Raymundo sofre profundamente com a sensação do abandono de Deus. “Não tente o Senhor seu Deus, confie que você foi preparado pelo Céu para este trabalho. E mesmo que esteja na hora de enfrentar as durezas do materialismo, confie. Não permita que o seu espírito dê vazão à sensação do afastamento divino. Enfrente”.
9 de janeiro de 2008
Há tempos tenho vivido problemas pessoais envolvendo a Obra Missionária, o que me tem feito sentir que tudo está mudando. Fico nervoso a todo momento, e às vezes trato mal as pessoas, tomado pela insegurança no lidar com as coisas que me foram confiadas pela Mãe de Jesus.
A partir de agosto de 2007 comecei a ter pressentimentos e também me aconteceram coisas palpáveis, parecendo que agora tudo estava por minha conta e risco, que não poderia mais contar com a assistência do Céu como tem sido desde 1992.
Dois meses depois, dia 10 de outubro, já tarde da noite, tive um encontro com Maria Santíssima na Capela Magnificat que me deixou abalado. Ela me desobrigava da Basílica de Lourdes, isto é, dali por diante as coisas estavam por minha conta e risco. Além disso, Ela me assegurou que Jesus estava disponibilizando os três anjinhos para me protegerem na basílica. Protegerem-me de quê?… Qual o perigo que estou correndo na Basílica? E nos demais lugares? Mais perigo que corri quando no início tive de enfrentar inúmeros problemas com cardeal, bispos, padres e leigos que insistiam em me atacar moral e fisicamente? Na basílica, que a pedido dela defendi com unhas e dentes? Francamente, isso caiu como uma enorme pedra na minha cabeça.
De outubro para cá, parece-me que as coisas mudaram e eu me vi cada vez mais perdido, sentindo na pele uma espécie de abandono do Céu. Decidi então afastar-me da basílica e deixar o Terço para quem o quisesse dirigir, marcando para 18 de março de 2008 a data limite.
No dia 31 de dezembro de 2007, eu estava no Rio de Janeiro. Andava na praia, quando vi os três meninos que falam comigo. Aproximando-me deles, iniciamos um diálogo no qual eles me deixaram claro:
– Não nos é permitido avançar contra as investidas diabólicas na basílica, como fizemos em 17 de outubro de 2007 e que se estenderá até o final de janeiro de 2008, protegendo-o do perigo de um mal testemunho em relação à Igreja, porque esse era o plano divino envolvendo a pessoa da doce e serena Senhora. A partir de fevereiro de 2008, você terá sempre em suas mãos as figuras destes três copinhos: o mal, a liberdade e a graça. Se fizer uso delas com paciência e sabedoria, a Obra Missionária vencerá; caso contrário, terá o risco de colocar tudo a perder.
Corro o risco? Deixo a basílica até o final de janeiro? Que investidas diabólicas são essas que Deus permite? Como fazer uso do mal, da liberdade e da graça se de 1992 até a presente data fiz exatamente tudo o que Maria Santíssima me pediu, nada fazendo por conta própria?
No dia 9 de janeiro de 2008, entrei na Capela Magnificat com o firme propósito de pedir socorro a Deus, pois essa situação não poderia perdurar. Sinto na realidade do meu dia-a-dia que não posso abandonar a basílica, deixando aquele povo como ovelhas sem pastor. Mas a insegurança me deixou a descoberto, e sem a graça não posso lidar nem com o mal e muito menos com a liberdade.
A capela estava escura. Eram mais ou menos 9 horas da noite. Ajoelhei-me diante do Sacrário e rezei:
– Senhor meu Deus, seu servo implora ajuda e discernimento. Desde noventa e dois escuto Maria Santíssima e não faço outra coisa senão tentar fazer tudo o que Ela me pede. Enfrentei de padres até o papa para não decepcioná-la. Acreditei nos seus anjos, que me atordoam com três caixinhas que me pesam muito entender. Agora sinto que algo estranho me acontece. Estou com a nítida sensação de que o Céu está me abandonando, deixando o restante por minha conta, querendo que eu, despreparado, enfrente o racionalismo da Igreja, inclusive da basílica que tanto insistiu a querida Mãe de Jesus para que não abandonasse. Senhor Deus, imploro que me atenda e me faça compreender o que está acontecendo!
Em seguida um calafrio passou por mim. Foi como se eu estivesse sendo atingido por um raio. Fiquei estático, sem poder mover um músculo. Segundos depois, me vi flutuando num lugar escuro e sem vida, sendo empurrado em direção à luz. Quando cheguei à luz, me vi num local pedregoso, sem nenhuma vegetação e com algumas pessoas empurrando um homem. Escutei quando ele falou com alguém que eu não via:
– Você me pergunta se sou autoridade aqui? Não sou. Se fosse, o meu exército o aniquilaria para me salvar. Não sou daqui.
E soou uma voz que não vi de onde vinha:
– Então você é autoridade? E onde está o seu exército?…
– Você, quando diz que sou autoridade, me confere esse poder. Entretanto, quem lhe disse que sou autoridade?
– A sua própria gente, que o trouxe aqui.
Depois me vi literalmente jogado por uma força enorme num outro local, tumultuado e cheio de gente gritando e falando ao mesmo tempo. Ali escutei uma voz falar muito alto:
– Pai, onde o Senhor está, que não me atende?! Pai, meu Pai!…
E essa voz gritava de dor, como se alguma coisa estivesse acontecendo com ela. Ouvi outras vozes também gritando de dor, mas a que mais sobressaía era a desse homem que eu não podia identificar:
– Pai, onde está o Senhor, que não me salva deste tormento?!
O sofrimento desse homem me deixou horrorizado.
Depois fui impulsionado de novo por uma força enorme, que me jogou de volta à Capela Magnificat. E me vi então deitado no chão com os três anjinhos me apoiando, um com as mãos sob minha cabeça e os outros dois segurando os meus braços. Eles me disseram:
– Não tente o Senhor seu Deus, confie que você foi preparado pelo Céu para este trabalho. E mesmo que esteja na hora de enfrentar as durezas do materialismo, confie. Não permita que o seu espírito dê vazão à sensação do afastamento divino. Enfrente. A doce e serena Senhora lhe pede que enfrente e mostre que aprendeu a lição.
Depois eles me colocaram de pé:
– A missão do Céu terminou, agora inicia-se a sua vontade. Lide com o mal, use da liberdade que o Céu lhe proporciona e faça brotar a graça. Apesar de tudo, o Senhor seu Deus, e nosso Deus, o estará assistindo, esperando que você triunfe.
Dizendo isto, desapareceram.
Referência: LOPES, Raymundo. Pai, por que me abandonastes? In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 51.