A verdadeira razão pela qual católicos não podem ser maçons

Três séculos após a fundação da primeira Grande Loja Maçônica, os princípios dessa instituição continuam frontalmente incompatíveis com a doutrina católica.

Por Ed Condon [*] — O antagonismo recíproco entre a Igreja Católica e a Maçonaria está bem firmado e é de longa data. Durante a maior parte dos últimos 300 anos, as duas instituições têm sido reconhecidas, mesmo pela mentalidade secular, como implacavelmente opostas uma à outra. Em décadas recentes, a animosidade entre elas tem-se apagado da consciência pública em grande medida, devido ao menor envolvimento direto da Igreja em assuntos civis e à derrocada dramática da Maçonaria, tanto em números quanto em importância. Mas, por ocasião dos 300 anos da Maçonaria, vale a pena rever o que sempre esteve no “núcleo” da absoluta oposição da Igreja a esse grupo. Aparentemente, a Maçonaria pode não passar de um clube esotérico masculino, mas ela já foi, e continua sendo, um movimento filosófico altamente influente — e que impactou de modo dramático, ainda que sutil, a sociedade e a política modernas no Ocidente.

A história da Franco-maçonaria preenche, por si só, vastas páginas. A sua gradual transformação de guildas de pedreiros medievais em uma rede de sociedades secretas, com uma filosofia e um rito gnósticos próprios, pode ser lida com grande interesse. A versão mais recente da Franco-maçonaria teve início com a formação da Grande Loja da Inglaterra, em 1717, em um bar chamado Goose & Gridiron, próximo à Catedral londrina de São Paulo Apóstolo. Nos primeiros anos, antes que a Igreja fizesse qualquer pronunciamento formal sobre o assunto, muitos católicos já faziam parte da associação e a “diáspora” dos católicos e jacobitas ingleses foi crucial para espalhar a Franco-maçonaria na Europa continental. Ela chegou a se tornar, em alguns lugares, tão popular entre os católicos que o Rei Francisco I da Áustria serviu de protetor formal da instituição.

Mesmo assim, a Igreja se converteu na maior inimiga das lojas maçônicas. Entre o Papa Clemente XII, em 1738, e a promulgação do primeiro Código de Direito Canônico, em 1917, oito papas ao todo escreveram condenações explícitas à Franco-maçonaria. Todas previam a mais estrita pena eclesiástica para quem se associasse: excomunhão automática reservada à Sé Apostólica.

Mas o que a Igreja entendia, e entende hoje, por Franco-maçonaria? Que características fizeram com que ela merecesse uma tal condenação?

É comum ouvirmos dizer que a Igreja se opôs à Franco-maçonaria por causa do caráter supostamente revolucionário ou sedicioso das lojas. Está relativamente difundida a ideia de que as lojas maçônicas eram células essencialmente políticas para republicanos e outros reformistas, e a Igreja se opunha a elas para defender o velho regime absolutista, ao qual ela estava institucionalmente atrelada. No entanto, embora a sedição política eventualmente se sobressaísse na oposição da Igreja à Maçonaria, essa não era, em hipótese alguma, a razão originária de sua rejeição. O que Clemente XII denunciou originalmente não era uma sociedade republicana revolucionária, mas um grupo que propagava o indiferentismo religioso: a ideia de que todas as religiões (e nenhuma delas) têm igual validade, e que na Maçonaria estão todas unidas para servirem a um entendimento comum e mais elevado da virtude. Os católicos, como membros, deveriam colocar sua adesão à loja acima de sua pertença à Igreja. Em outras palavras, a proibição rigorosa da Igreja devia-se não a motivos políticos, mas ao cuidado com as almas.

Desde o princípio, a preocupação primária da Igreja foi a de que a Maçonaria submete a fé de um católico à da loja, obrigando-o a colocar uma fraternidade secularista fundamental acima da comunhão com a Igreja. A linguagem legal e as penalidades aplicadas nas condenações à Franco-maçonaria eram, na verdade, muito similares àquelas usadas na supressão dos albigenses: a Igreja vê a Franco-maçonaria como uma forma de heresia. Ainda que os próprios ritos maçônicos contenham um material considerável que pode ser chamado de herético — e até de explicitamente anticatólico, em alguns casos —, a Igreja sempre esteve muito mais preocupada com a filosofia geral da Franco-maçonaria do que com a ostentação de seus rituais.

Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a Igreja Católica e o seu lugar de privilégio no governo e na sociedade de muitos países europeus tornaram-se objeto de crescente oposição secular e até mesmo de violência. Existem, é verdade, poucas evidências históricas — se é que as há — de que as lojas maçônicas tenham desempenhado um papel ativo no início da Revolução Francesa. De qualquer modo, a causa dos horrores anticlericais e anticatólicos da Revolução pode ser encontrada na mentalidade secularista descrita pelas várias bulas papais que condenam a Maçonaria. As sociedades maçônicas foram condenadas não porque pretendessem ameaçar as autoridades civis e eclesiásticas, mas porque uma tal ameaça, na verdade, constituía a consequência inevitável de sua existência e crescimento. A revolução era o sintoma, não a doença.

A coincidência de interesses entre Igreja e Estado, e o ataque a elas empreendido por sociedades secretas revolucionárias, foram mais claros nos Estados Papais da Península Itálica, onde a Igreja e o Estado eram uma só coisa. Assim que começou o século XIX, ganhou notoriedade uma imitação da Franco-maçonaria, de caráter revolucionário explícito e oposição declarada à Igreja: eles se chamavam de Carbonari (“carbonários”, palavra italiana para “carvoeiros”) e, em sua campanha por um governo constitucional secular, praticavam tanto o assassinato quanto a insurreição armada contra os vários governos da Península Itálica, sendo identificados como uma ameaça imediata à fé, aos Estados Papais e à própria pessoa do Pontífice Romano.

A ligação entre a ameaça passiva da filosofia secreta maçônica e a conspiração ativa da Carbonária foi explicada na Constituição Apostólica Ecclesiam a Jesu Christo, do Papa Pio VII, promulgada em 1821. Mesmo tratando e condenando a oposição aberta e declarada dos Carbonari à governança temporal dos Estados Papais, ainda assim era claro que a mais grave ameaça colocada por essas células violentamente revolucionárias era a sua filosofia secularista.

Ao longo de todas as várias condenações papais à Franco-maçonaria, mesmo quando as lojas financiavam ativamente campanhas militares contra o papa, como fizeram com a conquista de Garibaldi e a unificação da Itália, o que sempre constituiu a primeira objeção da Igreja à Loja foi a ameaça que ela representava à fé dos católicos e à liberdade da Igreja de agir em sociedade. O fato de os ensinamentos da Igreja serem minados nas lojas, e a sua autoridade em matéria de fé e moral ser questionada, era repetidamente descrito como uma conspiração contra a fé, tanto nos indivíduos quanto em sociedade.

Um cartum de 1891 mostra o Papa Leão XIII combatendo a Maçonaria.

Na encíclica Humanum Genus, o Papa Leão XIII descreveu a agenda maçônica como sendo a exclusão da Igreja da participação em assuntos públicos e a perda gradual de seus direitos como um membro institucional da sociedade. Durante o seu tempo como papa, Leão escreveu um grande número de condenações à Franco-maçonaria, tanto no âmbito pastoral quanto no âmbito legislativo. Ele sublinhou em detalhes o que a Igreja considerava ser a agenda maçônica, agenda esta que, lida com um olhar contemporâneo, ainda é de uma relevância surpreendente.

Ele se referiu especificamente ao objetivo de secularizar o Estado e a sociedade. Ressaltou em particular a exclusão do ensino religioso das escolas públicas e o conceito de que “o Estado, que deve ser absolutamente ateu, tem o inalienável direito e dever de formar o coração e os espíritos de seus cidadãos” ( Dall’Alto dell’Apostolico Seggio, n. 6). Também denunciou abertamente o desejo maçônico de tirar da Igreja qualquer forma de controle ou influência sobre escolas, hospitais, instituições de caridade públicas, universidades e qualquer outra associação que servisse ao bem comum. Também deu um destaque específico ao impulso maçônico de repensar o matrimônio como um mero contrato civil, promover o divórcio e apoiar a legalização do aborto.

É praticamente impossível ler esta agenda e não reconhecer nela a base de quase todo o nosso discurso político contemporâneo. O fato de muitos de nossos principais partidos políticos, se não todos, apoiarem tranquilamente essas ideias, e o próprio conceito de Estado secular e suas consequências sobre a sociedade ocidental, incluindo a pervasiva cultura do divórcio e a disponibilidade quase universal do aborto, tudo isso é uma vitória da agenda maçônica. E isso levanta questões canônicas muito sérias sobre a participação católica no atual processo político secular.

Ao longo de séculos de condenações papais à Franco-maçonaria, era normal que cada papa incluísse nomes de novas sociedades que compartilhavam da filosofia e da agenda maçônicas e que, por isso, também deveriam ser entendidas pelos católicos, nos termos da lei canônica, como “maçônicas”. No século XX, isso chegou a incluir partidos políticos e movimentos como o comunismo.

Quando o Código de Direito Canônico foi reformado, após o Vaticano II, o cânon específico que proibia os católicos de aderirem a “seitas maçônicas” foi revisado. No novo código, promulgado em 1983 por São João Paulo II, a menção explícita à Franco-maçonaria foi retirada completamente. O novo cânon 1374 refere-se somente a associações “que maquine[m] contra a Igreja”. Muitos entenderam essa mudança como um indicativo de que a Franco-maçonaria não mais era considerada má aos olhos da Igreja. Na verdade, os membros do comitê responsável pela reforma esclareceram que eles queriam se referir não apenas aos franco-maçons, mas a muitas outras organizações; a conspiração da agenda secularista maçônica tinha-se espalhado para tão além das lojas que continuar usando um termo abrangente como “maçônico” seria confuso. O então Cardeal Ratzinger emitiu um esclarecimento da nova lei em 1983, no qual deixou claro que o novo cânon havia sido formulado para encorajar uma interpretação e uma aplicação mais abrangentes.

Dado o entendimento cristalino, no ensinamento da Igreja, do que a conspiração ou a agenda maçônica incluem — a saber, o matrimônio como um mero contrato civil aberto ao divórcio à vontade; o aborto; a exclusão do ensino religioso das escolas públicas; a exclusão da Igreja do provimento de bem-estar social ou do controle de instituições de caridade —, parece-nos impossível não perguntar: quantos de nossos partidos políticos no Ocidente não estariam agora sob a proibição do cânon 1374? A resposta talvez não agrade muito aqueles que querem ver um fim para a chamada “guerra cultural” dentro da Igreja.

Mais recentemente, o Papa Francisco tem falado repetidas vezes de sua grave preocupação com uma infiltração maçônica na Cúria e em outras organizações católicas. Ao mesmo tempo, ele alertou contra a Igreja se tornar uma mera ONG em seus métodos e objetivos — perigo que vem diretamente dessa mentalidade secularista a que a Igreja sempre chamou “filosofia maçônica”.

A infiltração maçônica na hierarquia e na Cúria tem sido tratada há muito tempo como uma espécie de versão católica do “bicho-papão” embaixo da cama, ou da paranoia macarthista com infiltrados comunistas. De fato, quando se conversa com pessoas que trabalham no Vaticano, rapidamente se descobre que, para cada dois ou três que riem dessa história, há pelo menos um que deparou diretamente com esse fato. Eu mesmo conheço pelo menos duas pessoas que, durante o tempo em que trabalharam em Roma, foram abordadas para se associarem. O papel das lojas maçônicas como ponto de encontros confidencial para pessoas com ideias e agendas heterodoxas mudou pouco desde a França pré-revolucionária até o Vaticano de hoje. 300 anos após a fundação da primeira Grande Loja Maçônica, o conflito entre a Igreja e a Franco-maçonaria nunca esteve tão vivo.

Fonte: Catholic Herald | Tradução: Equipe CNP

[*] Ed Condon é canonista e escreveu sua dissertação de doutorado sobre a história das sanções legais da Igreja contra os franco-maçons.




Por que os Bispos devem condenar a perigosa ponte do padre Martin?

A crise na Igreja hoje está acelerando a uma velocidade surpreendente, mesmo para os padrões pós-conciliares. Em nenhum lugar isso é mais óbvio que na atual mudança de como a Igreja Católica trata a homossexualidade.

Brian Williams.

OnePeterFive, 14 de junho de 2017.

[].

Tradução. Bruno Braga.

A crise na Igreja hoje está acelerando a uma velocidade surpreendente, mesmo para os padrões pós-conciliares. Em nenhum lugar isso é mais óbvio que na atual mudança de como a Igreja Católica trata a homossexualidade. A eleição do Papa Francisco, há quatro anos, os sínodos subsequentes sobre a família, e as várias promoções estratégicas na hierarquia, levaram a um momento decisivo nos anos de história da Igreja.

No final deste mês, a Harper Collins publicará o último livro do padre jesuíta James Martin, editor (“editor at large”) da America Magazine. Martin também é conhecido por sua grande presença nas redes sociais (mais de seguidores no Twitter e mais de meio milhão no Facebook), bem como por suas aparições no Colbert Report do canal Comedy Central, e por seu trabalho consultivo no filme recente de Martin Scorsese, Silence. Ele foi recentemente marcado pelo Papa Francisco para se juntar ao dicastério da Secretaria de Comunicações, em Roma, como consultor sobre os meios de evangelizar o mundo na era digital.

Aqui está o problema, e ele é conhecido por todo mundo na Igreja, mas infelizmente muitas vezes é perdoado ou arquivado: o padre James Martin tornou-se um ativista vocal para os “católicos LGBT”, chegando a receber prêmios de grupos dissidentes como o New Ways Ministry (que apoiou abertamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo e pediu para que a Igreja evolua nessa questão).

O padre Martin com frequência coloca artigos e citações nas redes sociais em apoio ao ativismo LGBT e aos seus pontos de discussão somente para receber aplausos de seus seguidores. Quando a doutrina é distorcida pelos mesmos seguidores, ou quando eles endossam atos homossexuais como normal e sagrado, o padre Martin não os corrige. Que ele semeia a confusão, é evidente, basta examinar por poucos minutos suas contas nas redes sociais.

No entanto, o padre James Martin, de várias formas, é uma representação perfeita da Igreja contemporânea. Ele é um cartaz pós-conciliar infantil. Ele é a encarnação da nova Igreja de Francisco, na qual o acompanhamento, o encontro e o diálogo (“construindo pontes”) têm lugar privilegiado sobre palavras desatualizadas como pecado, arrependimento, conversão, graça, julgamento, Céu ou Inferno.

É preciso apenas olhar para as aprovações dadas ao seu livro que será lançado em breve, Building a Bridge (tradução livre: “Construindo uma ponte”) para perceber onde estamos hoje. Estamos vivendo uma das maiores crises na história da Igreja.

Não um, mas dois Cardeais recém-promovidos endossaram o livro do padre Martin. O Cardeal Kevin Farrell, que o Papa Francisco nomeou como Prefeito do Dicastério para Leigos, Família e Vida, escreve:

“Um livro bem-vindo e necessário que irá ajudar Bispos, padres, associados pastorais e líderes de toda a Igreja a conduzir a comunidade LGBT com mais compaixão. Também ajudará os católicos LGBT a se sentirem mais em casa no que é, afinal, a sua Igreja”.

O Cardeal Joseph Tobin, de Newark, Nova Jersey, diz:

“Em muitas partes da nossa Igreja, as pessoas LGBT têm se sentido indesejadas, excluídas, e até envergonhadas. O padre Martin é corajoso, profético, e o novo livro inspirador marca um passo essencial no convite dos líderes da Igreja para servir com mais compaixão e lembrar os católicos LGBT que eles são uma parte da nossa Igreja como qualquer outro católico”.

O problemático e progressista Bispo de San Diego, Robert McElroy, nomeado pelo Papa Francisco, escreve:

“O Evangelho exige que os católicos LGBT devem ser autenticamente amados e conservados na vida da Igreja. Eles não são. O padre Martin nos provê com a linguagem, perspectiva e senso de urgência para substituir a cultura da alienação pela cultura da inclusão misericordiosa”.

Entre os apoios desses prelados, encontramos a Irmã Jeannine Gramick, do mencionado New Ways Ministry:

“O padre Martin mostra como o Rosário e a bandeira do arco-íris podem pacificamente se encontrar. Uma leitura obrigatória”.

Por que o New Ways Ministry convidaria o padre Martin para falar na cerimônia do seu prêmio Bridge Building, e por que a Irmã Gramick seria convidada a endossar o seu novo livro? Afinal, não procuram acompanhamento, mas aceitação – não de si mesmos – mas de seu estilo de vida.

É por isso que nós, leigos, precisamos dos nossos Bispos e padres – aqueles que ainda conservam a verdade do Evangelho e a doutrina católica – para condenar a ponte do padre Martin e um crescente número de Bispos e Cardeais. A ponte que está sendo construída não é projetada para o arrependimento, para a conversão e a santidade. Não é uma ponte construída para levar almas para o Céu. Na verdade, a linguagem inteira deste atual movimento é completamente vazia do sobrenatural. É uma linguagem terapêutica focada somente em um fim temporal: aceitação. É recrutamento para a cultura esquerdista em vez de proclamação da verdade do Evangelho.

O acompanhamento e o encontro propostos, essa ponte em construção, não significa tirar almas do pecado e conduzi-las a uma vida de graça, mas busca a conversão da Igreja. Espera que a Igreja evolua neste tema. Poucos no movimento se importam se a doutrina pode ou não mudar (não pode). A evolução pastoral cumpre o seu trabalho para eles. Pelo menos por enquanto.

Em comparação, olhe para o apostolado internacional Courage, que procura ajudar pessoas em luta contra a atração pelo mesmo sexo. Do seu site [1]:

“Pessoas com desejos homossexuais sempre estiveram entre nós; contudo, até um tempo recente, houve pouca divulgação formal da Igreja no modo como apoiar grupos ou informação para tais pessoas. A maioria foi deixada a trabalhar o seu caminho por conta própria. Como resultado, eles se viram ouvindo e aceitando a perspectiva da sociedade secular e optando por agir com os seus desejos do mesmo sexo”.

Concluindo sua proposta, o Courage nota:

“Ao ajudar os indivíduos a ganharem uma maior compreensão e apreciação dos ensinamentos da Igreja, especialmente no âmbito da castidade, o Courage estende o convite da Igreja a uma vida de paz e graça. Na vida casta encontra-se a paz e a graça para crescer na maturidade cristã”.

Aqui está a razão pela qual um apostolado como o Courage não receberá apoio público dos Cardeais e Bispos citados acima, ou do padre James Martin; começa com o entendimento claramente declarado de que o ato homossexual, como o sexo pré-marital, ou o adultério, ou qualquer outro pecado da carne, deve ser vencido. O seu acompanhamento não vem com o custo de semear confusão ou com um apoio tácito de uma continuação do estilo de vida homossexual.

O que o Courage tem que o incorreto novo movimento não tem é um profundo componente espiritual. Esta é a sua ponte, projetada para levar os homossexuais ativos de volta a uma vida de graça:

  1. Vida casta, viver de acordo com o ensinamento da Igreja Católica a respeito da homossexualidade (Castidade);
  2. Dedicar a Cristo nossas vidas como um todo através do serviço aos outros, da leitura espiritual, oração, meditação, direção espiritual individual, frequência na Missa e recepção frequente dos Sacramentos da Reconciliação e da Santa Eucaristia (Oração e Dedicação);
  3. Promover um espírito de companheirismo com o qual possamos compartilhar uns com os outros os nossos pensamentos e experiências e, assim, garantir que ninguém enfrentará os problemas da homossexualidade sozinho (Companheirismo);
  4. Estar ciente da verdade de que amizades castas são possíveis e necessárias em uma vida cristã casta; e encorajar uns aos outros a formar e manter essas amizades (Apoio);
  5. Ter uma vida que possa servir como bom exemplo para os outros (Bom exemplo / Modelo).

Outra razão pela qual essa nova ponte que está sendo construída é perigosa e deve ser condenada: ela é parte de um movimento em curso para cancelar a linguagem do Catecismo da Igreja Católica relacionada à atração pelo mesmo sexo. Infelizmente, isso está de acordo com a mensagem dada atualmente por Roma. No entanto, o Catecismo instrui [2]:

“A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que ‘os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados” (CIC 2357).

A gênese do livro do padre James Martin foi um artigo da America Magazine, intitulado Simply Loving [3], e o seu discurso no evento do New Ways Ministry, em outubro de 2016 [4]. Ambos fornecem a estratégia aplicada de não enfatizar e de confundir o ensinamento da Igreja sobre a sexualidade humana. Podemos decompor esta ponte defeituosa em três componentes:

A ausência de Conversão. Diferentemente do apostolado do Courage, em nenhum momento dessa estratégia são discutidos o arrependimento ou a conversão. Em vez disso, o foco está nos objetivos da linguagem excessivamente terapêutica e afeminada do “respeito, compaixão e sensibilidade”. O padre Martin observa que isso vem diretamente do parágrafo 2358 do Catecismo. Porém, quando separado da linguagem do parágrafo acima, o contexto e o equilíbrio são completamente perdidos. Intencionalmente. O autêntico acompanhamento católico requer que incluamos a linguagem do pecado e da graça, do julgamento e da misericórdia. Qualquer coisa diferente disso é dar aos nossos irmãos e irmãs lutadores uma falsa compaixão ou, pior, a afirmação do seu erro.

A linguagem secular da esquerda LGBT. O padre Martin declara que as pessoas têm o direito de se nomearem. Ele diz à sua audiência na cerimônia do New Ways:

“Nomes são importantes. Então, os líderes da Igreja são convidados a estarem atentos no modo como nomeiam a comunidade . e a enterrarem frases como ‘afligido com a atração pelo mesmo sexo’, que nenhuma pessoa . que eu conheço utiliza, e até ‘pessoa homossexual’, que parece excessivamente clínica para muitos… Estou dizendo que as pessoas têm um direito de se nomearem. Utilizar esses nomes é parte do respeito”.

No ambiente atual, onde a auto-definição cresceu para incluir fluidez de gênero e transgenerismo, as palavras do padre Martin são estranhamente semelhantes às da esquerda sexual. E mais, a atual designação “LGBT” para um grupo de pessoas é uma construção da Esquerda nos anos 1990. É uma identificação com um conjunto de crenças e uma agenda, baseada na aprovação e promoção da homossexualidade como um comportamento normal. E isso nos leva ao terceiro e último objetivo estratégico…

A despersonalização do católico com atração pelo mesmo sexo. O que o apostolado do Courage faz tão bem, e o que a religião católica sempre instruiu, é o reconhecimento da dignidade do indivíduo. O padre Martin e os Bispos que o apoiam também afirmam isso. O problema, no entanto, é que o rótulo LGBT e o movimento que eles resolveram abraçar fazem justamente o contrário. O indivíduo fica em segundo plano para o grupo e o comportamento. O católico com atração pelo mesmo sexo é definido pela sua sexualidade e por sua identidade política.

É interessante notar que o próprio padre Martin reconheceu isso durante o seu discurso no New Ways Ministry, embora a ironia parece ter sido perdida nele:

“Nisso, como em todas as coisas, Jesus é o nosso modelo. Quando Jesus encontrava pessoas pelas margens, ele não via uma categoria, mas uma pessoa”.

Porém, este não é o modelo que ele está seguindo.

O que deve ser feito agora é Bispos fiéis, sacerdotes e leigos abertamente se oporem a essa falsa misericórdia proposta por uma ponte defeituosa.

Os Bispos são a autoridade local em suas dioceses. Eles podem impedir qualquer padre ou Bispo de falar em suas paróquias e em conferências autorizadas. Isso é o que têm feito com o Bispo auxiliar aposentado Thomas Gumbleton, de Detroit, que no passado frequentou os mesmos eventos do New Ways Ministry.

O padre James Martin estará promovendo intensamente o seu novo livro nas próximas semanas. Ele provavelmente será convidado para falar em algumas paróquias ou na rádio católica local. Nossos Bispos e sacerdotes, e os leigos com uma plataforma para comunicar a mensagem, devem ajudar a impedir mais confusão.

Ninguém está mais ameaçado por essa perigosa ponte que aqueles irmãos e irmãs com atração pelo mesmo sexo. Que possamos ver mais sacerdotes e prelados conduzindo-os a um apostolado como o do Courage, e longe daqueles que procurariam “acompanhá-los” direto no penhasco.

(*) Originalmente publicado no [5]. A publicação foi atualizada.

NOTAS.

[1]. Cf. [].

[2]. Cf. [].

[3]. Cf. [].

[4]. Cf. [].

[5]. Cf. [].




Será possível comunicar-se com os falecidos?

Por Dom Frei Boaventura Kloppenburg — Nós cristãos católicos admitimos e proclamamos a imortalidade da alma. Cremos na sua sobrevivência consciente logo depois da separação do corpo pela morte. Acreditamos que as almas dos falecidos continuam solidárias com os que ainda vivemos nesta peregrinação terrestre. Professamos nossa fé na comunhão dos santos. Podemos comunicar-nos com os falecidos mediante a oração invocativa.

Não seria possível, então, que os falecidos também se comunicassem conosco?

A doutrina cristã sobre a comunhão dos santos se refere à comunicação mútua de bens espirituais, no plano inteiramente imperceptível da fé. É certo que a Bíblia menciona várias vezes aparições perceptíveis de espíritos do além. Assim o evangelista Lucas nos relata que “o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. Entrando na casa onde ela estava, disse-lhe: Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 26-28). Jesus ressuscitado apareceu a Saulo a caminho de Damasco e falou com ele (cf. At 9). A Igreja aprovou aparições de Nossa Senhora em Lourdes e em Fátima.

Trata-se, nestes casos, evidentemente, de comunicações perceptíveis vindas do além. A fé cristã, por conseguinte, admite não somente a mera possibilidade de comunicações sensíveis, mas afirma fatos reais deste tipo de trato entre o além e o aquém.

Não devemos, porém, esquecer que Lucas nos informa que o Anjo “foi enviado por Deus”. Quem negará a Deus todo-poderoso a capacidade de enviar-nos seus mensageiros?

Quando Deus manda, a iniciativa é sua; e a conseqüente manifestação do além toma para nós um caráter espontâneo.

Bem outra é a situação quando a iniciativa é nossa, querendo nós provocar alguma conversação com entidade do além. Quem pretende provocar a manifestação de algum falecido para dele receber mensagem ou notícia pratica um ato chamado pelos antigos de necromancia, expressão que vem do grego nekrós = falecido e mantéia = adivinhação. E quem intenta comunicar-se com o além com o fim de colocá-lo a serviço do homem realiza um ato já conhecido pelos antigos como magia. Quando a esperada ação da evocada entidade do além é a favor do homem ou para o bem, chama-se magia branca, mas será sempre “magia”. E se for para o mal, será magia negra ou malefício, feitiçaria, bruxaria.

Tais comunicações provocadas do além, seja na forma de necromancia, seja na de magia (branca ou negra, pouco importa), são conhecidas também como evocação. Há diferença fundamental entre invocação e evocação: esta sempre pretende uma comunicação perceptível provocada por iniciativa do homem; aquela é apenas uma forma de prece ou súplica.

É evidente que a invocação é um ato bom e cristão, expressão da comunhão dos santos.

Mas que dizer da evocação?

Para esta pergunta recebemos da revelação divina resposta clara e insistente:

  • Êxodo 22, 17: “Não deixarás viver os feiticeiros”. Aqui, a palavra “feiticeiros” engloba todos aqueles que praticam qualquer tipo de evocação: necromantes e magos, sem excluir os que se entregam à magia branca. Deviam ser condenados à morte.
  • Levítico 19, 31: “Não vos voltareis para os necromantes nem consultareis os adivinhos, pois eles vos contaminariam. Eu sou Iahweh, vosso Deus”.
  • Levítico 20, 6: “Aquele que recorrer aos necromantes e aos adivinhos para ter comunicação com eles, voltar-me-ei contra esse homem e o exterminarei do meio de seu povo”. Portanto são condenados também aqueles que simplesmente consultam os necromantes.
  • Levítico 20, 27: “O homem ou a mulher que entre vós forem necromantes ou adivinhos serão mortos; serão apedrejados, e o seu sangue cairá sobre eles”.
  • Deuteronômio 18, 10-14: “Que em teu meio não se encontre alguém que faça presságio, oráculos, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou evoque os mortos, pois quem pratica essas coisas é abominável a Iahweh, e é por causa dessas abominações que Iahweh teu Deus os desalojará em teu favor. Tu serás íntegro para com Iahweh teu Deus. Eis que as nações que vais conquistar ouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, isso não te é permitido por Iahweh teu Deus”.
  • 2 Reis 17, 17, enumerando as infidelidades de Israel, pelos quais foi castigado: “… Praticaram a adivinhação e a feitiçaria e venderam-se para fazer o mal na presença de Iahweh, provocando sua ira. Então Iahweh irritou-se sobremaneira contra Israel e arrojou-o para longe de sua face…”
  • 2 Reis 21, 6: descrição dos crimes do rei Manassés: “Praticou encantamentos e a adivinhação, estabeleceu necromantes e adivinhos e multiplicou as ações que Iahweh considera más, provocando assim a sua ira”.
  • Isaías 8, 19-20: o profeta se levanta contra aqueles que dizem: “Consultai os necromantes e os adivinhos que sussurram e murmuram”.
  • Destaque especial merece a consulta do rei Saul à necromante de Endor, narrada em 1 Samuel 28, 3-25. Estando em dificuldades na guerra contra os filisteus, e sem saber o que fazer, o rei Saul disse aos seus servos: “Buscai-me uma necromante para que eu lhe fale e a consulte”. Informaram-lhe os servos que havia uma na localidade de Endor, ao sul do monte Tabor. Saul então disfarçou-se e, de noite, acompanhado de dois homens, foi à casa da necromante (os espíritas diriam “médium”) e lhe pediu para evocar o falecido Samuel. Segundo o texto, Samuel de fato compareceu e disse a Saul: “Por que perturbas o meu repouso, evocando-me?” Saul respondeu: “É que estou em grandes angústias. Os filisteus guerreiam contra mim, Deus se afastou de mim, não me responde mais. Então vim te chamar para que me digas o que tenho que fazer”. Respondeu Samuel: “Por que me consultas, se Iahweh se afastou de ti e se tomou teu adversário?” E lhe anunciou os castigos de Deus.
  • Em Eclesiástico 46, 20 lemos a respeito deste caso de evocação: “Mesmo depois de morrer, (Samuel) profetizou, anunciou ao rei (Saul) seu fim, do seio da terra elevou sua voz para profetizar, para apagar a iniqüidade do povo”. Segundo os textos citados, parece que se deve admitir que o falecido Samuel, evocado pela necromante de Endor, realmente compareceu. Todo o contexto, todavia, deixa evidente que se trata de caso excepcional, sendo a evocação não a causa, mas a ocasião aproveitada por Deus para autorizar o comparecimento do falecido profeta e anunciar os castigos ao rei desobediente e infiel. Deste episódio singular não se pode inferir que nos outros casos os necromantes e magos conseguissem de fato fazer comparecer os falecidos evocados.
  • Aliás, em 1 Crônicas 10, 13-14, somos assim informados acerca do fim do rei: “Saul pereceu por se ter mostrado infiel para com Iahweh, não seguira a palavra de Iahweh e, além disso, interrogara e consultara uma necromante. Não consultou a Iahweh, que o fez perecer e transferiu a realeza a Davi, filho de Jessé”.

Clara, repetida, enérgica e severíssima é, pois, a proibição divina de evocar os falecidos. E este mandamento divino não foi revogado na Nova Aliança. Eis alguns exemplos:

  • Em Atos 13, 6-12, Paulo e Barnabé encontram em Patos um judeu “mago e falso profeta”, que se opunha à missão apostólica dos dois. Paulo, repleto do Espírito Santo, lhe disse: “Filho do diabo, cheio de toda a falsidade e malícia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os retos caminhos do Senhor? Eis que agora o Senhor faz pesar sobre ti a sua mão”.
  • Em Atos 16, 16-18, Paulo, estando em Filipos, dá com uma jovem escrava “que tinha um espírito de adivinhação e obtinha para seus amos muito lucro, por meio de oráculos”. Paulo disse ao espírito que estava na jovem: “Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo: sai desta mulher!” E o espírito saiu no mesmo instante.
  • Em Atos 19, 11-20 descreve-se a atividade e a pregação de Paulo em Éfeso, com este resultado: “Muitos daqueles que haviam crido vinham-se confessar e revelar suas práticas. Grande número dos que se haviam dado à magia amontoavam os seus livros e os queimavam em presença de todos. E estimaram o valor deles em cinqüenta mil peças de prata”. Deviam ser muitos os livros de magia! O fato de eles queimarem estes livros só se explica se admitirmos que o Apóstolo falou fortemente contra as práticas da magia.
  • Na carta aos Gálatas (5, 20-21) declara o mesmo Apóstolo que os que praticam a magia “não herdarão o Reino de Deus”.
  • E São João, no Apocalipse, revela que a porção dos magos se encontra no lago ardente de fogo e enxofre (21, 8); e que, na hora do julgamento, os magos ficarão de fora da Cidade Eterna (22, 15).

Posteriormente, a Igreja sempre se manteve fiel a esta rigorosa interdição divina de evocar os falecidos. No último Concílio, o Vaticano II, em 1964, a Constituição Lumen Gentium, temendo que a doutrina sobre nossa comunicação espiritual com os falecidos pudesse dar azo a interpretações do tipo espiritista, acrescentou ao texto do n. 49 a nota n. 2 (no site do Vaticano, n. 147), “contra qualquer forma de evocação dos espíritos“, coisa que, esclareceu a comissão teológica responsável pela redação do texto, nada tem a ver com a “sobrenatural comunhão dos santos”. A comissão definiu então mais claramente o que se proibia: “A evocação pela qual se pretende provocar, por meios humanos, uma comunicação perceptível com os espíritos ou as almas separadas, com o fim de obter mensagens ou outros tipos de auxílio”.

O Concílio Vaticano II nos remete então a vários documentos anteriores da Santa Sé (já no dia 27 de setembro de 1258 o papa Alexandre IV falara disso), principalmente à declaração de 4 de agosto de 1856 (cf. Denz. 2823-2825) e à resposta de 24 de abril de 1917 (cf. Denz. 3642). Na declaração de 4 de agosto de 1856, precisamente quando Allan Kardec se iniciava no espiritismo, era repetida a proibição de “evocar as almas dos mortos e pretender receber suas respostas”. No documento de 24 de abril de 1917 se declarava ilícito “assistir a sessões ou manifestações espiritistas, sejam elas realizadas ou não com o auxílio de um médium, com ou sem hipnotismo, sejam quais forem estas sessões ou manifestações, mesmo que aparentemente simulem honestidade ou piedade; quer interrogando almas ou espíritos, ou ouvindo-lhes as respostas, quer assistindo a elas com o pretexto tácito ou expresso de não querer ter qualquer relação com espíritos malignos”.

No dia 31 de março de 1892 a Santa Sé publicou sua resposta oficial a um caso imaginado de evocação no qual as circunstâncias descritas eram as mais favoráveis. Eis a exposição do caso, a pergunta e a resposta:

“Tito, depois de excluir qualquer comunicação com o mau espírito, tem o costume de evocar as almas dos defuntos. Costuma proceder da seguinte maneira: Quando está só, sem outra preparação, dirige uma prece ao príncipe da milícia celeste a fim de obter dele o poder de comunicar-se com o espírito de determinada pessoa. Espera algum tempo; depois, enquanto conserva a mão pronta para escrever, sente um impulso que lhe dá a certeza da presença do espírito. Expõe então as coisas que deseja saber e sua mão escreve as respostas a estas questões. Tais respostas concordam inteiramente com a fé católica e a doutrina da Igreja acerca da vida futura. Geralmente elas falam sobre o estado em que se encontra a alma do tal falecido, pedem sufrágios etc. É lícito proceder desta maneira?” — A resposta oficial, aprovada pelo papa Leão XIII, foi categórica: ” O que foi exposto não é permitido“.

Transcrito e levemente adaptado do livro ” Espiritismo, orientação para católicos“,
de Dom Frei Boaventura Kloppenburg (Loyola), pp. 26-27.

 

Fonte:




Maçonaria começa a lavar sua imagem nas Ilhas Canárias

A Maçonaria quer crescer na Espanha, e começa uma campanha para atrair a opinião pública. O primeiro passo foi dado recentemente nas Ilhas Canárias.

 

Infovaticana, 27 de julho de 2017.

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Tradução. Bruno Braga.

Juan E. Pflüger / La Gaceta [1] – No dia 23 de junho, a Grande Loja da Espanha, articulada com a sua subordinada na província das Ilhas Canárias, celebrou uma marcha maçônica em Las Palmas de Gran Canaria. O objetivo, segundo eles, era render homenagem aos quatro prefeitos da localidade que pertenceram a essa obediência maçônica.

A realidade é outra: os maçons na Espanha não conseguem se desenvolver como em outros países europeus e pretendem sair do armário para tentar captar novos adeptos. Por isso, elegeram a comunidade autônoma onde têm mais membros: as Ilhas Canárias.

Na Espanha existem duas lojas maçônicas reconhecidas: a Grande Loja da Espanha-Grande Oriente Espanhol, dependente da maçonaria francesa; e a Grande Loja Simbólica Espanhola. No total, não chegam a membros.

A Grande Loja da Espanha é maior e conta com mais de membros, dos quais quase 500 estão nas Ilhas Canárias. Mantém 180 lojas locais – centros de reunião – e tem um Supremo Conselho que regula todas as atividades dos membros. À frente do Grande Oriente está, com o título de Grão-mestre, o advogado valenciano Óscar de Alfonso. Um dos principais promotores dessa saída do armário para tentar expandir-se socialmente.

A Grande Loja Simbólica é mais reduzida, embora, diferentemente da anterior, admita mulheres entre os seus membros. Não ultrapassa 300 iniciados na Espanha. Também tem o seu próprio Supremo Conselho e seu Grão-mestre, a aragonesa Nieves Bayo Gallego (desde 2012), que fez do laicismo sua principal bandeira dentro da organização.

O número de maçons na Espanha é muito inferior ao de outros países. França e Inglaterra têm cerca de meio milhão de inscritos em suas lojas, nos Estados Unidos os maçons são milhões e, na Alemanha, são aproximadamente . Graças à legislação imposta durante o franquismo, que proibia o desenvolvimento desses grupos secretos, em nosso país continuam sendo muito minoritários. Agora pretendem se dar a conhecer e se expandir em um ambiente no qual muitas de suas propostas já são impostas socialmente.

Entre esses objetivos se encontram aqueles que pretendem a implantação da ideologia de gênero, o ataque contra a família e o globalismo. A engenharia social que hoje é implantada na Espanha com medidas favoráveis a grupos LGBT, a imigração descontrolada ou os movimentos de ruptura da Espanha, são êxitos de seus postulados que lhes dão asas para tentar crescer.

As conquistas da Maçonaria são sentidas inclusive dentro das hierarquias eclesiásticas. Recentemente, o Cardeal Ravasi, responsável pelo Conselho Pontifício para a Cultura, dirigiu-se aos “queridos irmãos maçons“, pedindo-lhes para superar anos de enfrentamento e solicitando que sejam criadas “pontes, não muros”.

Uma forma de agir, por parte de um responsável da Igreja Católica, que vai contra a excomunhão que pesa sobre os membros da Maçonaria e que os torna incompatíveis – contanto que sigam com suas obediências maçônicas – com o Cristianismo. E mais, desde o princípio do século XX, todos os ataques contra a religião católica são inspirados pela Maçonaria. Assim aconteceu no México pós-revolucionário de Plutarco Elías Calles e na Espanha da Segunda República.

Como assegura Alberto Bárcena, um dos maiores especialistas espanhóis no estudo da Maçonaria, “estão em um processo de normalização, de ‘sair do armário’, como eles mesmos dizem. Pretendem blindar a Maçonaria, proteger a honorabilidade da Maçonaria”. Cunharam já a palavra ‘maçonfóbico’ [“masófobo”]. Cuidado, pois quando cunham a palavra tipificam a conduta. ‘Maçonfóbico’ é aquele que denuncia as políticas da Maçonaria. E ‘maçonfóbico’ é o equivalente a ‘homofóbico’, palavra que sequer existia, mas agora não só existe como pode levá-lo à lei, tipifica-se como uma conduta punível”.

NOTAS.

[1]. Cf. [].




O Vaticano está apoiando uma “falsa” igreja na China

John-Henry Westen.

LifeSiteNews, 14 de julho de 2017.

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Tradução. Bruno Braga.

O Cardeal Joseph Zen, principal Cardeal da China e conselheiro-chave do Papa Bento XVI sobre as relações China-Vaticano, denunciou um novo acordo do Vaticano com o governo chinês ateu comunista [1] em uma entrevista para o canal polonês Polonia Christiana. O ex-Arcebispo de Hong Kong comparou a atual situação da Igreja na China com os tempos da brutal repressão física dos anos 1950 e 1960, dizendo que a situação hoje é pior.

“Por quê? Porque a Igreja foi enfraquecida”, disse. “Lamento muito dizer que o governo não mudou, e que a Santa Sé está adotando uma estratégia equivocada. Estão muito ansiosos para dialogar, dialogar e dizer para todo mundo que não faça barulho, para acomodar, comprometer, obedecer ao governo. As coisas agora estão caindo, caindo”.

Explicando como se chegou a esta situação intolerável, ele sugere que o Papa Francisco é ingênuo, tendo experienciado o comunismo na América Latina, não na sua forma totalitária como na China ou na Polônia. Assim, ele diz, os Papas João Paulo II e Bento XVI entenderam a situação, enquanto o Papa Francisco está confuso.

“Na superfície”, ele afirma que no novo acordo parece que “a autoridade do Papa está protegida, pois dizem que o Papa tem a última palavra”.

“Mas é tudo falso. Eles estão dando o poder decisivo para o governo… Como a iniciativa de escolher Bispos pode ser dada a um governo ateu? Inacreditável. Inacreditável”.

O Cardeal de 85 anos, nascido em Xangai, explica que o Papa Francisco pode acreditar que está tudo bem com o acordo, porque “no papel” o governo aprova a eleição na Conferência dos Bispos e, então, o Papa tem a última palavra. “Mas a eleição e a Conferência dos Bispos são falsas”, e o Papa nunca pode dizer não para os bispos sugeridos.

Zen diz que não existem eleições reais na China. “Tudo é decidido antes”.

“Eu realmente não posso acreditar que a Santa Sé não sabe que não existe Conferência dos Bispos! Existe apenas um nome. Eles nunca têm uma discussão de fato, encontros. Eles se encontram quando são convocados pelo governo. O governo dá as instruções. Eles obedecem. É falso”.

O Cardeal Zen recordou a declaração do Papa Bento XVI de que não há uma Conferência dos Bispos legítima na China. Existem bispos ilegítimos na Conferência e Bispos legítimos subterrâneos que não estão nela, explicou o Cardeal.

Respondendo a objeção de que historicamente reis e imperadores fizeram Bispos, o Cardeal Zen disse: “Pelo menos eram reis e imperadores cristãos. Mas estes são comunistas ateus. Eles querem destruir a Igreja ou, se não podem destruí-la, querem enfraquecê-la”.

NOTAS.

[1]. Cf. [].




Bispos pedem à Virgem Maria para livrar a Venezuela das garras do comunismo

CARACAS, 31 Jul. 17 / 10:00 am (ACI).- Através de sua conta no Twitter, a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) pediu à Virgem Maria, sob o título de Nossa Senhora de Coromoto, que livre o país “das garras do comunismo”.

“Virgem Santíssima, Mãe de Coromoto, celestial Padroeira da Venezuela, livra nossa Pátria das garras do comunismo e do socialismo”, escreveu a CEV no dia 30 de julho, com uma imagem da Santa Maria e uma bandeira venezuelana.

No dia 30 de julho, foi realizada na Venezuela a eleição para os membros da Assembleia Constituinte, convocada pelo presidente Nicolás Maduro, em uma tentativa mais de concentrar o poder e eliminar a Assembleia Nacional, órgão legislativo venezuelano que conta com maioria opositora.

A convocação da Assembleia Constituinte foi duramente criticada pelos bispos venezuelanos, que em um comunicado divulgado em 27 de julho, classificaram-na de “inconstitucional”, assim como de “desnecessária, inconveniente e prejudicial para o povo venezuelano”.

 

Fonte:  




Não deixem morrer a memória de Charlie Gard

Se o bebê Charlie Gard tivesse recebido mais cedo o tratamento para sua doença, ele teria o potencial para crescer como um garoto normal e saudável.

Em linhas gerais, foi o que afirmaram ontem Chris Gard e Connie Yates, os pais do pequeno Charlie Gard, que há quase um ano batalhavam na Justiça pelo direito de tentarem um tratamento especial para seu filho, acometido por uma doença genética rara. Com base na recente avaliação feita por um especialista norte-americano, segundo a qual os músculos da criança já se tinham deteriorado de modo irreversível, os pais chegaram ontem, dia 24 de julho, à difícil decisão de deixar o seu filho partir.

A declaração dos pais de Charlie Gard já correu o mundo e é realmente, como disseram algumas matérias em inglês, “de cortar o coração” (heartbreaking). Quem quer que se comova, porém, com a voz embargada do pai e o desconsolo da mãe, devastados por terem que ver o seu filho morrer, não se esqueça o que provocou essa dor. Não foi simplesmente uma enfermidade grave que lhe tornou inviável a vida. Antes que a sua condição piorasse, um grupo de burocratas — médicos e juízes, em grande parte — arrogou para si o direito de decidir o futuro de Charlie, impedindo que ele saísse do hospital em que se encontrava e atropelando a vontade de seus pais de lutar pela vida e pela saúde de seu filho.

Por isso, neste início de semana, o mundo assiste não só à morte de uma criança, mas também à triste vitória do Estado contra a família; à triste vitória da “cultura da morte”, em última instância, contra a própria dignidade humana.

Esses pais que perderam o seu filho, infelizmente, não foram nem serão os primeiros. Há um movimento global se aproveitando da crise em que vivem muitas de nossas famílias para enfraquecer o pátrio poder, quando não para extingui-lo por completo. Nesse caso em particular, a intervenção descabida do Estado provocou a morte de Charlie. Na Noruega, porém, já há algum tempo, famílias estão perdendo sem mais nem menos a guarda de seus filhos e, em outros tantos lugares do mundo, quantos pais já não perderam as suas crianças, por exemplo, para a educação sexual permissiva que lhes é ministrada nas escolas!

A batalha pela vida dessa criança específica, Charlie Gard, está chegando ao fim. Mas a guerra que já agora precisamos travar, enquanto família, para resistir à intromissão estatal em nossas casas, essa só está começando.

Por isso, não deixem a memória de Charlie Gard morrer. Que o seu exemplo sirva para nos lembrar os sacrifícios que precisaremos fazer, no mundo moderno, pela sobrevivência e salvação eterna de nossos filhos.

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

 

Fonte




A Igreja Anglicana “sai do armário” e caminha para a extinção

O relativismo moral foi o solvente mais corrosivo para a Igreja Anglicana, que perdeu nas últimas décadas a metade de seus fiéis. A gota d’água tem sido a ideologia de gênero: quanto mais ela “sai do armário”, menor é o número de seus fiéis. E é chamativo o fato de que muitos deles se convertam ao catolicismo. O que ocorre é que, quanto mais o anglicanismo se esforça por adaptar-se ao mundo e ao politicamente correto, mais fiéis o abandonam. Quanto mais relativismo, menos adeptos. E o coroamento deste processo é a ideologia de gênero.

A única serventia da ordenação de “bispas” ou de serviços religiosos para transsexuais tem sido afugentar muitos fiéis. Em 30 anos, a comunidade fundada no século XVI pelo impudico Henrique VIII perdeu a metade de seus fiéis. E o vazamento continua…

A hierarquia anglicana, em todo o caso, exigiu que Governo do Reino Unido proibisse as terapias para quem deseja modificar uma atração homossexual indesejada.

Os líderes anglicanos consideram que “não há espaço no mundo moderno” para que uma pessoa procure voluntariamente ajuda profissional para deixar de ser homossexual. O arcebispo anglicano de York, John Sentamu, manifestou-se de maneira clara a favor da proibição: “Só poderei dormir tranquilamente quando proibirem esta prática.” O bispo de Liverpool, Paul Bayes, afirmou que a orientação LGBTI não é nem crime nem pecado: “Não precisamos levar as pessoas para terapia se elas não estão doentes.”

A proposta foi finalmente aprovada por 298 votos a favor, 74 contra e 26 abstenções provenientes dos três “estados”, formados por bispos, clérigos e leigos, do sínodo da Igreja da Inglaterra.

Serviços religiosos especiais para transsexuais

O sínodo geral da Igreja Anglicana exigiu ainda, por uma ampla maioria de 285 votos a 78, que os bispos proporcionem serviços religiosos específicos para as pessoas transsexuais.

A proposta consiste em elaborar “materiais litúrgicos” que possam ser utilizados com o propósito de “reafirmar o seu longo, angustiante e muitas vezes complexo processo de transição”.

De acordo com o jornal The Guardian, ao longo dos 75 minutos em que foi debatida a questão, nenhum dos presente expressou a ideia de que o sexo é determinado biologicamente.

Antecedentes

Longe, porém, de atenuar o êxodo de fiéis, o que a ideologia de gênero faz é acentuá-lo. Com efeito, a Igreja Anglicana vem tomando há várias décadas uma série de decisões que, além chocar-se com a tradição cristã em geral, parecem cada vez mais alinhadas aos preceitos do relativismo.

Por isso, os anglicanos permitem desde 1995 que as mulheres exerçam a função de “sacerdotisas”; desde 2000, que os divorciados celebrem novas núpcias religiosas; e desde 2004 que as sacerdotisas ocupem o cargo de “bispas”. Em 2003, seus irmãos episcopais dos Estados Unidos ordenaram o primeiro bispo abertamente homossexual da comunidade anglicana.

Êxodo para o catolicismo

Não deixa de ser significativo que uma parte expressiva dos anglicanos que abandonam essa religião volte para Roma. O número de comunidades anglicanas que solicitaram em 2005 plena comunhão com a Igreja Católica Romana não foi pequeno: representava por volta de fiéis.

O pedido foi feito por meio dos chamados Ordinariatos Anglocatólicos, que se formalizaram com a Constituição Apostólica ” Anglicanorum Cœtibus“, de Bento XVI.

A uma geração da extinção

Lorde Carey, arcebispo de Canterbury entre 1991 e 2002, já tinha advertido em 2015 que “a Igreja da Inglaterra encontra-se a uma geração da extinção”.

Em 1983, havia no Reino Unido 16,5 milhões de anglicanos. Esta cifra reduziu-se à metade em apenas 30 anos e a assistência semanal aos serviços religiosos caiu para menos de um milhão de pessoas, ou seja, por volta de 1,4% da população.

Por Nicolás de Cárdenas | Fonte: Actuall | Tradução: Equipe CNP

 

Fonte:




O testemunho do Cardeal Meisner sobre Fátima e os dubia

Como informamos no início desta semana, o Cardeal Joachim Meisner, um dos quatro Cardeais dos dubia, faleceu no dia 05 de julho. O Cardeal alemão adormeceu pacificamente enquanto rezava o seu breviário em preparação para oferecer pela manhã o Sagrado Sacrifício da Missa.

Image credit: Dr. Michael Hesemann

Maike Hickson.

OnePeterFive, 08 de julho de 2017.

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Tradução. Bruno Braga.

Como informamos no início desta semana [1], o Cardeal Joachim Meisner, um dos quatro Cardeais dos dubia, faleceu no dia 05 de julho [2]. O Cardeal alemão adormeceu pacificamente enquanto rezava o seu breviário em preparação para oferecer pela manhã o Sagrado Sacrifício da Missa.

Na esteira das notícias da morte do Cardeal Meisner, o Dr. Michael Hesemann – o historiador alemão da Igreja que nos forneceu um importante documento de 1918 dos Arquivos do Vaticano sobre o plano maçônico para atacar o trono e o altar [3] – escreveu na sua página do Facebook um tributo ao Cardeal alemão que ele conheceu pessoalmente, e bem [4].

Na sua homenagem, o Dr. Hesemann cita uma carta particular que o Cardeal Meisner lhe escreveu no dia 29 de dezembro de 2016, palavras que agora parecem uma parte do testemunho espiritual do Cardeal (Meisner também escreveu um testamento espiritual público, ao qual retornaremos mais tarde. Este testamento mais privado, contudo, é até mais pertinente, na medida em que o Cardeal Meisner foi o único dos quatro Cardeais dos dubia que nunca fez declarações públicas sobre sua própria participação e apoio à iniciativa). Aqui seguem algumas das palavras privadas do Cardeal Meisner no final de 2016, tal como citadas pelo Dr. Hesemann:

“‘Vivemos em um tempo de confusão, não somente na sociedade, mas também na Igreja‘, ele [Meisner] me escreveu ainda em 29 de dezembro de 2016; como estava certo! E ele acrescentouescrevendo como se fosse uma mensagem para todos os Bispos e ao mesmo tempo como uma explicação para a sua assinatura dos dubia: ‘O pastor é eleito por Cristo com o objetivo de preservar o rebanho do erro e da confusão'” [ênfases adicionadas].

Depois de citar essas palavras memoráveis sobre a crise atual na Igreja e sobre o dever intrínseco do Papa, o Dr. Hesemann continua, referindo-se à importância que o Cardeal Meisner dava à mensagem de Fátima:

“Ele [Meisner], que está mais intimamente ligado à mensagem de Fátima que qualquer outro Bispo alemão, e que se encontrou várias vezes com o a Irmã Lúcia, a vidente, na época [dezembro de 2016] depositou muita esperança sobre o Ano de Fátima de 2017, e esperava ‘que a Mãe de Deus não nos deixaria afogar na confusão e no pecado'”.

É possível ver quão penetrantes são essas palavras de oração quando consideramos as seguintes palavras do Dr. Hesemann:

“Ele [Meisner] não poderia prever que, no mesmo ano [2017], a Alemanha facilmente passaria e aprovaria o ‘casamento’ homoafetivo anticristão [Veja aqui mais informações [5]]. Contudo, as últimas palavras que ele escreveu para mim tornaram-se ainda mais pertinentes – sim, elas soam como um testamento, seu último aviso para o nosso tempo: ‘Desde então, mal existe na nossa sociedade a memória da criação, também se esqueceu quem e o que é o homem. Por isso, agora a confusão total, e ainda se pensa assim servir a humanidade”.

Somos gratos ao Dr. Hesemann por publicar as palavras de um dos quatro corajosos Cardeais dos dubia, e que recebeu em um passado recente muitas críticas por tê-los assinado. Em dezembro de 2016 [6], noticiamos em fortes tons que vieram de fontes alemãs – isto é, do braço alemão da Rádio Vaticano e do , o website da Conferência dos Bispos da Alemanha – que utilizaram palavras como “traição” e “renegado” com relação ao Cardeal Meisner. Como relatamos naquela época, Meisner pode ter sido especialmente escolhido por essa crítica também pelo fato de ele ter sido a força condutora no Conclave de 2005 para ter Joseph Ratzinger eleito Papa [7].

Paul Badde, um jornalista alemão, acadêmico e especialista em Vaticano que conheceu o Cardeal Meisner pessoal e intimamente, e por muitos anos – e que até o teve como conselheiro ao escrever sobre as notícias da Igreja – também nos recordou, no seu particular e emocionante tributo ao Cardeal alemão, o papel importante de Meisner no Conclave de 2005 [8]. Badde diz que foi Meisner quem “durante o Conclave, descobriu e frustrou a trama do chamado grupo Sankt Gallen contra a mesma eleição [a de Joseph Ratzinger]”. Badde continua:

“Naquela época, ele tornou-se o ‘criador do Papa’ [‘pope-maker’], ao lado do Espírito Santo, claro. ‘Hoje lutei como nunca antes na minha vida’, ele me disse naquele momento, no caminho de casa da Capela Sistina ao seu alojamento no fundo da colina de Gianicolo. Mais, ele não tinha permissão para dizer” [ênfase minha].

Retornemos ao tema de Fátima. O Cardeal Meisner uma vez descreveu em uma conferência como, durante os seus mais de 40 anos de vida sob o Comunismo na Alemanha Oriental, os comunistas sempre tiveram uma aversão especial contra Fátima, e relatou que eles nunca permitiram um católico viajar a Fátima [9]. “Sempre nos foi negado”. “Não nos era permitido falar muito sobre Fátima, porque isso seria sempre interpretado como propaganda anti-soviética”, explicou o Cardeal Meisner. Para ele, pessoalmente, era um sinal de que “o demônio percebe quando está seriamente em perigo”.

Em 2016, pouco depois do breve encontro em Cuba entre o Papa Francisco e o Patriarca ortodoxo Kirill, o Cardeal Meisner propôs, na mesma conferência citada acima, que esse evento histórico poderia inspirar os líderes católico e ortodoxo a “nos consagrar todos à Mãe de Deus em meio às dificuldades atuais, como os videntes de Fátima propuseram” [ênfase adicionada]. Portanto, ele apoiava a ideia da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.

O Cardeal Meisner mostrou sua devoção a Fátima em outras ocasiões. Em 2013, em uma homilia na Vigília da Festa de Nossa Senhora de Fátima [10], no dia 13 de maio, o Cardeal Meisner fez uma apresentação muito bonita sobre a importância de Fátima, do Rosário em particular. Recordando o ano de 1917, o prelado disse:

“A luz da Fé se extinguiu no Leste Europeu (com a Revolução Russa), mas, no Ocidente, a luz da Fé uma vez mais surgiu: isto é, a mensagem de Maria sobre a superação do mal com o bem, sobre a derrota de tanques e canhões por meio da oração. E isso foi em Fátima”.

Meisner acrescentou que foi em Fátima – em Portugal – que Nossa Senhora “encontrou uma base a partir da qual ajudou a superar a incredulidade”. Então, ele completa: “Bendita és tu, Portugal, porque acreditaste!”

Foi depois do atentado de 1981 contra o Papa João Paulo II – que acreditava fortemente que sua vida fora salva por intercessão de Nossa Senhora de Fátima – que o Papa pediu para o Cardeal Meisner celebrar uma Santa Missa em Fátima, em 1990, no “primeiro dia de Fátima sem o Império Bolchevique”, e celebrá-la “em ação de graças pela libertação do Comunismo” (voltaremos a essa homilia de 1990). Aos olhos de Meisner, foi por meio de Fátima que a mudança política aconteceu no Leste Europeu, em 1989. “Como uma arma contra a impiedade, a Mãe de Deus nos deu a oração, especialmente a oração do Rosário”, explicou o Cardeal.

O Cardeal Meisner, que tinha uma forma muito viva e calorosa de proferir suas homilias, recordou um encontro que teve certa vez, em 1975, quando ainda era um jovem Bispo na Alemanha Comunista. Um grupo de turistas veio até a sua Missa, em Erfurt (Alemanha Oriental), um grupo de católicos da União Soviética que não participava de uma Santa Missa há 30 anos! “Estamos com saudade da Igreja!”, disseram a ele após a Missa. E um homem colocou para Meisner uma questão muito pertinente: “Você poderia nos dar uma informação muito importante? Que doutrina da Fé nós precisamos passar para os nossos filhos e para os nossos netos para que eles possam obter a vida eterna?” [ênfase adicionada].

 O Cardeal Meisner ainda estava muito tocado por essas palavras quando as relatou novamente na homilia de 2013: “Uma questão tão importante não me havia sido colocada antes nem depois”, disse. Contudo, quando ele propôs que fosse entregue a este homem e a cada um de seus companheiros uma Bíblia e o Catecismo, o homem da União Soviética educadamente recusou, dizendo que não lhes era permitido ter livros religiosos em casa. Quando questionado sobre levar um Rosário para casa, o homem respondeu: “Sim, podemos. Mas o que isso tem a ver com a minha pergunta?” E o Cardeal Meisner respondeu – erguendo o seu Rosário:

“No início do Rosário, está a cruz, onde rezamos o Credo, que contém toda a nossa Fé. Então, vêm as três pérolas: Fé, Esperança, Caridade – todo o ensinamento para a vida. É o que devemos viver. Então, siga as outras pérolas, todos os Evangelhos em uma espécie de roteiro secreto, que pode ser compreendido somente por mãos e corações orantes”.

O homem pegou o Rosário das suas mãos e disse: “O que? Então eu tenho a Fé católica inteira em uma mão!” (ênfase adicionada). A descrição dessa inesperada e duradoura conversa, tal como relatada pelo Cardeal Meisner, deveria ser saboreada na íntegra na homilia original, em alemão, a fim de que a completa beleza moral dessa história possa ser vista. Poderíamos saber o que aconteceu com esses católicos da Rússia desde 1975!

Ao longo dessa homilia, o Cardeal Meisner utilizou algumas belas imagens poéticas e combinações de palavras que saltam de sua profunda Fé e ardente amor por Deus. Ele disse, por exemplo: “Quando eu alcanço a mão de Deus, quero ter algo na minha mão: o Rosário!” [ênfase adicionada]. E: “Quem quer que reze o Rosário de novo e de novo, sentirá o que os irmãos sentiram no caminho de Emaús, quando se perguntaram: ‘Nossos corações não inflamaram?'” E aqui o Cardeal disse: “O coração que está ardendo por Cristo é a esperança do mundo. Maria trouxe esse fogo para o nosso mundo em Fátima” [ênfase adicionada]. “Não teorias, mas corações inflamados mudarão o mundo”, acrescentou. Ele também utilizou a bela imagem de uma mulher doente que tocou a bainha da veste de Nosso Senhor. “Se eu apenas tocar essa bainha, eu estarei curada”. Disse Meisner, então: “É com o Rosário que aquela bainha de Jesus é colocada nas nossas mãos”.

Por causa da beleza dessa homilia, deixe-me citar outras imagens poéticas expressadas pelo prelado:

“Quando nós, juntamente com essas pérolas, recebemos as palavras de Sua vida, essas sementes espirituais produzirão frutos – 30, 60, 100 vezes até a vida eterna! Cada pérola é um germe de vida, porque traz o Evangelho para dentro da nossa vida e traz a nossa vida para dentro do Evangelho” [ênfase adicionada].

O ardente amor do Cardeal Meisner pelo Rosário tornou-se ainda mais claro quando ele fez o seguinte testamento público:

“Quando eu morrer, os Cônegos virão para pegar o meu anel, o meu báculo. Mas, eu escrevi o meu testamento: vocês têm que deixar o meu Rosário! Eu quero levá-lo dentro do meu caixão! Eu desejo mostrá-lo para a Mãe de Deus para que ela possa me mostrar, após este exílio, Jesus, o Bendito fruto da sua vida!”.

No seu completo testamento espiritual, que agora foi publicado na Colônia, Alemanha [11], o Cardeal Meisner escreve uma carta para Jesus como um testemunho de gratidão a Deus, primeiro, por tê-lo criado como ser humano, depois, por tê-lo feito padre e Bispo, “formado e consagrado por suas chagas”, e por ter “me usado na sua Cruz, e por ter-me feito digno nas suas feridas”. Escrito em 2011 – durante o pontificado do Papa Bento XVI – ele também implorou ao seu rebanho para permanecer sempre fiel a Pedro e, assim, permanecer na Fé.

Consideremos agora o que o Cardeal Meisner disse sobre Nossa Senhora de Fátima em 1990, quando visitou Fátima pela primeira vez, e sobre o pedido do Papa João Paulo II. Hesemann gentilmente disponibilizou-me esta homilia, que o Cardeal Meisner lhe deu para ser publicada no seu livro sobre Fátima (Das Letzte Geheimnis von FatimaO último segredo de Fátima [12]).

“No dia 13 de maio de 1990, o Cardeal Meisner então declarou:

“‘Na nossa antiga Europa, que uma vez fora a pátria da Cristandade, Jesus Cristo quase não apareceu em público mais. Maria – com a sua Igreja – foi empurrada para as margens das sociedades europeias. Portugal, no entanto, há 73 anos acolheu Maria – como João aos pés da cruz. Em Fátima, Maria poderia começar o seu caminho para trazer Jesus de volta à Europa. Na Rússia, e em outros Estados do Leste Europeu, a fé cristã foi quase proibida. Os povos da Europa Oriental que altamente veneravam Maria foram capazes de dar a ela somente um pequeno espaço, já que o ateísmo conquistou quase todo o espaço vivo. Por isso, Maria veio de Fátima para socorrer os discípulos angustiados do seu Filho nos Estados do Leste Europeu. Fátima é, por assim dizer, a base de Maria, de onde ela subverteu o povo da Europa Oriental para trazer a eles Cristo, que verdadeiramente liberta o homem. A Europa nunca deve esquecer de agradecer a Portugal por ter aberto as portas a Maria para que ela pudesse converter os Estados ateus no Leste do nosso continente […] Naqueles anos de Comunismo, Maria foi a mais modesta, porém, onipresente companheira nos sofrimentos e a auxiliadora dos aflitos […] Não foi Marx quem deu grandeza e dignidade ao homem, mas Maria”.

Quando lemos essas palavras, devemos recordar que elas foram escritas sob a profunda impressão do fim do Comunismo no Leste, depois de décadas de opressão. A intensa gratidão do prelado é evidente nessas palavras (vamos lembrar que, em 2016, quase vinte anos depois, ele chegou à conclusão de que nós ainda necessitamos da assistência de Nossa Senhora de Fátima. No entanto, há razões ainda mais profundas para a devoção do Cardeal Meisner a Nossa Senhora. Em uma entrevista sobre a sua vida, de 2016 [13] – ele nasceu em 1933, sob o regime nazista, viveu por mais de 40 anos sob o Comunismo, na Alemanha Oriental, e enfrentou, como Arcebispo de Colônia, os desafios do relativismo cultural e do catolicismo liberal – fica claro que foi a sua própria mãe quem ensinou a ele o amor à Santíssima Mãe e ao Rosário.

Em 1945, sua mãe teve que fugir dos soviéticos que se aproximavam de Breslau (hoje, na Polônia). Fugiu para o Ocidente levando consigo não apenas seus quatro filhos, mas seis outros parentes – duas avós e mais quatro crianças! (o pai de Meisner estava entre os mortos em batalha na Rússia, e nunca voltou para casa). No trajeto para o Ocidente, a extensa família de Meisner passou por situações terríveis, como estar perdida em uma van em um monte de neve longe da principal estrada rural, e no inverno, em temperaturas congelantes abaixo de zero. No meio desta situação dramática, depois de ter caído uma ladeira nesta van, a mãe levantou o Rosário, dizendo: ‘Deus está conosco!’ Quando mais tarde, procurando à noite em vão por horas um quarto na pequena aldeia da futura Alemanha Comunista, a mãe de repente parou e explicou calmamente aos seus quatro jovens filhos que ela, sua mãe, agora não era capaz de cuidar deles, e que, então, eles juntos agora deveriam se virar para Maria por ajuda. Depois de rezarem três vezes uma oração mariana alemã especial (Hilf Maria, jetzt ist Zeit), um homem veio à rua até eles, convidando-os para a sua casa: “Não posso ficar assistindo a uma mãe e seus filhos do lado de fora, à noite na rua”.

A história de vida do Cardeal Meisner é uma história de fervor e coragem. Eu raramente vi uma tal combinação única de um coração ardoroso e um convicção forte, e que ganhou respeito mesmo entre os seus oponentes declarados. Até a feminista alemã mais proeminente, Alice Schwarzer, fez recentemente o seu tributo ao Cardeal Meisner após sua morte: “Sim, eu gostava dele” [14]. Ela sentia uma amizade por ele e admirava “sua humanidade e fé infantil” apesar das suas diferenças de opinião, por exemplo, sobre o aborto. Schwarzer continuou, dizendo que, no último encontro que tiveram, há um ano, Meisner lhe deu um pequeno cartão de oração com um poema de Santa Teresa d’Ávila. As linhas “nada te atormente, nada te amedronte. Tudo passa, somente Deus permanece o mesmo” tocaram especialmente Schwarzer por serem bastante “consoladoras”.

Não é um verdadeiro testemunho católico aquele que permanece firme na verdade e alcança na caridade com o toque de Cristo os seus próprios oponentes? Isso também não é a combinação de Nosso Senhor e Nossa Senhora? Verdade e amor combinados?

Algumas das inspirações adicionais para a coragem e o testemunho católico de Meisner vêm de ninguém menos que do Cardeal Josef Mindszenty, o grande mártir húngaro do Comunismo. Foi no dia 06 de maio de 2017, não muito antes de sua morte, que o Cardeal Meisner deu testemunho deste grande homem [15]. Em uma homilia em Budapeste, Hungria, reconta como ele, então um garoto de 13 anos, viu uma foto do Cardeal Mindszenty sob acusação em um tribunal comunista. Meisner foi tão tocado por essa imagem – que o fez imediatamente recordar o próprio Nosso Senhor sendo falsamente acusado – que ele fixou essa imagem na parede do seu quarto e sempre olhava para aquele Cardeal antes de dormir e ao acordar. “Ele foi o modelo de Bispo para mim”, explicou o Cardeal Meisner na sua homilia. E acrescentou:

“E em mim cresceu o desejo de que eu, um dia, quisesse ser como o Cardeal, uma testemunha de Cristo que tivesse a coragem também de enfrentar os Poderosos deste mundo” [ênfase adicionada].

Mais tarde, o Cardeal Meisner encontrou novamente a mesma foto do Cardeal Mindszenty. Ele colocou a imagem dentro do seu breviário – “para que estivesse conectado a ele todos os dias em oração” – e foi o mesmo breviário que permaneceu nas mãos do Cardeal Meisner quando ele morreu. “Quando nós Bispos não somos mais confessores, o povo de Deus não está em boa situação”, Meisner acrescentou, depois de primeiro falar sobre o testemunho corajoso e o engajamento pela humanidade de Mindszenty. Meisner mostrou-se especialmente grato pela solidariedade e compaixão de Mindszenty com 9 milhões de alemães que fugiram do seu país após a II Guerra Mundial – entre eles, a família de Meisner. “Exceto o Cardeal Mindszenty, nenhum outro Bispo nos defendeu” [ênfase adicionada], acrescentou Meisner. “Bispos não têm que pensar apenas em uma boa reação da mídia, mas especialmente na proclamação da verdade que foi confiada a ele”.

O Cardeal Meisner não desafiou apenas os seus colegas Bispos. Ele também desafiou todos nós católicos quando uma vez disse, em 2016, que agora é a “grande chance de se tornar um cristão completo – cristãos-pela-metade vão perecer!” “A responsabilidade tem que ser preservada, ou ela será perdida”. Ele viu uma “grande chance de testemunhar que somos cristãos!” E esse testemunho – com o qual nós agora também aprendemos com o Cardeal Meisner, com a sua vida e com o seu ato final de assinar os dubia – nós só podemos realizar com a ajuda de Maria, enraizada no amor a Cristo.

No dia 04 de abril de 2005, o Cardeal Meisner – de forma significativa, pouco antes do Conclave de 18-19 de abril de 2005, em que ele desempenhou um papel tão importante – visitou a Sagrada Face (Volto Santo) de Manopello [16] com Paul Badde [17]. O Cardeal foi tão profundamente tocado pela amável Face de Deus que ele fez uma pequena, e mais uma vez poética, inscrição, que deve nos inspirar a um profundo amor por Nosso Senhor:

‘A face é o ostensório do coração. No Volto Santo, o coração de Deus torna-se visível’. + Joachim Card. Meisner, Arcebispo de Colônia, Pax Vobis! 4/4/2005″ [ênfase adicionada].

O amor ajuda a superar o medo, como o professor Josef Pieper uma vez explicou e exemplificou ao meu marido, o Dr. Robert Hickson. A palavra latina cor – coração – também pode ser encontrada na palavra coragem. O amor torna a pessoa corajosa, como a mãe do Cardeal Meisner lutando pelos seus pequenos. Que possamos todos nós aprender a amar Nosso Senhor e Nossa Senhora, amá-los tanto que lutaremos como leões por Eles. Que possamos rezar pelo descanso da alma do Cardeal Meisner, e que possamos adequadamente esperar que ele irá logo interceder por nós. E que possam então as suas palavras de 2016 sobre Fátima e os dubia também alcançar o coração do Papa Francisco.

NOTAS.

[1]. Cf. [].

[2]. Cf. [].

[3]. Cf. [].

[4]. Cf. [].

[5]. Cf. [].

[6]. Cf. [].

[7]. Cf. [].

[8]. Cf. [

[9]. Cf. [

[10]. Cf. [

[11]. Cf. [].

[12]. Cf. [

[13]. Cf. [

[14]. Cf. [].

[15]. Cf. [].

[16]. Cf. [

[17]. Cf. [].

 




A interpretação do Concílio Vaticano II e a sua relação com a crise atual da Igreja

Agradecemos a Sua Excelência Reverendissima, Dom Athanasius Schneider, o envio de seu artigo já em português para publicação exclusiva no Brasil em .

A situação atual da inaudita crise da Igreja é comparável com aquela geral no século IV, onde o arianismo contaminou a esmagadora maioria do episcopado e foi reinante na vida da Igreja. Devemos procurar ver esta situação atual, por um lado, com realismo e, por outro, com o espírito sobrenatural, com um profundo amor para com a Igreja, que é nossa mãe, e que está sofrendo a paixão de Cristo por meio dessa tremenda e geral confusão doutrinal, litúrgica e pastoral.

Devemos renovar a nossa Fé de que a Igreja está nas mãos seguras de Cristo e que Ele sempre intervirá para renová-la nos momentos em que a barca da Igreja parece naufragar, como é o caso óbvio em nossos dias.
Quanto à atitude diante do Concílio Vaticano II, devemos evitar os dois extremos: uma rejeição completa (como o fazem os sedevacantistas e uma parte da FSSPX) ou uma “infalibilização” de tudo o que o Concílio falou.

O Concílio Vaticano II foi uma legítima assembleia presidida pelos Papas e devemos manter para com este concílio uma atitude de respeito. Contudo, isso não significa que não podemos exprimir dúvidas bem argumentadas e respeitosas propostas de melhoria, apoiando-se na Tradição integral da Igreja e no Magistério constante.

Pronunciamentos doutrinais tradicionais e constantes do Magistério durante um plurissecular período têm a precedência e constituem um critério de verificação acerca da exatidão de pronunciamentos magisteriais posteriores. Os pronunciamentos novos do Magistério devem, em si, ser mais exatos e mais claros, nunca, porém, ambíguos e aparentemente contrastantes com anteriores pronunciamentos constantes magisteriais.

Aqueles pronunciamentos do Vaticano II que são ambíguos devem ser lidos e interpretados segundo os pronunciamentos da inteira Tradição e do Magistério constante da Igreja.

Na dúvida, os pronunciamentos do Magistério constante (os concílios anteriores e os documentos de Papas, cujo conteúdo demonstrava ser uma tradição segura e repetida durante séculos no mesmo sentido) prevalecem sobre aqueles pronunciamentos objetivamente ambíguos ou novos do Concílio Vaticano II, os quais, objetivamente, dificilmente concordam com específicos pronunciamentos do Magistério anterior e constante (por exemplo, o dever do Estado de venerar publicamente Cristo, Rei de todas as sociedades humanas; o verdadeiro sentido da colegialidade episcopal frente ao primado petrino e ao governo universal da Igreja; a nocividade de todas as religiões não-católicas e o perigo que elas constituem para a salvação eternas das almas).

O Vaticano II deve ser visto e aceito tal como ele quis ser e como realmente foi: um concílio primeiramente pastoral, isto é, um concílio que não teve a intenção de propor doutrinas novas ou propô-las numa forma definitiva. Na maioria dos seus pronunciamentos, o Concílio confirmou a doutrina tradicional e constante da Igreja.

Alguns dos novos pronunciamentos do Vaticano II (por exemplo, colegialidade, liberdade religiosa, diálogo ecuménico e inter-religioso, atitude para com o mundo) não são definitivos e por eles, aparentemente ou em realidade, não concordarem com os pronunciamentos tradicionais e constantes do Magistério, devem ser ainda completados com explicações mais exatas e com suplementos mais precisos de caráter doutrinal. Uma aplicação cega do princípio da “hermenêutica da continuidade” também não ajuda, pois se criam com isso interpretações forçadas, que não convencem e que não ajudam para chegar ao conhecimento mais claro das verdades imutáveis da Fé Católica e da sua aplicação concreta.

Houve casos na história onde expressões não definitivas de alguns concílios foram, mais tarde, graças a um debate teológico sereno, precisadas ou tacitamente corrigidas (por exemplo, os pronunciamentos do Concílio de Florença acerca da matéria do sacramento da ordenação, isto é, que a matéria fosse a entrega dos instrumentos, mas a tradição mais segura e constante dizia que era suficiente a imposição das mãos do bispo, o que Pio XII em 1947 confirmou). Se depois do concílio de Florença os teólogos tivessem aplicado cegamente o princípio da “hermenêutica da continuidade” a este pronunciamento específico do concílio de Florença (um pronunciamento objetivamente errôneo), defendendo a tese que a entrega dos instrumentos como matéria do sacramento da ordem fosse uma expressão do Magistério constante da Igreja, provavelmente não se teria chegado ao consenso geral dos teólogos sobre a verdade que diz que somente a imposição das mãos do bispo constituiria propriamente a matéria do sacramento da ordem.

Deve-se criar na Igreja um clima sereno de discussão doutrinal acerca daqueles pronunciamentos do Vaticano II que são ambíguos ou que criaram interpretações errôneas. Não há nada de escandaloso nisso, pelo contrário, será uma contribuiçao para guardar e explicar na maneira mais segura e integral o depósito da Fé imutável da Igreja.

Não se deve destacar demais um determinado concílio, absolutizando-o ou equiparando-o de fato, à Palavra de Deus oral (Tradição Sagrada) ou escrita (Sagrada Escritura). O Vaticano II mesmo disse, justamente (cf. Dei Verbum, 10), que o Magistério (Papas, Concílios, magistério ordinário e universal) não estão acima da Palavra de Deus, mas sob ela, submisso a ela, e somente ministro dela (da Palavra de Deus oral = Sagrada Tradição e da Palavra de Deus escrita = Sagrada Escritura).

Do ponto de vista objetivo, os pronunciamentos do Magistério (Papas e concílios) de caráter definitivo têm mais valor e mais peso frente aos pronunciamentos de caráter pastoral, os quais são, por natureza, mutáveis e temporários, dependentes de circunstâncias históricas ou respondendo às situações pastorais de um determinado tempo, como é o caso da maior parte dos pronunciamentos do Vaticano II.

O próprio contributo valioso e original do Concílio Vaticano II consiste no chamado universal de todos os membros da Igreja à santidade (cap. 5 da Lumen gentium), na doutrina sobre o papel central de Nossa Senhora na vida da Igreja (cap. 8 da Lumen gentium), na importância dos fiéis leigos em conservarem, defenderem e promoverem a Fé Católica e que eles devem evangelizar e santificar as realidades temporárias segundo o perene sentido da Igreja (cap. 4 da Lumen gentium), no primado da adoração de Deus na vida da Igreja e na celebração da liturgia (Sacrosanctum Concilium, nn. 2; 5-10). O resto se podia até um certo ponto considerar secundário, temporário e talvez no futuro mesmo esquecível, como foi o caso com os pronunciamentos não definitivos, pastorais e disciplinais de diversos concílios ecumênicos no passado.

Os quatro assuntos seguintes: Nossa Senhora, santificação da vida pessoal, defesa da Fé com a santificação do mundo segundo o espírito perene da Igreja e o primado da adoração de Deus são os tópicos mais urgentes a serem vividos e aplicados hoje em dia. Nisso, o Vaticano II tem um papel profético, o que, infelizmente, não está ainda realizado de modo satisfatório. Em vez de viver e de aplicar estes quatro aspectos, uma considerável parte da “nomenklatura” teológica e administrativa na vida da Igreja, há meio século, promoveu e está ainda promovendo assuntos doutrinários, pastorais e litúrgicos ambíguos, deturpando, assim, a intenção originária do Concílio ou abusando dos seus pronunciamentos doutrinários menos claros ou ambíguos a fim de criar uma outra Igreja de tipo relativista ou protestante. Estamos vivenciando o auge desse desenvolvimento em nossos dias.

O problema da atual crise da Igreja consiste, em parte, no fato de que se infalibizaram aqueles pronunciamentos do Vaticano II que são objetivamente ambíguos, ou aqueles poucos pronunciamentos dificilmente concordantes com a tradição magisterial constante da Igreja. Dessa forma, impediu-se um sadio debate e uma necessária correção, implícita ou tácita, dando, ao mesmo tempo, o incentivo para criar afirmações teológicas contrastantes com a tradição perene (por exemplo, no que diz respeito à nova teoria de um assim chamado duplo sujeito ordinário supremo do governo da Igreja, ou seja, o Papa sozinho e todo o colégio episcopal junto com o Papa; ou a doutrina da assim chamada neutralidade do Estado frente ao culto público que ele deve prestar ao Deus verdadeiro, que é Jesus Cristo, Rei também de cada sociedade humana e política; a relativização da verdade que a Igreja Católica é o único caminho da salvação querido e ordenado por Deus).

Devemos nos libertar das algemas da absolutização e da infalibilização total do Vaticano II e pedir que haja um clima de debate sereno e respeitoso, por amor sincero à Igreja e à sua Fé imutável.

Uma indicação positiva nesse sentido podemos ver no fato de que, em 2 de agosto 2012, o Papa Bento XVI escreveu um prefácio ao volume relativo ao Concílio Vaticano II na edição da sua Opera omnia. Neste prefácio, Bento XVI exprime suas reservas quanto a um conteúdo específico dos documentos Gaudium et spes e Nostra aetate. Do teor dessas palavras de Bento XVI se vê que alguns defeitos pontuais em algumas passagens do Vaticano II não são remediáveis pela “hermenêutica da continuidade”.

Uma Fraternidade Sacerdotal de São Pio X canônica e plenamente integrada na vida da Igreja poderia também dar um válido contributo nesse debate, como também o desejou o Arcebispo Marcel Lefebvre. A presença plenamente canônica da FSSPX na vida da Igreja de hoje poderia também ajudar a criar um tal clima geral de um debate construtivo na Igreja, para que aquilo que foi crido sempre, em toda a parte e por todos os católicos durante dois mil anos, seja crido mais clara e de modo mais seguro também em nossos dias, realizando, assim, a verdadeira intenção pastoral dos Padres do Concílio Vaticano II.

A autêntica intenção pastoral visa a salvação eterna das almas, a qual se dá somente pelo anúncio de toda a vontade Divina (cf. At 20, 7). Uma ambiguidade na doutrina da fé e na sua aplicação concreta (na liturgia e na pastoral) ameaçaria a salvação eterna das almas e seria, por conseguinte, anti-pastoral, já que o anúncio da clareza e da integridade da Fé Católica e da sua fiel aplicação concreta é vontade explícita de Deus. Somente a obediência perfeita a esta vontade de Deus que, por Cristo, o Verbo Encarnado, e pelos Apóstolos nos revelou a verdadeira Fé, a Fé interpretada e praticada constantemente no mesmo sentido pelo Magistério da Igreja, traz a salvação das almas.

+ Dom Athanasius Schneider,

Bispo auxiliar da arquidiocese de Maria Santíssima em Astana, Cazaquistão

Fonte: do-concilio- vaticano-ii- e-
a-sua- relacao-com- a-crise- atual-da- igreja/



A Rússia será católica?

“A Rússia será católica?” não é a interrogação de um sonhador.

 

Em Fátima, Nossa Senhora patenteou predileção por esse país de dimensões imperiais. Porque Ela deu a entender que a instauração de seu Reino na terra teria como condição a conversão do mundo russo ao catolicismo.

E a Providência suscitou grandes almas que ofereceram suas vidas pela salvação da Rússia dos Czares. Algumas delas abandonaram os erros que erodiam o país e se converteram no século XIX.

Elas intuíram com fé e muito raciocínio que o dia glorioso da conversão da Rússia acabará chegando.

Príncipe Ivan Sergio Gagarin (1814 -1882) em 1835, antes da conversão

Foi o caso do Pe. Ivan Gagarin, príncipe russo que ingressou na Companhia de Jesus e é autor de um livro que fez sensação em sua época: “A Rússia será católica?” (La Russie sera-t-elle catholique?, Paris, 1856).

O professor Roberto de Mattei acaba de lhe dedicar dois substanciosos artigos em seu site “Corrispondenza Romana”.

Dele tiramos as informações para este post, a partir de uma tradução da agência ABIM feita por Helio Dias Viana.

Ivan Sergeevič Gagarin nasceu em Moscou no dia 20 de julho de 1814, de uma casa principesca descendente dos príncipes de Kiev.

Foi adido na legação russa em Munique, e depois na embaixada de Paris, onde amadureceu sua conversão ao catolicismo.

Em 7 de abril de 1842 abjurou a religião ortodoxa e abraçou a fé católica pelas mãos do padre François Xavier de Ravignan (1795-1858), que já obtivera a conversão do conde Šuvalov.

Ivan Gagarin renunciava, aos 28 anos, não só a um brilhante futuro político e diplomático, mas à esperança de poder retornar à sua pátria.

Com efeito, na Rússia dos Czares a conversão ao catolicismo constituía um delito comparável à deserção ou ao parricídio.

O abandono da ortodoxia por uma outra religião, ainda que cristã, era punido com a perda de todos os bens, dos direitos civis e dos títulos nobiliárquicos, e podia dar em reclusão perpétua em um mosteiro ou exílio na Sibéria.

O governo russo considerou o príncipe Gagarin como um inimigo a ser eliminado. Ele foi alvo de uma campanha de calúnias organizada pela Chancelaria Imperial.

O Pe. Gagarin publicou o livro La Russie sera-t-elle catholique? em 1856. Nele o sacerdote se refere à solene bula de Bento XIV Allatae sunt, de 26 de julho de 1755, em que o Santo Padre, manifestando “a benevolência com a qual a Sé Apostólica abraça os orientais”, “ordena que se conservem seus antigos ritos que não se oponham à Religião Católica nem à honestidade; nem se peça aos Cismáticos que retornam à Unidade Católica para que abandonem seus ritos, mas apenas que abjurem a heresia, desejando fortemente que seus diferentes povos sejam conservados, não destruídos, e que todos (para dizer muitas coisas com poucas palavras) sejam Católicos, não latinos”.

Para o jesuíta russo, o cisma ortodoxo é principalmente o resultado do “bizantinismo”, um erro segundo o qual não há distinção entre os dois poderes, o temporal e o espiritual.

Príncipe Ivan Sergio Gagarin (1814 -1882) já jesuíta, foto sem data

A Igreja é de fato subordinada ao Imperador, que a dirige enquanto delegado de Deus no campo eclesiástico e no secular.

Os autocratas russos, como os imperadores bizantinos, veem na Igreja e na religião um meio do qual servir-se para garantir e dilatar a unidade política.

Este calamitoso sistema que vem sendo aplicado hoje por Vladimir Putin se funda em três pilares: a religião ortodoxa, a autocracia e o princípio da nacionalidade, sob cujo signo penetraram na Rússia as ideias de Hegel e dos filósofos alemães.

Tal penetração daria na expansão das ideais comunistas de Marx, e por fim na Revolução bolchevique de Lenine em 1917.

Aquilo que se esconde sob as palavras pomposas de ortodoxia, autocracia e nacionalidade, “não é senão a formulação oriental da ideia revolucionária do século XIX” (p. 74), fruto da Revolução Francesa anticlerical e anticristã, comenta o prof. de Mattei.

 

 

Em uma profética página, o padre Gagarin escreve:

“Quanto mais se desce ao fundo das coisas, mais se é levado a concluir que a única luta verdadeira é entre o Catolicismo e a Revolução.

Quando em 1848 o vulcão revolucionário aterrorizava o mundo com seus rugidos e fazia tremer a sociedade abalada em seus fundamentos, o partido que se dedicou a defender a ordem social e a combater a Revolução não hesitou em inscrever em sua bandeira Religião, Propriedade, Família.

“Ele não hesitou em enviar um exército para restabelecer em sua sede o Vigário de Jesus Cristo, que a Revolução havia forçado a tomar o caminho do exílio.

Esse partido tinha perfeitamente razão; está-se em presença de apenas dois princípios: o princípio revolucionário, que é essencialmente anticatólico, e o princípio católico, que é essencialmente contra-revolucionário.

“Apesar de todas as aparências contrárias, só há no mundo dois partidos e duas bandeiras.

De um lado, a Igreja Católica arvora o estandarte da cruz, que contém o verdadeiro progresso, a verdadeira civilização e a verdadeira liberdade; de outro, apresenta-se a bandeira revolucionária, em torno da qual se agrupa a coalizão de todos os inimigos da Igreja.

“Ora, o que faz a Rússia? De um lado, combate a Revolução; de outro, combate a Igreja Católica. Tanto externa quanto internamente, encontrareis a mesma contradição. (…)

“E se ela quiser ser coerente consigo mesma, se quiser francamente combater a Revolução, tem apenas um partido a tomar: colocar-se sob o estandarte católico e reconciliar-se com a Santa Sé” (La Russie sera-t-elle catholique?, Charles Douniol, Paris 1856, pp. 63-65).

A Rússia não atendeu ao apelo do príncipe sacerdote, comenta o prof. de Mattei. A Revolução bolchevique, após ter exterminado os Romanov, difundiu seus erros no mundo.

Príncipe Ivan Sergio Gagarin (1814 -1882) já jesuíta

A cultura abortista e homossexual, que hoje conduz o Ocidente à morte, tem suas raízes na filosofia hegeliano-marxista que triunfou na Rússia em 1917.

A derrota dos erros revolucionários não poderá ser ultimada, na Rússia e no mundo, senão sob os estandartes da Igreja Católica.

As ideias do padre Gagarin inspiraram o barão alemão August von Haxthausen (1792-1866), que com o apoio dos bispos de Münster e de Paderborn fundou uma Liga de orações denominada Petrusverein (União de São Pedro) pela conversão da Rússia. Associação análoga, sob o impulso dos padres barnabitas Šuvalov e Tondini, nasceu na Itália e na França. Aos inscritos nessas associações recomendava-se rezar em todos os primeiros sábados do mês pela conversão da Rússia.

Em 30 de abril de 1872, Pio IX concedeu com um Breve indulgência plenária a todos aqueles que, tendo confessado e comungado, assistissem no primeiro sábado do mês à Missa celebrada pelo retorno da Igreja Greco-russa à unidade católica.

Nossa Senhora aprovou certamente essa devoção, pois em Fátima, em 1917, Ela recomendou a prática reparadora dos primeiros cinco sábados do mês como instrumento da instauração de seu Reino, na Rússia e no mundo, conclui Roberto de Mattei.

(Autor: Roberto de Mattei, “Corrispondenza romana”, 8-6-2017. Matéria traduzida do original italiano na ABIM por Hélio Dias Viana).

 

Fonte:  




Liturgia luterano-católica é celebrada pela primeira vez na Espanha

Rezemos pelos prelados católicos, para que não renunciem ao seu mandato missionário, à missão de converter os hereges e todos os homens, e para que não permitam que as verdades da fé católica, plenitude dos meios de salvação, acabem por diluir-se e perder-se na confusão demoníaca.

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Infocatólica, 10 de junho de 2017.

Tradução. Bruno Braga.

A Liturgia luterano-católica foi celebrada pela primeira vez na Espanha: Common Prayer. “Do conflito à comunhão”, que foi presidida pelo secretário do “Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos”, Brian Farrell, e pelo secretário geral da Federação Luterana Mundial, Martin Junge.

(UPSA) Entre os pregadores estavam presentes: o Cardeal e presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Ricardo Blázquez, e o pastor da Igreja Evangélica Espanhola, Pedro Zamora. Esta celebração foi o ato de encerramento do Congresso de Teologia Ecumênica “Do conflito à comunhão”, celebrado na Universidade Pontifícia de Salamanca por conta da comemoração dos 500 anos da Reforma.

A Liturgia é uma comemoração ecumênica entre luteranos e católicos que reflete na sua estrutura litúrgica básica o tema da ação de graças, a confissão e o arrependimento, e o testemunho e compromisso comum, tal como foi desenvolvido no informe “Do conflito à comunhão” da Comissão Luterano-Católica Romana sobre a Unidade.

Antes da Liturgia, o secretário geral da Federação Luterana Mundial, Martin Junge, proferiu a conferência “Reorientando-nos: Do conflito à comunhão”, na qual destacou a estreita colaboração com o Pontifício Conselho “com que vamos adiantando os processo ecumênicos, mas que tem pouco sentido se não tem raízes nas realidades locais”, apontou. O secretário se comprometeu com a contribuição de “criar esta raiz, uma relação bidirecional, já que o que está acontecendo em âmbito local deve incidir também nos processos ecumênicos globais”. Para o reverendo, “nossos compromissos devem ser sempre decididos, mas ao mesmo tempo sóbrios”. Aludindo à celebração de Lund, o secretário afirmou “é mais o que nos une que o que nos divide. É um ano carregado de significado, são anos de história comum, a história das igrejas luteranas não começa em , mas nos tempos dos primeiros apóstolos (…) Porém, essa convicção tão óbvia segue tardando em se impor na vida de nossas respectivas comunhões”, indicou. “As narrativas destacaram as diferenças, fizeram da divisão seu ponto de partida, em vez da unidade. Os 500 anos da Reforma têm sido o ponto de inflexão que começa a dar lugar a outro discurso, que permite adotar nossa história comum desde uma perspectiva de unidade”.

Para o secretário geral, existem três fatores que influenciaram de forma decisiva para que a comemoração conjunta de Lund fosse realizada: a oração constante “de indivíduos que fizeram da unidade o seu pedido constante”; o ecumenismo do serviço, “a diaconia como expressão de fé constituiu um espaço para descobrir-se mutuamente e para reconhecer uma unanimidade desconhecida das convicções de fé compartilhadas”; o terceiro fator são os diálogos ecumênicos bilaterais entre a Igreja Católica e a FLM, iniciados em 1967. Para o secretário geral, na atualidade, “não conseguiremos avançar se não incluirmos a responsabilidade de cuidado recíproco (…) Os passos seguintes devem ser passos possíveis desde um ponto de coerência teológica, dentro de nossa respectiva comunhão e dentro de seus marcos institucionais e políticos. A única forma para a Federação poder seguir avançando é fazê-lo de forma conjunta“, afirmou. A intenção declarada publicamente em Lund pode manifestar-se, segundo Junge, em vários eixos concretos: as liturgias comuns, “é animador a recepção dos diálogos no local e as respostas de Lund em outras partes do mundo”; o segundo eixo é que “não faremos separado o que podemos fazer conjuntamente”, o terceiro eixo é a tarefa teológica igreja-ministério-eucaristia, “que irá requerer mais estudo e diálogo entre católicos e luteranos. (…) Seu caráter sacramental e a definição teológica do ministério e sua publicação dentro do contexto eclesial não oferece até o momento uma base comum com a suficiente convergência para seguir avançando nos processos de unidade”. E o quarto eixo está centrado “no discernimento teológico com sensibilidade e responsabilidade pastoral”.

Posteriormente, o secretário do “Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos”, Brian Farrell, realizou uma reflexão ecumênica conclusiva, na qual expressou que “o Concílio Vaticano II precisa de uma aplicação mais real. Sobre a base dessa renovada eclesiologia, não temos percebido uma reforma profunda no modo de viver, de governar e estar na Igreja”. E, fazendo alusão às palavras do Papa Francisco sobre a reforma da Igreja, “se não nos reformamos, não teremos um caminho comum até a unidade dos cristãos“, indicou. “O ecumenismo depende da reforma dos cristãos”, afirmou.

Farrell destacou também uma visão de futuro positiva, centrada: no ecumenismo espiritual, que “é a alma de tudo, é um trabalho difícil, mas é o que irá mover o povo de Deus até a unidade”; na celebração de Lund, “porque não entendemos, todavia, todas as implicações deste evento”. E a reforma da Igreja Católica, centrada: no Primaz, nas Conferências Episcopais e na figura do Bispo, “baseada em uma Igreja não corporativa, mas pessoal”. “O grande inimigo dessa reforma é a superficialidade. E o desafio agora é mover uma Igreja com grande número de fiéis com diferenças sociais e culturais, e é o melhor passo que podemos dar para seguir na unidade”, apontou.

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O escândalo do silêncio

Por Roberto de Mattei, Corrispondenza Romana, 20-06-2017 | Tradução: Hélio Dias Viana – : Os quatro cardeais autores dos “dubia” sobre a Exortação Amoris laetitia tornaram público, através do blog do vaticanista Sandro Magister, um pedido de audiência apresentado pelo cardeal Carlo Caffarra ao Papa em 25 de abril passado, uma vez que os “dubia” não obtiveram resposta. O silêncio deliberado do Papa Francisco – que, no entanto, recebe personalidades muito menos relevantes em Santa Marta para discutir questões muito menos importantes para a vida da Igreja – é a razão da publicação do documento.

No pedido filial de audiência, os quatro cardeais (Brandmüller, Burke, Caffara e Meisner) fazem saber que gostariam de explicar ao Pontífice as razões dos “dubia” e expor a situação de grave confusão e perplexidade em que se encontra a Igreja, especialmente no que diz respeito a pastores de almas, em particular os párocos.

Na verdade, no ano que transcorreu a partir da publicação da Amoris laetitia“foram dadas em público interpretações de alguns passos objetivamente ambíguos da Exortação pós-sinodal, não divergentes do, mas contrárias ao permanente Magistério da Igreja. Conquanto o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé tenha declarado mais de uma vez que a doutrina da Igreja não mudou, apareceram numerosas declarações de bispos, cardeais e até mesmo de conferências episcopais, que aprovam o que o Magistério da Igreja jamais aprovou. Não apenas o acesso à Santa Eucaristia daqueles que objetiva e publicamente vivem numa situação de pecado grave, e pretendem nela continuar, mas também uma concepção da consciência moral contrária à Tradição da Igreja. Sucede assim – oh, e quão doloroso é vê-lo! – que o que é pecado na Polônia é bom na Alemanha, o que é proibido na Arquidiocese de Filadélfia é lícito em Malta, e assim por diante. Vem-nos à mente a amarga constatação de B. Pascal: ‘Justiça do lado de cá dos Pirenéus, injustiça do lado de lá; justiça na margem esquerda do rio, injustiça na margem direita’ ”.

Não há escândalo nem transgressão no fato de os colaboradores do Papa pedirem uma audiência privada, e que no pedido descrevam, com parrhesia mas objetivamente, a divisão que a cada dia cresce na Igreja. O escândalo é a recusa do Sucessor de Pedro em ouvir aqueles que pedem para ser recebidos. Tanto mais quanto o Papa Francisco quis fazer do “acolhimento” a marca registrada de seu pontificado, afirmando em um de seus primeiros sermões em Santa Marta (25 de maio de 2013) que “os cristãos que pedem nunca devem encontrar portas fechadas”. Por que recusar audiência a quatro cardeais que não fazem senão cumprir o seu dever de conselheiros do Papa?

As palavras dos cardeais são filiais e respeitosas. Pode-se supor que a intenção deles seja de procurar “discernir” melhor, em uma audiência privada, as intenções e os planos de Papa Francisco, e eventualmente de fazer ao Pontífice uma correção filial in camera caritatis. O silêncio do Papa Francisco em relação a eles é obstinado e descortês, mas expressa em sua teimosia a conduta daqueles que vão adiante em seu caminho com determinação. Dada a impossibilidade de uma correção privada, pela inexplicável recusa de uma audiência, também os cardeais deverão prosseguir com decisão em seu caminho, se quiserem evitar que na Igreja o silêncio seja mais forte que suas palavras.

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Bento XVI: “O Senhor não abandona a sua Igreja, mesmo que a barca esteja a ponto de soçobrar”

Bento XVI e o Cardeal Joachim Meisner.

 

Uma palavra de saudação de Bento XVI, Papa Emérito, por ocasião da missa de requiem do Cardeal Joachim Meisner, no dia 15 de julho de 2017.

Fonte: Rorate-Caeli| Tradução:

Retirado da homenagem escrita de 2 páginas (original em alemão) pelo Papa Emérito Bento:

Neste momento, quando a Igreja de Colônia e os fiéis mais distantes se despedem do Cardeal Joachim Meisner, estou junto deles em meu coração e pensamentos e tenho a satisfação de atender ao desejo do Cardeal Woelki e dirigir-lhes uma palavra de reflexão.

Quando, na quarta-feira passada, fui informado, por telefone, sobre a morte do Cardeal Meissner, a princípio, não consegui acreditar. Havíamos conversado no dia anterior. Pela maneira de falar, ele estava grato por agora estar descansando, depois de ter participado no domingo anterior (25 de junho) da beatificação do bispo Teofilius Maturlionis, em Vilnius. Seu amor pelas Igrejas vizinhas do Oriente, que sofreram perseguição sob o Comunismo, bem como a gratidão pela resistência no sofrimento durante esse tempo deixaram uma marca indelével no Cardeal. Portanto, certamente não foi por acaso que a última visita de sua vida foi a um confessor da fé.

O que me impressionava de modo particular nas últimas conversas que tive com o Cardeal, agora de volta à casa do Pai, era a alegria natural, a paz interior e a tranquilidade que ele havia encontrado. Sabemos que foi difícil para ele, um apaixonado pastor de almas, deixar seu cargo, e isso precisamente no momento em que a Igreja tinha necessidade urgente de pastores que se oporiam à ditadura do zeitgeist [espírito do tempo], totalmente decididos a agir e pensar da perspectiva da fé. No entanto, fiquei ainda mais impressionado porque, nesse último período de sua vida, ele aprendeu a relaxar e viver cada vez mais da convicção de que o Senhor não abandona a sua Igreja, mesmo se, às vezes, a barca esteja quase repleta a ponto de soçobrar.

Havia duas coisas que nesse período final lhe permitiram ficar cada vez mais feliz e tranquilo:

– A primeira foi que ele sempre me contava que o que o enchia de profunda alegria era experimentar, no Sacramento da Penitência, como os mais jovens, acima de todos os jovens, passaram a experimentar a misericórdia do perdão, o dom de efetivamente  descobrir a vida, que só Deus pode lhes dar.

– A segunda, que sempre lhe comovia e deixava feliz, foi o aumento perceptível da adoração Eucarística. Para ele esse foi o tema central na Jornada Mundial da Juventude em Colônia – o fato de que havia Adoração, um silêncio, em que o Senhor sozinho fala aos corações.

Algumas autoridades pastorais e litúrgicas consideravam que não seria possível conseguir esse silêncio na contemplação do Senhor com um número tão grande de pessoas. Alguns também pensavam que a adoração Eucarística, como tal, foi ultrapassada, porque o Senhor queria ser recebido no pão Eucarístico, em vez de ser contemplado. No entanto, o fato de que uma pessoa não pode comer esse pão apenas como uma espécie de alimento, e que “receber” o Senhor no Sacramento Eucarístico inclui todas as dimensões da nossa existência – receber tem que ser adoração, algo que entrementes tornou-se cada vez mais claro. Assim, o período de adoração Eucarística na Jornada Mundial da Juventude de Colônia tornou-se um evento interior que permanece inesquecível, e não apenas ao Cardeal. Posteriormente, esse momento esteve sempre presente em seu coração e lhe deu grandes luzes.

Quando na última manhã o Cardeal Meisner não apareceu para a Missa, ele foi encontrado morto em seu quarto. O breviário havia escorregado de suas mãos: ele morreu enquanto rezava, seu rosto estava voltado para o Senhor, em conversa com o Senhor. A arte de morrer, que lhe foi dada, demonstrou novamente como ele havia vivido: com a face voltada para o Senhor e conversando com ele. Assim, podemos confiar sua alma à bondade de Deus. Senhor, agradecemos o testemunho desse seu servo, Joachim. Deixai-o agora interceder pela Igreja de Colônia e pelo mundo inteiro! Descanse em paz!

[Nota: Traduzido por Dom Michael G Campbell OSA, Bispo de Lancaster, Reino Unido, e publicado no site da Diocese de Lancaster como um arquivo PDF.]

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ONU afirma que levar crianças à Igreja é “violação dos direitos humanos”

Frequentar a igreja poderia ser uma “violação dos direitos humanos”, afirmam os responsáveis pelo Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.

6 de junho de 2017 

Um relatório recente da Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos está causando grande debate na Europa. Segundo a avaliação do grupo de observadores da ONU que visitou o Reino Unido, há preocupação com o fato de crianças serem obrigadas a participar de serviços religiosos e de cultos.

Frequentar a igreja poderia ser uma “violação dos direitos humanos”, afirmam os responsáveis pelo Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. Portanto, recomendaram que o governo “revogue as disposições legais sobre frequência obrigatória em atos de caráter cristão”.

Seguindo uma tradição histórica, a maior parte do sistema educacional do Reino Unido está nas mãos de igrejas. Até o quinto ano, a participação em cultos religiosos faz parte das atividades, como aulas de ensino religioso. Só estão dispensadas caso os pais não autorizem ou pertençam a outra fé.

O material compila 150 recomendações, apontando que a Grã-Bretanha pode estar violando a Carta da ONU sobre os Direitos da Criança em vários aspectos. No relatório não existe qualquer menção de violação de direitos humanos por parte da comunidade islâmica, que administra várias escolas. Possivelmente por que o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos é Zeid Ra’ad Al Hussein, um príncipe jordaniano, que professa a fé muçulmana. Também foi ignorado o artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, que garante a todo ser humano a “liberdade de manifestar sua religião ou crença”, em público ou em particular.

David Burrowes, um parlamentar conservador, afirma que esse relatório, deve ser jogado no lixo, que é o seu lugar devido. “Um ato coletivo cristão não é um exercício de doutrinação. É reconhecer e respeitar a herança cristã do país e dar às pessoas uma oportunidade para refletirem”, disparou.

Burrowes aproveitou para fazer uma cobrança séria: “A ONU deveria passar mais tempo fazendo o seu principal trabalho, de prevenção das guerras e do genocídio, em vez de meter o nariz nas salas de aula de outros países”.

Ele se referia ao fato da Organização se negar a reconhecer que existe um genocídio contra os cristãos em andamento no Oriente Médio. Com informações de CBN

Por Jarbas Aragão

 

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