Infovaticana, 28 de março 2018.
Carlos Esteban.
Tradução. Bruno Braga.
Chegam os primeiros indícios e testemunhos de que o texto final do pré-Sínodo da Juventude, o que “os jovens católicos pedem ao Papa”, estava parcial ou totalmente manipulado.
“Oxalá o grupo pré-sinodal fosse aberto, então todo o mundo poderia ver como estão escandalizados e indignados os usuários do Facebook, que foram em boa medida ignorados”, desabafa no Reddit um participante dos debates online supostamente refletidos no texto final.
“Não sei o que fazer, sinto como se tivessem colocado palavras na minha boca” […] “Não posso deixar de suspeitar que o documento foi escrito até o final sem que os comentários online fossem sequer lidos”.
“Nenhuma contribuição fazia a menor referência ao papel das mulheres na Igreja, o que, no entanto, aparece no documento; pelo contrário, a maioria das intervenções se pronunciava em apoio à ética sexual e à moral da Igreja, mas o documento parece sugerir o contrário”.
“O mais horrendo é que a maioria dos comentários solicitava uma volta à Liturgia tradicional”.
“Sinto como se tivéssemos sido enganados”.
Quando o Vaticano determinou que Monsenhor Viganò conduzisse a sua comunicação no século XXI e a situasse na vanguarda na era da internet, passou aparentemente desapercebido que uma consequência da existência das redes é o cumprimento da passagem evangélica segundo a qual “nada há de tão oculto que não venha a ser descoberto ou de tão escondido que não venha a ser conhecido”.
Em poucos dias a rede desmontou a tentativa de manipular uma carta de Bento XVI, à qual Viganò tratou de dar sentido contrário ao original, e que levou a um ridículo universal e a uma demissão de mentirinha, parcial, do próprio prefeito.
E agora começamos o dia com os primeiros indícios e testemunhos de que o texto final do pré-Sínodo da Juventude, o que “os jovens católicos pedem ao Papa”, estava parcial ou totalmente manipulado.
Steve Skojec, na publicação católica online OnePeterFive, deu-se ao trabalho de investigar e interrogar alguns dos participantes, tanto do pré-Sínodo presencial, em Roma, como dos aproximadamente dois mil jovens que participaram das discussões preparatórias online.
O resultado é bastante triste, mas não podemos dizer que foi totalmente inesperado: muitos dos participantes das apaixonadas discussões não reconhecem de forma alguma na redação do texto final os temas que mais foram apresentados nas discussões.
Dizemos que não foi inesperado, pois o texto definitivo reflete ideias repetidas por Francisco e seu entorno com uma fidelidade quase soviética, até o ponto de repetir literalmente frases e bordões do gosto do Pontífice, como o da “lógica do ‘isso sempre foi feito assim’”. Coincidências são possíveis, mas, quando elas são repetidas em demasia, buscam-se também explicações alternativas. Sobretudo tendo em mente os dois Sínodos da Família e a abundância de indícios e testemunhos que apontam o mesmo: dar a aparência de consenso e de colegialidade, mas tendo já preparadas de antemão as conclusões às quais se quer chegar.
Mas, neste caso, creio que erraram a mão e criaram um texto muito pouco verossímil como reflexo do que quer a juventude católica da Igreja.
Matthew Schmitz, no First Things (“What young Catholics want” [tradução livre: “O que os jovens católicos querem”]) recorreu à significativa anedota de uma foto utilizada por várias dioceses francesas como material promocional. Na imagem, um grupo suficientemente “diverso” de jovens – tanto em sexos como em raças – aparecia sorridente rodeando um sacerdote não muito idoso. Problema: na imagem original, o sacerdote em questão usa batina, uma vestimenta tradicional que muitos padres jovens estão recuperando, com seus 33 botões, que recordam os anos que Cristo passou na Terra.
Assim que, sem demora, os responsáveis pelo folheto em questão “aggiornaram” [“atualizaram”] a imagem “a la Viganò”, tirando com Photoshop e convertendo a parte inferior da batina em jeans. Não me ocorre anedota melhor que a de Schmitz sobre a confusão que toma nossos experientes prelados a respeito do que é ou não “moderno”.
Os septuagenários e octogenários que defendem a “renovação” parecem não entender que, por causa da idade, o que para eles deve ser uma excitante novidade eclesial é, para os menores de 30, a ÚNICA Igreja que conhecem.
Daí que o documento final do pré-Sínodo soe tão falso: descreve, por contraposição ao que supostamente querem, uma Igreja que simplesmente não existe há décadas. Eu, que com 55 não sou precisamente um jovem, não conheci essa “Igreja severa” da qual falam.
Não ouvi uma só vez em todas as Missas diocesanas que fui, em todos esses anos, uma homilia que fale, para colocar um exemplo óbvio, do Inferno, uma realidade teológica que Cristo menciona quase obsessivamente no Evangelho. Na verdade, a vida após a morte é praticamente tabu nos sermões.
Dos pecados da carne, nem se fala. É uma brincadeira dizer que a Igreja é “obcecada” por eles. Nunca, jamais uma palavra nas Missas que fui. Nem menção.
Tanto a Igreja que descrevem esses “jovens” quanto a que dizem esperar são memórias deformadas daqueles que nos anos sessenta “abriram as portas da Igreja” (e pela qual saiu a maioria no Ocidente) e sua fantasia favorita.
Não, não creio que jovens católicos comprometidos com alguma vida interior possam desejar mais disso; não é verossímil que queiram “eliminar os tabus que cercam a homossexualidade”, quando ela nunca foi cercada com mais tabus que agora, quando é impossível chamar o pecado em questão pelo seu nome tradicional – sodomia – sem provocar censura ou escândalo.
Não, não acredito que a esta altura os jovens desejem que a Igreja imite mais o Mundo, dando a ele a razão e se confessando equivocada até agora, porque dessa absurda humilhação só se pode deduzir que a Igreja não é fonte de verdade. Se a Igreja vai se limitar a repetir com décadas de atraso o que o Mundo concluiu, é melhor deixá-La de lado e ir ao original, ao Mundo. Quem não prefere o original à cópia?