Depois da Academia para a Vida, o Instituto para a Família também muda o rosto
Passados pela peneira um após o outro, os novos membros da Pontifícia Academia para a Vida nomeados em 13 de junho pelo Papa Francisco guardam a cada dia novas surpresas.
Sandro Magister.
28 de junho 2017.
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Tradução: Bruno Braga
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Passados pela peneira um após o outro, os novos membros da Pontifícia Academia para a Vida nomeados em 13 de junho pelo Papa Francisco guardam a cada dia novas surpresas.
Mas no vizinho Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, que o Papa também entregou aos cuidados do Monsenhor Vincenzo Paglia, prepara-se uma mudança na mesma direção.
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Na Pontifícia Academia para a Vida inicialmente fez barulho a nomeação do teólogo moralista anglicano Nigel Biggar, partidário do aborto até “18 semanas após a concepção” [1].
Interpelado pelo “Vatican Insider”, o Monsenhor Paglia tentou justificar a nomeação afirmando que Biggar – além das palavras trocadas em 2011 com o filósofo e fervoroso abortista Peter Singer – “nunca escreveu nada sobre o tema do aborto”, e sobre o fim da vida, “tem uma posição absolutamente coincidente com a católica [2].
Mas não passou muito tempo até se descobrir que ambas as afirmações não correspondem à verdade, e que Biggar expressou suas opiniões possibilistas sobre o tema do aborto em um artigo de 2015 no “Journal de Ética Médica” e sobre o tema da eutanásia no seu livro de 2014, intitulado “Aiming to kill. The ethics of suicide and euthanasia” [3].
Posteriormente, houve uma advertência de que outros novos acadêmicos também estão muito longe das posições da Igreja:
– a sueca Katarina Le Blanc, do Karolinska Institutet, de Estocolmo, que utiliza células-tronco extraídas de embriões humanos facundados in vitro;
– o japonês e Prêmio Nobel Shinya Yamanaka que, embora célebre por ter produzido artificialmente células-tronco pluripotentes, não exclui em absoluto que se continuem as investigações sobre a utilização de células-tronco humanas, e explica o porquê em um artigo publicado na revista científica “Cell & Stem Cell”.
– o judeu israelense Avraham Steinberg, que admite em alguns casos o aborto e a destruição de embriões para uso científico.
– o italiano Maurizio Chiodi, teólogo moralista de primeiro nível, que em seu livro “Etica della vita” se abre à admissão da procriação artificial, se compatível com uma “intenção geradora”.
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Entretanto, como já ocorreu com a Academia, também para o Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família está chegando um novo estatuto, que entrará em vigor imediatamente em vigor com a assinatura do Papa Francisco.
O Instituto mudará de nome, já não levará como título o nome do Papa que o fundou, será chamado “Instituto de Ciências da Família” ou algo parecido, e será incorporado à Pontifícia Universidade Lateranense, sob a autoridade de seu atual reitor, Monsenhor Enrico dal Covolo.
Esta perda de autonomia do Instituto é justificada pelos partidários do novo curso assumido com a vontade de reforçar o valor dos títulos de licenciatura em teologia moral, de doutorado e mestrado que o mesmo emite, para ampliar sua oferta formativa, integrando-a com a da Universidade, e ampliar o seu horizonte internacional.
Mas, além do fato de que o Instituto João Paulo II já tem numerosas sedes na Europa, Ásia, África, América e Austrália [4], um primeiro efeito prático dessa mudança será que o corpo docente poderá ser remodelado a gosto, ingressando novos professores e novos investigadores tomados da Universidade Lateranense e de outras Universidades, pontificiais ou não.
Isto é suficiente para desviar o muro erguido por seus atuais docentes, unidos em quase sua totalidade para manter firme a linha do fundador do Instituto, o Papa Karol Wojtyla, e de seus três primeiros decanos: Carlo Caffarra, Angelo Scola e Livio Melina. Este último foi removido no verão passado, substituído pelo teólogo milanês PierAngelo Sequeri, contextualmente na nomeação do Monsenhor Paglia como Grão Chanceler do Instituto. De Scola, criado Cardeal e Arcebispo de Milão, sabe-se que foi o grande derrotado por Bergoglio no Conclave de 2013. De Caffarra, também feito Cardeal e hoje Arcebispo Emérito de Bolonha, se conhece a franqueza da palavra a respeito do Papa Francisco: é um dos quatro Cardeais que lhe pediram publicamente para lançar luz sobre os “dubia” gerados pelo seu magistério [5], justamente na matéria do matrimônio e família, e que lhe escreveram recentemente para serem recebidos em audiência [6]. Em ambos os casos sem que o Papa se dignasse a dar-lhes uma resposta.
Um exemplo da linha “wojtyliana” sobre a qual continuam sendo acreditados os docentes do Instituto da gestão anterior é o “Vademecum” sobre a interpretação de “Amoris laetitia”, editado pelos professores José Grados, Stephan Kampowski e Juan José Pérez-Soba, em perfeita continuidade com o magistério anterior da Igreja [7].
Porém, não faltam as primeiras mudanças de campo. A mais clamorosa é a de Gilfredo Marengo, desde 2013 docente de Antropologia Teológica no Instituto [8]. Era um dos discípulos prediletos de Scola quando este era decano e depois, e que agora se encontra na margem oposta, com Monsenhor Paglia. Não é por acaso que foi atribuída justamente a Marengo a tarefa de coordenar a comissão [9] – da qual faz parte Sequeri, o atual decano do Instituto – que deveria abrir o caminho para uma reinterpretação da Encíclica de Paulo VI, “Humanae vitae”, sobre a contracepção, à luz de “Amoris laetitia”.
Resta depois ver o que vai acontecer com as sedes periféricas do Instituto, também elas pouco dispostas a se submeterem ao novo curso de ação. A mais poderosa é a de Washington, com um aguerrido corpo docente totalmente na linha “wojtyliana” e muito bem financiada pelos Cavaleiros de Colombo, cujo chefe supremo, Carl Anderson, é ali também docente e vice-decano [10].
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Em todo caso, os alunos e os docentes do Instituto João Paulo II até agora a cargo das cátedras seguem a diante, sem ceder.
No próximo número da revista do Instituto, “Anthropotes” [11], aparecerá um artigo de Alberto Frigerio, um doutorado de Milão, que critica a fundo o volume “Amoris laetitia: un punto di svolta per la teologia morale” [Amoris laetitia: um momento crucial para a teologia moral], a cargo de Stephan Goertz e Caroline Witting, editado na Itália pela editora San Pablo, que expressa as posições mais avançadas da teologia alemã.
E precisamente com o mais conhecido dos teólogos moralistas da Alemanha, Eberhard Schockenhoff – autor de um recente ensaio sobre “Stimmen der Zeit” que fez muito barulho [12] -, cruzou espadas Livio Melina, o penúltimo decano do Instituto, durante um congresso celebrado em Nysa (Polônia), na região da Silésia, com uma centena de teólogos moralistas polacos e com a presença de dois Bispos auxiliares, de Posnânia e de Lublin.
Schockenhoff é uma autoridade não só na Alemanha, mas também fora dela. A Conferência Episcopal da Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia quis escutar precisamente ele em uma jornada de estudo sobre “Amoris laetitia”, levada a cabo em Hamburgo há dois meses.
Melina, contudo, contradisse ponto por ponto as posições do teólogo alemão, mostrando a falta de fundamentação da suposta “mudança de paradigma” que muitos associam ao magistério do Papa Francisco. E os Bispos da Polônia, em suas orientações para a aplicação de “Amoris laetitia”, concordam de forma plena com ele [13].
A exposição de Melina, apresentada no dia 12 de junho, será publicada também no próximo número da “Anthropotes”. Aqui antecípa-se o texto na íntegra: “Le sfide di ‘Amoris Laetitia’ per un teologo della morale” [14].
Notas.
[1]. Cf. [].
[2]. Cf. [].
[3]. Cf. [].
[4]. Cf. [
[5]. Cf. [
[6]. Cf. [].
[7]. Cf. [].
[8]. Cf. [].
[9]. Cf. [].
[10]. Cf. [].
[11]. Cf. [
[12]. Cf. [
[13]. Cf. [].
[14]. Cf. [].