A Igreja na China está à venda
Infovaticana, 01 de fevereiro de 2018. Igreja na China
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Tradução. Bruno Braga.
Não há, neste momento, fenômeno informativo mais grave na Igreja do que o que afeta a Igreja na China. É impossível explicar em poucas palavras o que os católicos na China estão sofrendo, mas podemos dar algumas pinceladas.
Quando os comunistas chegaram ao poder, fizeram como a Revolução Francesa: proibiram a Igreja Católica e inventaram um substituto para Ela, copiando os ritos e símbolos do Cristianismo, mas com sacerdotes e bispos eleitos, formados e patrocinados pelo regime marxista.
Assim, durante décadas, católicos – leigos, sacerdotes e Bispos – fiéis ao Papa, na clandestinidade, coexistem junto com a igreja patriótica chinesa, fiel ao regime maoísta.
O Cardeal Zen, Bispo Emérito de Hong Kong, é um ícone da resistência da Igreja contra a tirania comunista que oprime a nação mais populosa da Terra.
Há poucos dias ele denunciou que a Santa Sé está obrigando Bispos católicos a se afastarem de algumas dioceses para que as suas sedes sejam ocupadas por bispos da igreja patriótica chinesa [1], algo que o Cardeal Zen explica de forma muito simples: “O Vaticano está vendendo a Igreja Católica na China” [2].
Um bispo da Igreja Patriótica, entenda, é tão legítimo quanto uma pessoa fantasiada de bispo no Carnaval, pois obviamente o Partido Comunista tem a mesma legitimidade para ordenar bispos que o Real Madrid ou a Walt Disney.
O Cardeal Zen viajou da China até a Praça de São Pedro para se encontrar com o Papa Francisco na Audiência Geral, e entregou ao Pontífice uma carta explicando a gravidade do assunto [3].
Francisco o recebeu em particular após ler a carta, e lhe assegurou que havia dado ordens aos seus colaboradores para evitar esse tipo de ação.
Imediatamente, o porta-voz da Sala de Imprensa, Greg Burke, saiu a atacar o Cardeal Zen, acusando-o de semear “confusão e polêmica”, mas sem desmentir um ponto sequer do que havia relatado o idoso purpurado [4].
No entanto, o ponto mais doloroso de todo este assunto aconteceu ontem. O Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, em entrevista a uma mídia italiana, confirmou os piores temores dos católicos chineses [5].
Estes são alguns trechos da entrevista:
Claro, porém existem muitas feridas abertas. Para curá-las é necessário o bálsamo da misericórdia. E se a alguém se pede um sacrifício, grande ou pequeno, é preciso deixar claro a todos que este não é o preço de uma negociação política, mas é parte da perspectiva evangélica de um bem maior, o bem da Igreja de Cristo.
O que se espera é chegar, quando Deus quiser, a já não ter que falar de Bispos “legítimos” e “ilegítimos”, “clandestinos” e “oficiais” na Igreja chinesa, mas a se encontrar como irmãos, aprendendo novamente a linguagem da colaboração e da comunicação.
Se não estamos prontos para perdoar, significa, desgraçadamente, que existem outros interesses para defender: porém, esta não é uma perspectiva evangélica.
Expressões como “poder”, “traição”, “resistência”, “rendição”, “enfrentamento”, “ceder”, “compromisso”, deveriam dar lugar a outras como “serviço”, “diálogo”, “misericórdia”, “perdão”, “reconciliação”, “colaboração”, “comunhão”.
Fica clara a perspectiva dos diplomatas italianos em seus escritórios decorados com pinturas de Rafael e com vistas para a Praça de São Pedro.
Vamos tentar agora ver a partir da perspectiva da perseguida Igreja Católica chinesa. É perpetuamente perseguida, com momentos piores e melhores, desde a revolução que levou Mao ao poder.
E agora os fiéis chineses, que tanto sofreram e tanto renunciaram para se manterem fiéis a Roma, veem como os seus Bispos legítimos têm que abdicar para que os cismáticos os sucedam “para o bem da Igreja de Cristo”.
Diante desta situação, surgem algumas perguntas: Como se favorece o bem da Igreja de Cristo permitindo que “bispos” designados pelo Partido Comunista e controlados por ele substituam os bons pastores que cuidaram do rebanho chinês contra tudo e contra todos? De que modo pode fazer bem à Igreja universal, especialmente à Igreja chinesa, dizendo a esta que toda a sua lealdade foi inútil e desnecessária, que poderia ter se poupado de uma vida de sobressaltos e humilhações, e que um prelado designado pelo escritório de um governo oficialmente ateu vale o mesmo que outro ordenado por Roma? Pode alguém acreditar que alguns bispos nomeados pelo Partido Comunista vão servir primeiro a Cristo e não a Pequim? Que futuro o Vaticano espera para o Catolicismo na China sob a orientação desses pastores?
NOTAS.
[1]. Cf. [].
[2]. Cf. [].
[3]. Cf. [].
[4]. Cf. [].
[5]. Cf. [].