Liturgista italiano apontado por trabalhar na “missa ecumênica”: “a transubstanciação não é um dogma”
Steve Skojec.
OnePeterFive, 28 de outubro de 2017.
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Tradução. Bruno Braga.
Na sua coluna de segunda-feira, no First Things [1], o jornalista italiano e veterano vaticanista Marco Tosatti deu voz ao que anteriormente havia sido um pouco mais que um rumor sussurrado: que um grupo estaria trabalhando, com o conhecimento e apoio do Vaticano, em um tipo de liturgia inter-religiosa:
“E existe a questão da ‘Missa Ecumênica’, uma liturgia projetada para unir católicos e protestantes em volta da Mesa Sagrada. Embora nunca oficialmente anunciada, um comitê com referência direta ao Papa Francisco está trabalhando nessa liturgia há algum tempo. Certamente esse tópico é da jurisdição da Congregação para o Culto Divino, mas o Cardeal Sarah não foi oficialmente informado da existência do comitê. Segundo boas fontes, o secretário de Sarah, Arthur Roche – que mantém posições opostas às de Bento XVI e de Sarah – está envolvido, assim como Piero Marini, braço direito do Monsenhor Bugnini, autor de trabalhos notáveis como La Chiesa in Iran e Novus Ordo Missae“.
Hoje, no seu blog Stilum Curae, Tosatti fornece mais informações sobre essa história [2]:
“Eu não posso deixar de recordar um comentário que me foi enviado por um amigo, mesmo tendo sido feito há vários meses. Feito por Andrea Grillo, um leigo liturgista altamente considerado sem reservas, e que está, de acordo com o que me disseram, envolvido no trabalho de criar uma missa ecumênica.
“O comentário é este:
“‘A transubstanciação não é um dogma e, como uma explicação da Eucaristia, tem os seus limites. Por exemplo, ela contradiz a metafísica‘ [ênfase adicionada].
“Então, eu gostaria de entender: todas as pessoas que ao longo dos dois últimos milênios acreditaram que na Hóstia e no vinho (sic) estava a substância do Corpo e do Sangue de Jesus – e aquelas que ainda acreditam nisso -, elas foram enganadas pela Igreja? Ou, em uma hipótese mais branda, elas foram vítimas de uma crença falsa (para não falar nada sobre os Milagres Eucarísticos)? Esperamos com impaciência para ver até onde irá o trabalho sobre a nova missa ecumênica, para entrar na fila da Comunhão, na Igreja Ortodoxa mais perto.
O comentário de Grillo sobre a Transubstanciação aparece na sua página do Facebook:
O Concílio de Trento, Sessão 13, Capítulo VIII, diz:
“Se alguém disser que, no sacrossanto sacramento da Eucaristia, permanece a substância do pão e do vinho juntamente com o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e negar aquela admirável e singular mudança de toda a substância do pão no corpo e de toda a substância do vinho no sangue, permanecendo só as espécies de pão e vinho – mudança que a Igreja Católica chama com muita propriedade transubstanciação – seja anátema [excomungado]” [3].
Eu contatei Marco Tosatti esta manhã, e ele me disse que Andrea Grillo é um leigo que ensina teologia sacramental e litúrgica no Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma. Tosatti contou-me que Grillo recentemente atacou os Cardeais Caffarra e Sarah, “mais ou menos pedindo que Sarah seja demitido de sua posição”. As fontes de Tosatti indicaram que Grillo é um membro da comissão secreta encarregada de preparar a dita “liturgia ecumênica”, que permitiria a católicos e protestantes “compartilhar a mesa”. Acredita-se que Grillo seja influente em Roma, e que tem o apoio do Papa.
Grillo também é digno de nota por sua oposição ao Summorum Pontificum. Ele escreveu um livro intitulado Beyond Pius V: Conflicting Interpretations of the Liturgical Reform [tradução livre: “Para além de Pio V: interpretações conflitantes da reforma litúrgica”], revisado pelo eminente teólogo litúrgico e escritor Dom Alcuin Reid [4], que chamou o livro de “uma ‘advertência’ teológica e política”. Reid também relata:
“A posição fundamental de Grillo, de que se deve aceitar ‘a’ reforma litúrgica completamente e a exclusão de tudo o que é anterior a ela (e, claro, a exclusão de qualquer possível ‘reforma da reforma’ – que é imediatamente afastada)” […]
Se Grillo está realmente envolvido na preparação de uma nova liturgia, fica a pergunta se esta mesma atitude litúrgica sem olhar para trás será também universal na sua implementação.
O aviso.
Sem uma confirmação substancial da existência desta comissão litúrgica secreta, alguns serão sem dúvida céticos sobre a sua plausibilidade. No entanto, as evidências de que o Vaticano sob a atual liderança possa apoiar tal esforço não são poucas. O Papa e seus aliados já estão fazendo aberturas nessa direção desde o início de 2015, o que eu esbocei em certa medida no meu artigo de dezembro de 2016, Up Next on the Vatican Agenda: Intercommunion [tradução livre: “Próximo na agenda do Vaticano: Inter-comunhão]. Na época, parecia que o objetivo era permitir aos protestantes receber a Comunhão nas igrejas católicas. Mas uma liturgia inter-religiosa iria um pouco mais além, e, aparentemente, não seria de todo impensável à luz das próprias celebrações conjuntas do Vaticano com igrejas luteranas por ocasião do aniversário de 500 anos da Reforma, e que terminariam neste mês, no dia 31 de outubro – dia em que Martinho Lutero publicou suas 95 teses em uma carta ao Arcebispo de Mainz, em 1517. Nas próprias celebrações, havia indícios do que poderia vir. Como eu informei, em dezembro último:
“No dia 31 de outubro (2016) [6], seguindo a comemoração, o Cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho de Promoção da Unidade dos Cristãos, disse aos repórteres que ‘foi um dia ‘muito bonito’, que ‘demorou muito’ para chegar, mas ‘muito importante’. É um ‘novo começo de um caminho para deixar o conflito no passado e ir em direção à comunhão no futuro’. No mesmo dia, uma declaração conjunta, publicada pelo Vaticano e pela Federação Luterana Mundial, disse que ‘muitos membros das nossas comunidades anseiam por receber a Eucaristia em uma única Mesa como expressão concreta da unidade plena […] Este é o objetivo dos nossos esforços ecumênicos, que desejamos levar por diante inclusive renovando o nosso empenho no diálogo teológico‘” [ênfase adicionada] [7].
Koch também disse [8] que “no Concílio Vaticano II, Martinho Lutero teria encontrado o seu próprio concílio”, e que “a comemoração da Reforma em 2017 só poderia ser feita em uma comunhão ecumênica”.
Para os católicos, claro, a inter-comunhão não é teologicamente possível [9]. No entanto, temos visto na Alemanha evidências de que isso já está acontecendo de forma pública [10]. Com o advento do Magnum Principium [11], será muito mais fácil para as implementações regionais da mudança litúrgica serem enraizadas sem a “imposição” das correções da Congregação para o Culto Divino [12].
Então, a pergunta sobre quais surpresas litúrgicas adicionais Roma pode ter em estoque, caso elas existam, permanece aberta.
NOTAS.
[1]. Cf. [].
[2]. Cf. [].
[3]. Cf. [
[4]. Cf. [#.Wgn4vmhSzIV].
[5]. Cf. [].
[6]. Cf. [].
[7]. Cf. [].
[8]. Cf. [].
[9]. Cf. [].
[10]. Cf. [].
[11]. Cf. [].
[12]. Cf. [].