Os três arcanjos esclarecem alguns pontos sobre a “aventura política” de Raymundo Lopes. “Nós nos afastamos, a mando d’Ele, para que você tomasse decisões por conta própria e provasse que tudo o que lhe foi ensinado poderá, com segurança, ser estendido a outras áreas”.
8 de outubro de 2008
Na noite do dia 7, depois que cheguei da Basílica de Lourdes, encontrava-me visivelmente angustiado. Tive meses bastante difíceis com a minha campanha política, parecendo-me não encontrar em momento algum o amparo do Céu.
Desde 1992 percebo que o Céu me dirige, apesar de reconhecer que já de pequeno tenho de Jesus e Maria uma presença constante. Mas nestes meses percebi com clareza que Deus quis deixar brotar em mim uma sensação de abandono. Contudo, isto me deu a certeza de que o Céu queria que eu tomasse as decisões por conta própria. Foi isso o que fiz, desejando sempre que os meus caminhos não afetassem o grupo missionário e nem a vontade de Deus, que defendo a todo custo.
Na madrugada do dia 8, não conseguia dormir. Levantei-me por volta das 2 horas e fui para a capela. Lá chegando, abri o Sacrário e pedi com toda veemência uma resposta de Jesus: se eu tinha errado em alguma coisa, que então me falasse. A porta do Sacrário emitiu uma luz amarela e fechou-se. Tornei a abri-la, e aconteceu a mesma coisa, agora com uma luz azulada. Então fiquei ali por algum tempo, sem saber o que fazer. Em seguida, retirei-me e fui tentar dormir.
Pela manhã, acordei com alguém batendo na porta do meu quarto. Olhei o relógio: eram 6 horas. Pensei ser o Frederico ou o Lu precisando de alguma coisa. Levantei-me imediatamente e fui abrir a porta.
Eram os “meninos”, os anjinhos que sempre me visitam. Estavam sentados no chão. Desta vez vestiam moletom colorido: um amarelo, um vermelho e um azul. E tinham na frente um Sacrário fechado.
O de cor amarela foi logo declarando:
– Tentou abrir o Sacrário, mas eu o fechei.
– Por que o fechou?…
– Porque você ainda não estava preparado; queria uma resposta de Jesus, e Ele não queria lhe fornecer resposta alguma, queria que você mesmo a achasse.
– Como?… Eu a achasse?… Não entendi.
– Nos dias amarelos que antecederam a sua aventura política, Jesus desejava que você mesmo discernisse se queria ou não enfrentar outros meios que poderiam possibilitar novos rumos à sua vida e à Obra Missionária.
– Mas eu decidi e enfrentei…
– Isto mesmo, decidiu e enfrentou. E era isto que Jesus queria que fizesse: decidisse por você mesmo, tendo como base o que lhe foi passado durante todos esses anos.
– Fiz mal?
– Fez o que era necessário para um procedimento que durante toda a sua vida lhe foi ensinado. Desde pequeno Jesus e a bela Senhora lhe incutiram no espírito a liberdade. Agiu bem; não importando como foi feito, agiu bem.
– Foi por isso que você fechou a porta do Sacrário?
– Fechei por ordem d’Ele, porque não era necessária uma resposta – ele disse sorrindo.
Nisso o menino de azul chegou mais perto do Sacrário fechado e disse também sorrindo:
– Tudo azul?…
– Não, não está tudo azul. Ainda necessito de uma resposta de vocês se agi errado aceitando a incumbência de me tornar candidato, numa ocasião tão sofrida da minha vida. Até hoje não sei se tive ou não o apoio da Igreja.
Ele então pegou na minha mão.
– Você tinha necessidade do apoio da Igreja?
Levei um susto quando ele me tocou, mas respondi:
– Me desculpe, acho que não.
– Então por que me fez essa declaração descabida? – ele replicou retirando a mão.
– Descabida?… Você acha então que o apoio da Igreja é descabido?
– Acho a sua fé no racional descabida, quando você está convicto de que o Céu o dirige, entendeu?…
– É a Igreja!… – enfatizei com energia.
– Não, é o racional; Igreja é outra coisa.
– Pode me explicar?
– Jesus é a Igreja. As pessoas designadas por Ele, com base no livre-arbítrio, nem sempre falam por Ele.
– Foi você, então, que fechou o Sacrário?
– Por que você acha que fui eu?
– Porque percebi agora que dali saiu uma luz azul, e azul é você…
– Está percebendo como a sua razão funciona? – ele respondeu sorrindo.
– Como assim?
– Você decidiu agora que fui o responsável pelo fechamento do Sacrário porque percebeu uma luz azul. Assim foram os seus dias que antecederam a eleição: via o racional em tudo, acreditava somente naquilo que percebia.
– Fiz mal?
– Não, não fez. Jesus queria que você decidisse como ver as coisas da matéria. Essa era a razão por que não lhe foi dada nenhuma resposta horas atrás. Jesus queria que você tivesse ciência do problema da visão racional, e isto você teve agora comigo.
– Não estou entendendo nada…
E sentei-me no degrau da porta, procurando chegar mais perto do Sacrário.
– Mais tarde você entenderá – ele respondeu.
Então o terceiro menino, vestido de vermelho, me perguntou:
– Não deseja abrir agora o Sacrário, já que se acercou dele?
– Eu não, abra você mesmo…
Ele chegou bem perto de mim e falou baixinho:
– Teve a coragem de o abrir por duas vezes e agora declina porque está com medo da resposta que Jesus possa lhe dar?
– Não estou com medo nenhum!…
Ele abriu as mãozinhas e falou alto:
– Então abra! Então abra!
Abri o Sacrário, e lá estava um papel dobrado em quatro partes. Abri também o papel. Na parte de cima, à esquerda, estava desenhado um boi, e à direita uma cabeça humana; embaixo, à esquerda, uma ave e à direita um leão. No centro estava o número 1260.
– Acho que vocês erraram, foram 1261 votos – eu apontei.
– Você está falando de resultado político; nós estamos falando da resposta de Jesus.
– Mas foram 1261!…
– Não, foram 1260 mais o seu, que não conta.
– O que quer dizer isso?
– Isto quer dizer que, como a bela Senhora se viu afastada por um período de 1260 dias, para ser protegida das investidas do demônio, nós nos afastamos, a mando d’Ele, para que você tomasse decisões por conta própria e provasse que tudo o que lhe foi ensinado poderá, com segurança, ser estendido a outras áreas.
– Passei na prova?
– Com distinção. Me devolva o papel.
Devolvi o papel a ele, que o colocou de volta no Sacrário, e continuei a conversa:
– E agora? – perguntei me levantando do degrau em que estava sentado. Eles também se levantaram.
– Agora você está apto a evangelizar outras camadas da sociedade, porque sabemos que não será corrompido e nem levado pela fama e poder. É a fase vermelha do martírio e do sacrifício que se inicia, e Jesus e a bela Senhora desejam que você a encare.
– Como vocês sabem disso?
– Jesus lê o seu coração, mas não interfere naquilo que pensa.
– Então posso continuar, mesmo sabendo que muitos não me apoiam?
– Por que não?… – eles responderam em uníssono. Garantimos a você: nós o apoiamos, mas você terá muitos problemas.
– Estou acostumado…
Como fizeram menção de sair, perguntei:
– Estão indo embora?
– Não, apenas você não nos verá.
– Deixem o papel comigo.
– Para quê?
– Para mostrá-lo às pessoas.
– Que papel?
– Está bem… Deixem pelo menos o Sacrário!…
Procurei o papel e o Sacrário, mas não os vi mais. Procurei os meninos, eles haviam sumido.
Referência: LOPES, Raymundo. Passei na Prova? In: LEMBI, Francisco (Org.). Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 62-66.