Nossa Senhora aparece pela sétima vez em Fátima. Raymundo Lopes recebe ainda uma visão, cujo relato deve chegar ao Vaticano através do bispo de Leiria e do cardeal de Belo Horizonte. “Não fizeram o que pedi aqui. O que Deus permitiu à pastora Lúcia ver e relatar ainda não se cumpriu”.
25 de julho de 2000
Eram 12 horas, ou 13 horas no horário de verão, em Portugal. Na Capela das Aparições, em Fátima, eu participava da Missa, celebrada pelo reitor do santuário1 com o intuito de dispersar os que aguardavam o retorno da Mãe de Deus. Distingui em dado momento, na frente do altar, o garoto que se intitula anjo de Portugal e do Brasil. Era o mesmo que me falara no dia 1º de junho de 1998. Ele permaneceu ali acompanhando a celebração.
Ao fim da Missa, no exato instante em que o padre terminava a bênção, uma leve brisa roçou o meu rosto, e um clarão como de relâmpago riscou o céu. Ergui a vista para identificar o que era. Não vendo nada, voltei logo os olhos para o altar. O anjo havia desaparecido, e no seu lugar estava Nossa Senhora, belíssima como sempre e toda vestida de branco. Ela segurava quatro rosas douradas, duas em cada mão. Fiquei alguns instantes contemplando todo esse esplendor, até que Nossa Senhora deixou que as rosas caíssem. Quando elas tocaram o chão, uma cena abriu-se diante de mim.
Vi um lugar imenso, contornado por construções que pareciam grandes casas de dois ou mais andares, e muitas janelas. No meio desta área havia uma imensa e impressionante ruína de um edifício. Distingui pedaços de colunas e estátuas quebradas entre os escombros. O céu era de um laranja meio arroxeado, com o fundo quase vermelho.
Sobre toda a ruína, o que mais me chamou a atenção foi um globo azul, onde se encravava uma cruz tosca e torta, que lembrava a cruz do báculo do papa João Paulo II. No entanto, a cruz parecia suja e enferrujada, e com mais um detalhe: não havia nela a figura de Jesus crucificado. Um pano branco pendia dos pés da cruz.
Os escombros emanavam fumaça, densa em alguns pontos e rarefeita em outros. Tudo isso parecia o resultado de um grande incêndio recém-apagado.
De repente, quatro figuras humanas surgiram do vermelho alaranjado do céu. Elas se aproximaram rapidamente, e ficaram de pé sobre a ruína. Eram quatro rapazes esbeltos, com aparência de dezoito ou vinte anos, vestidos com uma túnica muita branca. Tinham cabelos negros e pesados, aparados à altura do ombro. Uma luz ofuscante irradiava de seus olhos, que pareciam ora azuis, ora verdes, ora castanhos. Seus olhares eram distantes, indiferentes à devastação do ambiente, como se ela não fizesse parte da realidade deles. Às vezes levantavam um pouco a túnica, deixando à mostra os pés descalços. A fumaça da ruína não investia sobre eles.
Nisso quatro pontos brilharam no mesmo lugar do céu onde os rapazes haviam aparecido. Os pontos foram se aproximando deles e crescendo, até que formaram enormes bolas douradas, como quatro vasilhas com uma pequena abertura. Cada vasilha pousou ao lado direito de um rapaz. Daí a pouco eles fixaram o olhar nas vasilhas, que então se partiram, dando lugar a três formas de animais e uma figura humana2, destoantes da paisagem porque não possuíam cor. Pedaços das vasilhas avançaram com ímpeto sobre as ruínas.
Da primeira vasilha, da esquerda para a direita, saiu um boi sem manchas e sem chifres. Ele cambaleava trôpego sobre as ruínas. Caía a todo instante, e parecia ferido em uma das patas.
Da segunda vasilha surgiu um enorme pássaro negro. Ele permanecia meio que enrolado nos restos da peça. Suas asas entrelaçavam-se, e as penas pareciam sujas e pesadas. Desvencilhando-se enfim da vasilha, levantou voo com muita dificuldade. Depois ficou pairando sobre as ruínas.
Da terceira vasilha apareceu uma figura humana, que parecia desmaiada e ferida. Não estava vestida, e era como uma sombra branca, com pouca definição de contornos e detalhes, mas inegavelmente um ser humano. Ele colocou-se de pé com muito custo. Esforçava-se bastante para caminhar sobre as ruínas, mas caía a todo instante.
Da quarta vasilha saiu um leão enorme. Parecia doente ou cansado. Seu pelo era limpo, incrivelmente brilhante. Cabisbaixo, ele começou a caminhar penosamente. A juba majestosa acompanhava o movimento, por vezes cobrindo-lhe a cabeça. Por fim, ele posicionou-se embaixo do pássaro que pairava no ar, e ficou ali olhando para ele.
Os animais e a figura humana tomaram lugar ao lado de um senhor vestido com uma túnica branca, sentado no que parecia ser o resto de uma poltrona dourada, cujo braço terminava no desenho de um animal, ou de uma criança. Esse senhor parecia sofrer horrivelmente. Apesar da túnica bela e folgada, parecia de linho, com um caimento magnífico, ele gemia por causa de um cinto largo e negro que o prendia na cintura. Tentava tirá-lo a todo custo, mas não conseguia. Não vi o rosto desse senhor, pois ele estava de costas, com a cabeça ligeiramente voltada para os rapazes ao fundo. Notei apenas que ele tinha cabelos brancos e ralos. De repente, ele gritou entre soluços muito doloridos:
– Senhor, eu não fiz o que me pediu!… Perdão, meu Deus!… Perdão, meu Deus!…
Neste momento um redemoinho formou-se entre as ruínas. Uma espessa coluna de fumaça começou a tomar a forma de uma pessoa completamente sem definição. Era como se houvesse alguém escondido dentro da coluna de fumaça. E daí surgiu uma mão negra, grande e nodosa, que começou a apanhar algumas pedras fumegantes, e tentava colocá-las umas sobre as outras.
Nossa Senhora então me disse:
– Esta visão, que Deus lhe concedeu, você deverá escrevê-la e entregá-la nas mãos dos dois Serafins, o senhor bispo de Leiria e o senhor cardeal de Belo Horizonte, sem mais tardar. Guarde reserva sobre ela até o dia 15 de outubro deste ano. É o prazo que o Senhor Deus concede a esses bispos para que isso chegue ao Vaticano. O que vou lhe relatar agora poderá ser dito de imediato. Não fizeram o que pedi aqui em Fátima. O que Deus permitiu à pastora Lúcia ver e relatar ainda não se cumpriu. É urgente e necessário que o corpo clerical da Igreja promova uma consagração do mundo ao meu Coração Imaculado, pois existe um pequeno espaço de tempo para que essas coisas possam ser modificadas antes de se cumprirem. Se fizerem o que peço, muita coisa será atenuada. Entretanto, tempos sombrios para a Igreja virão. Pela vontade da Divina Misericórdia, devo proteger a Igreja na América Latina, em especial o Brasil, e na Europa, Portugal, para que não caiam no pecado da apostasia e possam dar ao mundo o exemplo da fé. Esse reitor me causará num futuro próximo grandes aborrecimentos.
– Senhora – eu perguntei –, o que significa essa cena que eu acabei de ver?
– Não cabe a você discernir sobre isso – Ela respondeu. – Apenas entregue aos dois bispos o que irá escrever.
Segundos depois, Nossa Senhora pediu:
– Por favor, faça trazer até você a minha imagem.
– Que imagem, Senhora?
– Aquela que lhe enviei daqui de Fátima.
– Ela não está aqui, Senhora; mandei que a deixassem no hotel.
– Sim, ela está aqui; peça que a tragam.
Pedi às pessoas ao redor que me trouxessem a imagem de Fátima, e pouco depois alguém a colocou nas minhas mãos. Nossa Senhora então lançou um olhar pleno de ternura sobre ela, que ficou envolta por uma luz alaranjada.
Em seguida, senti de novo uma brisa suave roçando o meu rosto. Nossa Senhora começou a afastar-se no céu azul, até que desapareceu por completo.
1 Padre Luciano Guerra.
2 Na simbologia tradicional, os evangelistas são representados por quatro figuras: São Mateus, por um homem; São Marcos, por um leão; São Lucas, por um touro; e São João, por uma águia.
Referência: LOPES, Raymundo. Fátima: O Retorno da Virgem. In: LEMBI, Francisco. O Terceiro Segredo: A Vinda de Jesus. Belo Horizonte: Magnificat, 2005. p. 89-93.