Um ponto de ruptura no Papado?

ruptura

Maike Hickson.

OnePeterFive, 06 de fevereiro de 2018.

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Tradução. Bruno Braga.

No início deste ano, Steve Skojec previu que 2018 marcaria “o início do fim” do poder do Papa Francisco [1]. Está ficando cada vez mais claro agora que este pontificado pode estar enfrentando vários pontos de fratura. A representatividade internacional está sendo abalada. Há pelo menos cinco áreas em que o Papa ficou vulnerável: o escândalo do Cardeal Marx; o caso de abuso sexual do Bispo Barros; a crise chinesa; a controvérsia sobre o futuro Encontro Mundial de Famílias, na Irlanda; e a crescente resistência contra a Amoris Laetitia.

O Cardeal Marx e as uniões homossexuais.

Vamos considerar primeiro os comentários acolhedores do Cardeal Reinhard Marx a respeito da ideia de abençoar casais homossexuais na Igreja Católica [2]. Convidando apenas as paróquias individuais para tal passo, Marx deixou claro que, para ele, atos homossexuais não são mais pecado. Este novo “filme marxista” causou muita indignação entre os fiéis católicos na Alemanha, entre eles, Mathias von Gersdorff [3].

O Dr. Markus Büning – teólogo católico e escritor – também perdeu a paciência após o recente avanço alemão na frente homossexual (Büning, há não muito tempo, e após um apoio inicial aos quatro Cardeais dos dubia [4], mudou [5], e assinou a recente iniciativa pro-Papa Francisco [6]). Agora, Büning pediu ao Papa Francisco para retificar o caos gerado por Marx [7]. Ele está espantado, pois, na simples proposta de uma “afirmação litúrgica” em nível local, “um dos altos colaboradores do senado da Igreja – o Arcebispo de Munique, o Cardeal Marx – pode proclamar diante do mundo uma grave heresia moral”. Büning comenta:

“É muito engraçado que esse tipo de lógica católica “caso-por-caso” não se aplique também aos católicos que agora, após este escandaloso pedido de um Bispo, seriamente, com certeza, consideram deixar a Igreja do “Imposto Igreja” [“Kirchesteuer”-Kirche].

Embora não proponha a saída da Igreja, Büning deixa claro que essa contradição mostra a “impiedade desses pastores”. O teólogo alemão, então, chama o Papa Francisco a corrigir o Cardeal Marx:

“Na minha visão, é esclarecer agora quem possui o mais alto posto de ensino na Igreja Universal – o Papa. Se ele silenciar diante de tal demanda – supondo que ele conheça a atrevida demanda do C8 [sic], Cardeal Marx [membro do conselho de Cardeais do Papa] -, deve-se necessariamente concluir que ele a aprova. Assim, também o Papa tem um problema” […] Fazendo o Papa isso [aprovar essa visão de Marx], ele não cumpriria, de forma considerável, o seu ofício e missão de preservar a unidade da Igreja Universal em questões de Fé e Moral.

O escândalo do Bispo Barros.

Preocupações semelhantes manifesta Guido Horst – correspondente romano do jornal católico alemão Die Tagespost -, conhecido também por sua usual atitude conciliatória com relação ao Papa Francisco. Por conta da viagem papal ao Chile, Horst deu a um artigo o título: “O Papado em um momento crítico?” [The Papacy at a Turning Point?] [8]. Nele, escreveu sobre a viagem do Papa ao Chile e destacou como essa visita parecer ter se tornado um momento crucial para Francisco, na medida em que recebeu muitas críticas por suas desonrosas declarações sobre as vítimas de abuso sexual que o reprovaram por proteger o Bispo Juan Barros, acusado de testemunhar ativamente tais abusos e não tomar nenhuma providência contra eles. Francisco, diz Host, nomeou Barros, “mesmo tendo a Congregação Vaticana para o Clero e o Núncio chileno chegado à conclusão de pedir a Barros para renunciar”. Os rumores contra Barros, como um homem que acobertou os crimes de seu líder espiritual, Fernando Karadima, nunca pararam. De acordo com Horst, o próprio Barros ofereceu a sua renúncia, mas o Papa não a teria aceitado.

Após as declarações papais no avião, nas quais Francisco diminuiu as vítimas de abuso, o Cardeal Seán O’Malley – o principal assessor do Papa sobre abusos sexuais do clero – criticou as declarações, apontando-as como “uma fonte de grande dor para os sobreviventes de abusos sexuais cometidos pelo clero”.

“Pela primeira vez aconteceu de um dos colaboradores mais próximos distanciar-se de Francisco; e o Papa recuou. Muitos fizeram o mesmo antes – os Cardeais Joachim Meisner, Carlo Caffarra, Raymond Leo Burke, Walter Brandmüller, Robert Sarah, Gerhard Müller e Janis Pujats. Francisco os ignorou todos, mas não o capuchinho O’Malley.

Aos olhos de Horst, o Papa, no Chile, parece ter “perdido o apoio da mídia e do público”.

As palavras críticas de Horst têm sido seguidas agora por uma denúncia muito mais assombrosa da mídia secular [9], a de que, já em 2015, o Papa Francisco – contrariando suas próprias declarações – recebeu uma descrição contundente sobre o envolvimento de Barros em casos de abuso sexual.

O jornalista católico americano, Michael Brendan Dougherty, escreve hoje no National Review [10] que, não importa como se olha a forma em que a carta foi tratada, é sinal de um problema sério na liderança papal. E mais: “O vazamento de que essa carta foi entregue em mãos ao Pontífice pode ser a evidência de que os superiores da Igreja estão perdendo a confiança no seu pontificado. A barca de Pedro navega em águas agitadas”.

O acordo China-Vaticano.

Além disso, o Papa Francisco está cada vez mais pressionado por dar uma mão amiga à nomeação de bispos comunistas na China e pedir a alguns fiéis, sofredores e verdadeiros Bispos que renunciem. La Nuova Bussola Quotidiana, de Riccardo Cascioli, Itália, intitulou um dos seus recentes artigos: “A ‘longa marcha’ do Vaticano até a rendição à China” [The Vatican’s “Long March” Towards Surrender to China] [11]. O estudioso Steven Moscher, escritor católico e especialista em comunismo chinês, repetiu efetivamente este sentimento em uma entrevista para Raymond Arroyo, da EWTN, dizendo que a negociação do Vaticano com a China nada mais é que “simplesmente negociar a rendição da Igreja subterrânea à falsa igreja criada pelos comunistas [12].

Irlanda e LGBT.

No topo de todos esses preocupantes desdobramentos, o Papa está agora sendo pressionado a decidir sobre a sua posição a respeito da questão LGBT. No começo de fevereiro, estourou a história de que Mary McAleese, ex-Presidente da Irlanda, foi barrada pelo Cardeal Kevin Farrell – chefe do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida – para discursar em uma conferência sobre mulheres que foi realizada no Vaticano [13]. Esta atitude do Cardeal Farrell provocou a indignação do Arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, que declara não ter sido consultado previamente sobre essa decisão. McAleese é um destacado promotor do “casamento” homossexual [14] e de outras agendas progressistas, como a ordenação de mulheres. O próprio Arcebispo Martin está agora preocupado com o fato de que a sua mensagem de “inclusão” para o próximo Encontro Mundial de Famílias, em agosto de 2018 – veja o nosso artigo sobre as imagens e temas homossexuais no programa do evento [15] –, seria afetada de forma negativa por essa atitude recente de “exclusão” por parte do Vaticano. Ele insistiu que o evento – em que também se espera a participação do Papa Francisco – “será um evento inclusivo, aberto a todas as famílias e familiares”.

Na Irlanda, grupos pró-LGBT ficaram tão indignados com a recente decisão do Cardeal Farrell que agora estão até advogando a retirada do apoio ao Encontro Mundial de Famílias e à programada visita do Papa Francisco à Irlanda.

Isso parece colocar o Papa Francisco em conflito com a Irlanda, enquanto Estado, e com o Arcebispo Martin, como organizador do futuro evento católico. Por outro lado, se ele fizer um gesto em direção a eles, estará dando um sinal de aprovação da agenda LGBT. Somente o tempo irá mostrar como o Papa Francisco vai resolver esse conflito, um conflito em que ele irá mostrar qual é a sua verdadeira posição sobre o assunto.

A crescente resistência contra a Amoris Laetitia.

Por último, mas não menos importante: a Amoris Laetitia não para de causar sérias perturbações na Igreja Católica, tantas que cresce o número de Bispos que apoiam publicamente a iniciativa do Bispo Athanasius Schneider [16] – e dois dos seus colegas Bispos do Cazaquistão – para rejeitar a ideia de conceder a Sagrada Comunhão a adúlteros. O Bispo Emérito Elmar Fischer, da Áustria, acrescentou ontem o seu nome à lista de assinantes. Os outros signatários são o Bispo Emérito Andreas Laun (Áustria), o Bispo auxiliar Marian Eleganti (Suíça), o Cardeal Janis Pujats (Letônia), o antigo Núncio Apostólico Carlo Maria Viganò (Itália), o Arcebispo Luigi Negri (Itália), o Bispo Emérito René Gracida (Estados Unidos). O número de assinantes agora cresceu para dez, e tem a possibilidade de, segundo as nossas fontes, crescer mais.

Parece que estas rachaduras potenciais no pontificado de Francisco poderiam conduzir a um ponto de ruptura; um que poderia potencialmente parar – ou pelo menos enfraquecer – a agenda papal de adaptar a Igreja ao mundo moderno de tal forma que a plenitude da Fé Católica não seja mais reconhecida. Se assim for, poderá trazer um alívio necessário para muitas almas em risco.

NOTAS.

[1]. Cf. [].

[2]. Cf. [].

[3]. Cf. [].

[4]. Cf. [].

[5]. Cf. [].

[6]. Cf. [].

[7]. Cf. [].

[8]. Cf. [].

[9]. Cf. [].

[10]. Cf. [].

[11]. Cf. [].

[12]. Cf. [].

[13]. Cf. [].

[14]. Cf. [].

[15]. Cf. [].

[16]. Cf. [].