantes Igrejas Católicas, como é o caso, por exemplo, da florescente Igreja Uniata Ucraniana.
As declarações de Francisco não são propriamente uma novidade. Ainda ninguém esqueceu a forte condenação ao uniatismo com que o Santo Padre agradeceu, na cimeira cubana de 2016, os vários séculos de fidelidade dos Católicos Orientais – uma fidelidade que sobreviveu às maiores adversidades.
Para o Santo Padre, o caminho da “conversão da Rússia” – pedido em Fátima – deve ser substituído pelo caminho do “ecumenismo”. Um caminho moderno (ou modernista) onde a correção política, a diplomacia, os beijos e os abraços tendem a ser mais importantes do que a própria Fé.
Para mim, é motivo de consolação quando alguém estende a mão, dá um abraço fraterno, pensa e caminha junto. O ecumenismo se constrói caminhando. Portanto, continuemos a caminhar.
Alguns pensam, – mas não concordo – que primeiro se deve chegar a um acordo doutrinal sobre todos os pontos de divisão, para depois caminhar juntos. Isto não deve acontecer no caminho ecuménico, pois não sabemos quando acontecerá tal acordo.
(Francisco I; in Vatican News 02/06/2018)
O “acordo” ao qual o Papa Francisco se refere, e que só pode significar conversão à Fé Católica, acontecerá depois da consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. A Rússia reconhecerá então, na figura do Santo Padre, o legítimo Vigário de Cristo na Terra e aceitará a Fé Católica na sua integridade e pureza. Só então existirão condições para um “acordo” que produza verdadeira unidade e paz duradoura.
O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.
(Nª Sª de Fátima, 13 de julho de 1917; in Memórias da Irmã Lúcia)
Ainda há poucos meses, a Igreja Greco-Católica Ucraniana, a maior de todas as Igrejas Católicas Orientais, voltou a apelar à Santa Sé pelo seu reconhecimento como Igreja Patriarcal. Uma aspiração justa que tem sido sucessivamente adiada devido à subserviência ecuménica do Vaticano perante a Igreja Ortodoxa Russa.
As palavras do Papa para com os representantes da Igreja Ortodoxa Russa revestem-se ainda de um forte teor político porque surgem num momento em que, nas esferas políticas e religiosas da Ucrânia, se tem discutido a possibilidade de unificação das Igrejas Ortodoxas locais numa única igreja ortodoxa nacional autocéfala, completamente independente do Patriarcado de Moscovo. São palavras que vão ao encontro dos interesses geopolíticos que o Kremlin teima em manter sobre a vizinha Ucrânia.
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Basto 6/2018
FONTE: O DOGMA DA FÉ