Por Antonio José Sánchez Sáez
Tradução: Obra Missionária
I. Introdução: o documento “Do conflito à comunhão. Comemoração conjunta luterano-católica romana da Reforma em 2017” como possível ponte para a abolição da Missa.
Há alguns meses dávamos a voz de alarme neste artigo (1) sobre o devastador ataque à Eucaristia que supunha a publicação do documento “Do conflito à comunhão”, publicado em outubro de 2013. Este documento havia sido aprovado pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, presidido pelo Cardeal alemão Walter Kasper, teólogo de gabinete de Francisco, cujas teses favoráveis a dar a comunhão às pessoas que vivam em adultério e sem castidade parecem ter sido apoiadas plenamente na exortação apostólica Amoris Laetitia.
Meu artigo se intitulava: “Até a dessacralização final da Eucaristia: o documento ‘Do conflito à comunhão. Comemoração conjunta luterano-católica romana da Reforma em 2017. Informe da comissão luterano-católica romana sobre a unidade’. Uma possível ponte para a supressão do sacrifício perpétuo da Missa”. Este infame documento apoiava veladamente as teses luteranas sobre a Eucaristia ao omitir a doutrina da transubstanciação como doutrina necessária da Missa católica, e aspirava, horror!, a criar uma liturgia compartilhada na qual os luteranos pudessem estar confortáveis, devido à omissão da fórmula consagratória. Tratar-se-ia, nem mais nem menos, da abolição do sacrifício perpétuo de que nos falava Daniel 12,11.
Este documento é a gota que enche o cálice. Com efeito, a Eucaristia, Cristo presente realmente sob a espécie do pão e do vinho em seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade está há muito tempo submetida a um furioso ataque, desde dentro mesmo da Igreja católica, por parte daqueles sacerdotes, bispos, cardeais e teólogos que se lançaram nos braços de Lutero, do judaísmo cabalístico e talmúdico, e da maçonaria. Baste esta breve recordação que fizemos neste outro artigo nosso (2).
No primeiro artigo citado, concluímos:
“Depois de desentranhar o sentido profundo da mens dos autores do documento comentado, cremos tristemente que se pretende converter a Missa em uma mera ‘comemoração’, retirando-lhe o caráter sacrificial, negando a transubstanciação e substituindo-a por uma ceia ou refeição santa, que faça da Missa um mero memorial ou memória real da ceia do Senhor, apetecível para que os luteranos venham a comungar nas nossas Missas católicas ou, o que é pior, criar uma liturgia mista luterano-católica ou católico-luterana na qual todos comunguem indistintamente, eliminado o katejon necessário para a união das Igrejas católica e luterana, que é a Eucaristia. Não por casualidade, o título do documento é obscuro mas revelador (Do conflito à comunhão) à luz dessa intenção descrita”.
Está profetizado na Revelação Pública que no fim dos tempos a parte infiel da Igreja católica que apostate da fé imporá a toda a Igreja a supressão da Eucaristia, logo, da Missa. Assim, no Antigo Testamento, o profeta Daniel nos falou claramente da abolição do sacrifício perpétuo e, na continuação, da abominação da desolação, isto é, a entronização do Anticristo no altar, fazendo-se adorar como Deus onde deveria estar o Sacrário. Em Daniel 9,27 está dito que o Anticristo suprimirá a Missa depois dos primeiros três anos e meio de reinado.
No Novo Testamento, São Paulo nos indica que há algo misterioso que é o que retém o Anticristo (katejos, katejon). Os Santos Padres da Igreja consideravam que o katejos era o Império Romano, ou ao menos a sua ordem jurídica e moral. Eu creio que há algo mais, e que esse katejos é o Cristo Eucaristia. A este respeito, faço remissão ao primeiro artigo citado. O mesmo Cristo nos diz que o momento para fugir para o deserto será quando se produza a abominação desoladora (Mt 24,15-17,21), que, como vimos, é posterior à supressão do sacrifício perpétuo.
O mesmo chegou a profetizar, com profunda preocupação, o então Cardeal Pacelli, futuro Papa Pio XII:
“Estou preocupado por causa das mensagens da Santíssima Virgem a Lúcia de Fátima. Essa persistência de Maria sobre os perigos que ameaçam a Igreja é uma advertência divina sobre o suicídio de alterar a Fé em sua Liturgia, em sua Teologia, em sua alma… Escutei ao meu redor inovadores que querem desmantelar a Sagrada Capela, destruir a chama universal da Igreja, rechaçar seus ornamentos e fazê-la sentir remorsos de seu passado histórico. Chegará um dia em que o mundo civilizado negará o seu Deus, em que a Igreja duvidará como Pedro duvidou. Ela será tentada a crer que o homem se tornou Deus. Em nossas igrejas, os cristãos buscarão em vão a lâmpada roxa onde Deus os esperava. Como Maria Madalena chorou diante do túmulo vazio, eles perguntarão: ‘Onde o colocaram?’” (3)
Dentro da Revelação Pública, a Tradição da Igreja sempre interpretou os versículos que na Bíblia nos falam da apostasia da Igreja advertindo-nos que se chegaria ao cúmulo de rechaçar o maior dogma da nossa fé, o mysterium fidei, a crença na presença real na Eucaristia, fonte e ápice da Igreja (Ecclesia de Eucharistia, 1). A Santíssima Virgem se queixou amargamente disso (4). E como consequência dessa falta de fé na presença real se acabará suprimindo a Missa. Esta apostasia se resume no número 675 do Catecismo. Mas sobre isso nos falaram muitos Santos Padres da Igreja (5).
A mesma Virgem, em locução interior ao padre Gobbi, publicadas com imprimatur, chegou a advertir-nos de que um dia seria suprimida a Eucaristia na Igreja:
“A Santa Missa é o sacrifício perpétuo, a oblação pura que é oferecida ao Senhor em todas as partes desde o nascer do sol até o ocaso. O sacrifício da Missa renova o que foi levado a cabo por Jesus no Calvário. Acolhendo a doutrina protestante, se dirá que a Missa não é um sacrifício, mas tão-somente uma santa ceia, isto é, a recordação do que Jesus fez na sua última ceia. E assim será suprimida a celebração da Santa Missa. Nesta abolição do sacrifício perpétuo consiste o horrível sacrilégio, levado a cabo pelo Anticristo, que durará três anos e meio, isto é, mil duzentos e noventa dias” (Mensagem de 31 de dezembro de 1992).
É muito provável que essa supressão seja realizada pelo falso profeta, de comum acordo com o Anticristo. É que Anticristo terá o seu falso profeta, que o precederá, como nos disse Santo Irineu de Lyon (discípulo direto de São João Evangelista) em sua obra magna Adversus Haeresis. Porque, como Cristo teve um profeta que o anunciou e lhe aplainou o caminho (São João Batista), pregando contra o adultério, parece lógico pensar que o Anticristo, que é o imitador de Deus, haverá de ter o seu falso profeta, um falso papa com chifres de cordeiro (mitra) mas que fala como um dragão (o dragão é o comunismo marxista), que pregará que o adultério não é pecado. É o Anticristo da terra ou o Anticristo religioso (Ap 13,11-15).
Ana Catarina Emmerick, proclamada beata por João Paulo II, profetizava a esse respeito que seria exigido dos sacerdotes fazer algo com o que muitos não estariam de acordo, e que então se dividiriam em fiéis e infiéis. Enquanto alguns se apressariam a fechar as Igrejas e a preparar-se para a defesa, outros aceitariam com gosto as reformas. Possivelmente essa ordem seja, dentro de não muito tempo, celebrar uma liturgia conjunta católico-protestante na qual não haja consagração. É o que se infere de suas palavras:
“Vi também na Alemanha eclesiásticos mundanos e protestantes iluminados manifestar desejos e formar um plano para a fusão das confissões religiosas e para a supressão da autoridade papal.” (AA.III.179)
“… e este plano tinha, na própria Roma, seus promotores entre os prelados!” (AA.III.179)
“Eles construíam uma grande igreja, estranha e extravagante; todo o mundo tinha que entrar nela para unir-se e possuir ali os mesmos direitos; evangélicos, católicos, seitas de todo tipo; o que devia ser uma verdadeira comunhão dos profanos onde não haveria mais que um pastor e um rebanho. Tinha que haver também um Papa, mas que não possuísse nada e fosse assalariado. Tudo estava preparado de antemão e muitas coisas estavam já feitas; mas no lugar do altar, não havia mais que desolação e abominação”. (AA.III.188)
“Vejo os inimigos do Santíssimo Sacramento que fecham as Igrejas e impedem que Ele seja adorado, e se aproxima um terrível castigo. Eu os vejo enfermos e no leito de morte sem sacerdote nem sacramento”. (AA.III.167)
E mais claramente ainda:
“2 de abril de 1820 – Tive todavia uma visão sobre a grande tribulação, na nossa terra e em terras distantes. Me pareceu ver que se exigia do clero uma concessão que não podia fazer. Vi muitos anciãos sacerdotes e alguns velhos franciscanos, que já não trajavam o hábito de sua ordem e sobretudo um eclesiástico muito ancião, chorar muito amargamente. Vi também alguns jovens chorar com eles (AA.III.161). Vi outros, todos tíbios, que se apressavam com gosto a cumprir o que lhes era ordenado. Vi velhos, que haviam permanecido fiéis, submeter-se à defesa com grande aflição e fechar as suas igrejas. Vi muitos outros, pessoas piedosas, camponeses e burgueses, acercar-se deles; era como se se dividissem em duas partes, uma boa e uma má.” (AA.III.162)
II. A concepção luterana da Missa e sua refutação no Concílio de Trento
Era difícil para Lutero admitir a “mudança” de substância (transubstanciação). Ele preferia falar de coincidência ou dupla existência (consubstanciação ou empanação) para na realidade negar a presença real de Cristo na Eucaristia. De onde vem este distanciamento da sã doutrina sobre a Eucaristia? Como sempre, do seu ódio à palavra “sacrifício”: ao negar que a Eucaristia fosse a renovação e a atualização do sacrifício de Cristo no Calvário, ele nega que na Eucaristia Cristo seja oferecido ao Pai pelo sacerdote, como exige o cânon da Missa, onde depois da consagração a partição da Hóstia representa a sua morte, e seu consumo a ressurreição. Seguindo com essa argumentação, Lutero cria que a Missa não era o oferecimento de um novo sacrifício de Cristo ao Pai, e para acabar com este sentido litúrgico é que elimina este aspecto da celebração. No entanto, a Igreja nunca disse que a Missa fosse um sacrifício novo e distinto do único sacrifício de Cristo no Calvário. A Igreja sempre entendeu que a Missa é a renovação e atualização daquele primeiro sacrifício, mas que, isto sim, se repete incruentamente cada vez que se celebra a Missa, não adicionando um sacrifício novo ao original. Lutero, como vemos, contornou o autêntico sentido católico da Missa porque o incomodava conceber a Eucaristia como sacrifício, sacrifício cuja atualização a Igreja católica sempre considerou necessária para satisfazer ao Pai e aplacar a sua justa ira pelos pecados dos homens, e para perdoar os nossos pecados. Essa a razão por que a fé luterana considera que o homem se salva pela mera fé, sem necessidade de arrependimento nem de confissão dos pecados. Desta forma, por que atualizar o sacrifício de Cristo se não é necessário, uma vez que todos os que cremos nele estamos salvos, façamos o que façamos, por seu sacrifício na cruz? E se não há sacrifício, não há cordeiro a se sacrificar… logo Cristo não está presente na Eucaristia, que é uma mera recordação ou memorial da última ceia do Senhor.
Para Lutero, pois, a Missa é uma mera anamnesis ou rememoração da última ceia ou, quando muito, do sacrifício de Cristo, sem que este sacrifício se realize de novo (renovar), incruentamente, no altar. Na sua opinião, na Missa o sacerdote se limita a recordar a última ceia ou, em última instância, o sacrifício de Cristo no Calvário, enquanto que para a Igreja católica o sacerdote rememora esse sacrifício mediante a sua renovação, reproduzindo-o de novo, misticamente, na consagração, e não um novo sacrifício, mas o mesmo, agora incruento, atualizado realmente e realmente realizado no altar da Igreja. Por isso, não é de estranhar que a primeira fixação de Lutero tenha sido retirar os altares e substituí-los por mesas, ao modo de uma ceia. A anamnesis ou rememoração luterana, portanto, nada tem a ver com a anamnesis ou rememoração da Igreja católica, e se limita a um mero “fazer memória” ou “fazer eucaristia” de meros fatos ou acontecimentos passados.
Hoje em dia são poucos os luteranos que creem na presença real de Cristo na Eucaristia. Lutero entendia que não havia transubstanciação, mas uma consubstanciação, de forma de Cristo estava presente junto com o pão e o vinho, de uma maneira espiritual, não real. A imensa maioria sabe que seus sacerdotes não têm sucessão apostólica e que seus ministros não estão validamente ordenados para poder consagrar, razão pela qual se aproximaram das teses de Calvino e Zwinglio, segundo as quais, na Eucaristia, a presença de Cristo é meramente simbólica ou metafórica.
O sentido correto de “memorial” ou “comemoração”, renovação e atualização incruenta do sacrifício de Cristo na cruz, está resumido perfeitamente no Catecismo, número 1382:
“A Missa é, a uma só vez e inseparavelmente, o memorial sacrificial em que se perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está totalmente orientada à união íntima dos fiéis com Cristo por meio da comunhão. Comungar é receber a Cristo mesmo que se oferece por nós”.
E, como consequência disso, o Concílio de Trento excomunga todos aqueles que, como os luteranos, considerem a Eucaristia como uma mera comemoração, recordação ou memória (isto é, não como reprodução real do sacrifício), em outras palavras, como um sacrifício de ação de graças, não propiciatório:
“Can. 3. Se alguém disser que o sacrifício da Missa é somente uma lembrança ou ação de graças, ou mera comemoração do sacrifício cumprido na cruz, mas não propiciatório; ou que somente beneficia a quem o recebe; e que não deve ser oferecido pelos vivos ou defuntos, pelos pecados, penas, satisfações e outras necessidades, seja anátema”.
Cristo, morrendo na cruz, acabou com a amartia, o domínio do Demônio sobre os homens adquirido por culpa do pecado original, desde que se obedeçam e cumpram os mandamentos, conservando, mediante o sacramento da confissão, a graça santificante. O memorial do sacrifício de Cristo é, pois, propiciatório, isto é, por ser uma reprodução real, dentro da Santa Missa, do sacrifício originário de Cristo na cruz, é agradável ao Pai e aplaca a sua justa ira por nossos pecados, agora reparados, e nos infunde, mediante o consumo em estado de graça da Eucaristia, a força para perseverar na Verdade e para, cometido um pecado, arrepender-nos e voltar à vida da graça. A Missa é portanto necessária para que o sacrifício de Cristo na cruz beneficie os vivos e os mortos.
“Cap. 2. [O sacrifício visível é propiciatório para os vivos e para os defuntos]
Pois aplacado o Senhor pela oblação deste sacrifício, concedendo a graça e o dom da penitência, perdoa os crimes e os pecados, por grandes que sejam. Uma só e a mesma é, com efeito, a vítima, e o que agora se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que então se ofereceu a si mesmo na cruz, sendo distinta apenas a maneira de oferecer-se. Os frutos desta oblação (a cruenta, dizemos) são percebidos abundantemente por meio da incruenta: embora tão distante, aquela não se deprecia por esta de maneira alguma (Can. 4). Por isso, não somente se oferece legitimamente, conforme a tradição dos apóstolos, pelos pecados, penas, satisfações e outras necessidades dos fiéis vivos, mas também pelos defuntos em Cristo, ainda não purgados plenamente (Can. 3).”
A Santa Missa, como reprodução que é do sacrifício redentor de Cristo na cruz, possui os mesmos fins e produz os mesmos efeitos que aquela:
– Adoração: o sacrifício da Missa rende a Deus uma adoração absolutamente digna d’Ele. Com uma Missa damos a Deus toda a honra que se deve a Ele. Glorificação ao Pai: com Cristo, em Cristo e por Cristo. Este é o fim latrêutico.
– Reparação: fim propiciatório, reparação pelos pecados.
– Petição: fim impetratório. Pedir graças e favores, pois a Missa possui a eficácia infinita da oração do próprio Cristo.
A Igreja católica ensina desde sempre que a Santa Missa atualiza, de maneira incruenta, aquele único sacrifício cruento do Calvário, sacrifício incruento que consiste em que Cristo se faz presente realmente mediante a transubstanciação e é imolado incruentamente ao Pai, em reparação pelos nossos pecados. Não se repete um novo sacrifício, mas se faz presente realmente aquele sacrifício primeiro, de maneira incruenta: o cordeiro de Deus que se sacrifica na Missa, vítima imaculada e agradável ao Pai, nós o obtemos mediante a fórmula da consagração pronunciada pelo sacerdote, que obra a transubstanciação. Esse sacrifício da Eucaristia é idêntico ao da Cruz, porque Cristo é em ambos a vítima e o sacerdote, com a única diferença de que na Missa o sacrifício é incruento.
Assim nos diz o Catecismo da Igreja católica (6).
Por isso, é herético dizer, como o luterano, que a Eucaristia é o mero memorial, recordação ou comemoração da ceia; ou o mero memorial, recordação ou comemoração do sacrifício de Cristo na Cruz, sem que seja necessário atualizá-lo nem renová-lo e sem caráter propiciatório. Os protestantes falam constantemente em “memorial”, em “santa memória” ou em “recordação real”, “comemoração” ou “anamnesis” para apontar a presença meramente espiritual de Cristo na Eucaristia, não real. Na sua maioria concebem a Missa como uma mera ceia festiva e não como um sacrifício. E os mais sérios entre os luteranos, somente como uma recordação do sacrifício. Daqui que eles e muitos teólogos supostamente católicos falem de transignificação ou transfinalização, mas nunca empreguem a palavra “transubstanciação”, que odeiam e rechaçam furibundamente, porque sua ideia é a de que a presença de Cristo é meramente metafórica, simbólica ou espiritual, como recordação, não como renovação do sacrifício de Cristo, presente realmente, ontologicamente, em seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho.
O documento “Do conflito à comunhão”, já comentado, conclui de maneira abertamente protestante: “Se a compreensão da Ceia do Senhor como recordação real é tomada a sério e de maneira coerente, as diferenças na compreensão do sacrifício eucarístico são aceitáveis para católicos e luteranos”. A Eucaristia não é a “recordação real” da ceia do Senhor. Não. É a presença real de Cristo na Eucaristia.
III. A preocupante coincidência da concepção que tem Francisco da Eucaristia com as teses protestantes: sua homilia na Missa de Corpus Christi de 18 de junho de 2017 (7)
Essa concepção luterana e protestante da Eucaristia mencionada, segundo a qual a Eucaristia é a “recordação real” (note-se a tergiversação do adjetivo “real”, que sempre deve estar referido à forma em que Cristo está presente na Eucaristia, não à recordação “realista” da ceia) da santa e última ceia, parece estar plenamente presente na homilia que Francisco proferiu no passado 18 de junho deste ano de 2017, na Missa da festividade de Corpus Christi.
Já recordamos, por certo, que Francisco nunca se ajoelha diante do Santíssimo. Não o faz nunca após a consagração, quando celebra ele mesmo a Missa. Tampouco o faz na adoração eucarística (recordemos que Lutero a proibiu por considerar que Cristo, após a Missa, não está presente, nem sequer consubstanciado), nem sequer nesta festividade, embora lhe tivessem preparado um genuflexório acolchoado com veludo roxo (8). Somente isto já deveria colocar em guarda os católicos honestos. Ademais, cancelou na diocese de Roma a festividade de quinta-feira do Corpus Christi, transferindo-a para domingo, o que reduziu em muito a afluência de fiéis em relação aos anos anteriores (9). Também deixou de acompanhar o Santíssimo na carruagem que vai de São João de Latrão até a Basílica de Santa Maria Maior, optando por fazer o trajeto de carro (!).
Mas vejamos o que ele disse. Sublinhamos em negrito o mais inquietante.
“Na solenidade de Corpus Christi aparece uma e outra vez o tema da memória: ‘Recorda todo o caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer […]. Não olvides o Senhor, […] que te alimentou no deserto com um maná’ (Dt 8,2.14.16) – disse Moisés ao povo. ‘Fazei isto em memória de mim’ (1 Co 11,24 – Jesus nos dirá. O ‘pão vivo que desceu do céu’ (Jn 6,51) é o sacramento da memória que nos recorda, de maneira real e tangível, a história de amor de Deus por nós.
Recorda, nos diz hoje a Palavra divina a cada um de nós. A recordação das obras do Senhor fez com que este povo no deserto caminhasse com mais determinação; nossa história pessoal de salvação se funda na recordação do que o Senhor fez por nós. Recordar é essencial para a fé, como a água para uma planta: assim como uma planta não pode permanecer com vida e dar fruto sem ela, tampouco a fé se não se sacia com a memória do que o Senhor fez por nós.
Recorda. A memória é importante, porque nos permite permanecer no amor, recordar, quer dizer, levar no coração, não esquecer que nos ama e que fomos chamados a amar. Não obstante, esta faculdade única que o Senhor nos deu está hoje bastante debilitada. No frenesi em que estamos imersos, são muitas pessoas e acontecimentos que parecem passar por nossa vida sem deixar rastros. A página é passada rapidamente, famintos de novidade, mas pobres de recordação. Assim, eliminando as recordações e vivendo o instante, corre-se o perigo de permanecer no superficial, na moda do momento, sem ir ao fundo, sem essa dimensão que nos recorda quem somos e de onde viemos. Então a vida exterior se fragmenta e a interior se torna inerte.
Por outro lado, a solenidade de hoje nos recorda que, na fragmentação da vida, o Senhor sai ao nosso encontro com uma fragilidade amorosa que é a Eucaristia. No Pão de vida, o Senhor nos visita fazendo-se alimento humilde que cura com amor a nossa memória, enferma e frenesi. Porque a Eucaristia é o memorial do amor de Deus. Aí “se celebra o memorial de sua paixão” (Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, Antífona ao Magnificat das II Vésperas), do amor de Deus por nós, que é a nossa força, o apoio para o nosso caminhar. Por isso, nos faz tão bem o memorial eucarístico: não é uma memória abstrata, fria ou conceitual, mas a memória viva e consoladora do amor de Deus. Na Eucaristia está todo o sabor das palavras e dos gestos de Jesus, o gosto de sua Páscoa, a fragrância de seu Espírito. Recebendo-a, se imprime em nosso coração a certeza de sermos amados por ele. E enquanto digo isso, penso de modo particular em vocês, meninos e meninas, que há pouco receberam a Primeira Comunhão e que estão presentes aqui em grande número.
Assim a Eucaristia forma em nós uma memória agradecida, porque nos reconhecemos filhos amados e saciados pelo Pai; uma memória livre, porque o amor de Jesus, seu perdão, cura as feridas do passado e nos mitiga a recordação das injustiças sofridas e infligidas; uma memória paciente, porque no meio da adversidade sabemos que o Espírito de Jesus permanece em nós.
A Eucaristia nos anima: inclusive no caminho mais acidentado não estamos sós, o Senhor não se esquece de nós e cada vez que vamos a ele, ele nos conforta com amor. A Eucaristia nos recorda ademais que não somos indivíduos, mas um corpo. Como o povo no deserto recolhia o maná caído do céu e o compartilhava em família (cf. Ex 16), assim Jesus, Pão do céu, nos convoca para recebê-lo juntos e compartilhá-lo entre nós. A Eucaristia não é um sacramento “para mim”, é o sacramento de muitos que formam um só corpo. São Paulo nos recordou: “Porque o pão é um, nós, sendo muitos, formamos um só corpo, pois todos comemos do mesmo pão” (1 Co 10,17). A Eucaristia é o sacramento da unidade. Quem a recebe se converte necessariamente no artífice da unidade, porque nasce nele, em seu “DNA espiritual”, a construção da unidade. Que este Pão de unidade nos cure da ambição de estar acima dos demais, da voracidade de monopolizar para si mesmo, de fomentar discórdias e disseminar críticas; que suscite a alegria de amar-nos sem rivalidade, invejas e fofocas caluniadoras.
E agora, vivendo a Eucaristia, adoremos e agradeçamos o Senhor por este dom supremo: memória viva de seu amor, que faz de nós um só corpo e nos conduz à unidade.”
Para Francisco, portanto:
1) A Eucaristia é somente a recordação real de Cristo, do amor que Ele nos tem, e de sua última ceia:
- a) “O “pão vivo que desceu do céu” (Jn 6,51) é o sacramento da memória que nos recorda, de maneira real e tangível, a história do amor de Deus por nós”.
- b) “Na Eucaristia está todo o sabor das palavras e dos gestos de Jesus, o gosto de sua Páscoa, a fragrância de seu Espírito”. Observe-se que Francisco não diz que na Eucaristia está Jesus realmente, mas (a recordação de) suas palavras e gestos na Páscoa.
2) Omite-se qualquer alusão à presença real de Cristo na Eucaristia.
3) Diz-se que a Eucaristia não é um sacramento “para mim”, como se sua dimensão unificadora do povo de Deus na Verdade da fé eliminasse a dimensão sacramental que a Eucaristia tem na alma do católico que a consome.
4) A Eucaristia é um sacramento de unidade: desgraçadamente, tendo em conta o conceito indiferentista de Francisco e sua crença de que todas as denominações ou igrejas cristãs (inclusa a católica) são igualmente válidas porque cada uma deles só possui uma parte da Verdade, e que todas elas, por isso, formam um poliedro (10), nós tememos muito que essa alusão à unidade se refira, como também adverte o documento “Do conflito à comunhão”, à unidade de todos os cristãos (não somente os católico, mas os hereges e cismáticos cristãos não católicos) sob uma Eucaristia na qual não haverá consagração nem transubstanciação, mas a mera memória da última ceia.
Lamentavelmente, essa concepção protestante ou pseudoprotestante da Eucaristia deixou-se transparecer em muitas outras das suas homilias. Valham como breve recordação as seguintes:
A. Em sua homilia na Missa da solenidade de Corpus Christi de 26 de maio de 2016 (11) falou de “‘fazer’ a Eucaristia”, assimilando-a à recordação, uma vez mais.
Explica que o mandato de Jesus de celebrar a Eucaristia se limita a um mero recordá-la e para dar de comer aos pobres:
“Que o gesto da procissão eucarística, que dentro em pouco vamos fazer, responda também a este mandato de Jesus. Um gesto para fazer memória dele; um gesto para dar de comer à multidão atual; um gesto para “repartir” nossa fé e nossa vida como sinal do amor de Cristo por esta cidade e pelo mundo inteiro”.
B. Em sua homilia na missa da solenidade de Corpus Christi de 4 de junho de 2015 (12).
“Na Última Ceia, Jesus dá o seu Corpo e o seu Sangue mediante o pão e o vinho, para deixar-nos o memorial do seu sacrifício de amor infinito”.
Já não há pão nem vinho depois da transubstanciação, acrescentamos nós.
“Assim aprendemos que a Eucaristia não é um prêmio para os bons, mas a força para os fracos, para os pecadores, é o perdão, o viático que nos ajuda a andar, a caminhar”.
A Eucaristia só se pode receber na graça de Deus, quando não há pecado mortal: não pode ser considerada uma ajuda para os que estejam em pecado mortal (por exemplo os adúlteros) deixem seu pecado, pois, como nos diz São Paulo, quem come e bebe indignamente o Corpo e o Sangue de Cristo come e bebe a sua própria condenação (1 Co 11,29).
C. Em sua homilia na Missa da solenidade de Corpus Christi de 19 de junho de 2014 (13).
De novo, a Eucaristia entendida como simples memória:
“purifica nossa memória, para que não permaneça prisioneira na seletividade egoísta e mundana, e para que seja memória viva de tua presença ao longo da história de teu povo, memória que se converte no “memorial” de teu gesto de amor redentor. Amém”.
D. Em sua homilia na Missa da solenidade de Corpus Christi de 30 de maio de 2013 (14).
Nega a multiplicação dos pães e dos peixes, como fez em outras ocasiões (15).
“Um último elemento: de onde nasce a multiplicação dos pães? A resposta se encontra no convite de Jesus a seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos”, “dar”, “compartilhar”.
Associa a Eucaristia a um mero compartilhar solidário:
“… também na sociedade existe uma palavra-chave de que não devemos ter medo: “solidariedade”, ou seja, “colocar à disposição de Deus aquilo que temos, nossas humildes capacidades, porque só no compartilhar, no doar, nossa vida será fecunda, dará frutos. Solidariedade: uma palavra mal vista pelo espírito mundano!”
Em resumo, em nenhuma de suas cinco homilias de Corpus Christi Francisco falou da presença real de Cristo na Eucaristia, operada pela transubstanciação.
D. No Ângelus de 23 de agosto de 2015, comentando o Discurso do Pão da Vida, de São João, indica incorretamente que esse pão é o sacrifício na cruz, não a presença real de Cristo sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho, através da consagração realizada nos milhões de Missas celebradas desde então até agora:
“Hoje terminam as leituras do sexto capítulo do Evangelho de São João, com o discurso sobre o “Pão da Vida”, proclamado por Jesus um dia depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. No final deste discurso, o grande entusiasmo da véspera se desvanece, porque Jesus disse que era o pão descido do céu, e que Ele daria sua carne como comida e seu sangue como bebida, em clara alusão ao sacrifício de sua própria vida. Estas palavras provocaram a decepção das pessoas, que não queriam ouvir falar de um Messias que não fosse um “conquistador”. Era assim que alguns viam Jesus: como um Messias que devia falar e atuar de tal maneira que sua missão fosse exitosa, imediatamente! Mas se equivocaram exatamente nisto: na forma de entender a missão do Messias! Além disso, os discípulos não podiam aceitar aquela linguagem, uma linguagem de Mestre, perturbador. E a passagem de hoje se refere a este mal-estar: “É difícil aceitar esta linguagem”, disseram, (Jo 6:60), “quem pode escutar isso?”.
Para Francisco a Missa é uma mesa onde não comungamos Cristo realmente presente, mas sua presença se limita à presença na leitura do Evangelho:
“Tudo o que temos no mundo não satisfaz a nossa fome de infinito. Necessitamos de Jesus, de permanecer com Ele, para nos nutrirmos em sua mesa, com suas palavras de vida eterna! Crer em Jesus significa convertê-lo no centro, no sentido de nossa vida. Cristo não é um elemento acessório: Ele é o “pão vivo”, o alimento indispensável. Unir-se a Ele, em uma verdadeira relação de fé e amor, não significa ser encarcerado, mas ser [mais] profundamente livre, sempre em caminho”.
“…Quem é Jesus para você? Você está com Jesus? Busca conhecê-lo na sua palavra? Lê o Evangelho todos os dias, uma passagem do Evangelho com o fim de conhecer Jesus? Você leva um Evangelho pequeno no bolso, na carteira, para lê-lo em todas as partes? Porque quanto mais estamos com Ele, mais cresce o desejo de permanecer com Ele”.
F. Francisco repartia a comunhão como quem reparte um biscoito, sem dizer “o Corpo de Cristo”: https://www.youtube.com/watch?v=coY__PD0oko (minuto 8).
IV. A anáfora de Addai e Mari como possível instrumento para abolir a transubstanciação na missa católica.
A Igreja caldeia está em comunhão com Roma. Por causa dos estragos causados no Iraque e da diáspora posterior dos caldeus, depois da guerra do Iraque João Paulo II admitiu que os caldeus assistissem as liturgias assírias e participassem da sua Eucaristia, e, ao inverso, que os assírios ortodoxos participassem nas missas caldeias, permitindo a intercomunhão.
João Paulo II se baseou, ao tomar esta decisão, em que a Igreja assíria ortodoxa havia sido reconhecida como Igreja desde os albores da cristandade e em que (isto foi parecer de Kasper como Presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, o mesmo que apoiou e aprovou o documento “Do conflito à comunhão” criticado) (16), apesar de não aparecer a fórmula consagratória na anáfora de Addai e Mari, de origem nestoriana, ela estaria presente de maneira dispersa ou “eucológica”. Foi admitida a anáfora de Addai e Mari (para os assírios ortodoxos) pela Congregação para a Doutrina da Fé em sua Declaração de 17 de janeiro de 2001, no entendimento de que essa anáfora incluía historicamente a fórmula oral, que se perdeu na sua versão escrita, da fórmula consagratória.
No entanto, sabendo João Paulo II que essa fórmula era inválida para os católicos caldeus para poder operar a transubstanciação, solicitou encarecidamente à Igreja assíria ortodoxa (não podendo impor nada, porque esta Igreja não está em comunhão com Roma) que nos casos em que houvesse católicos caldeus na missa se fizesse uso de alguma das outras fórmulas consagratórias das quais dispõem os assírios ortodoxos, com fórmula de consagração. No sínodo ortodoxo assírio de 1978 em Bagdá, houve autorização aos seus sacerdotes para introduzir a recitação da instituição da Eucaristia na consagração de Addai e Mari quando houvesse fiéis caldeus na assembleia. Com isso se reafirmava a crença católica de que sem recitação consagratória não existe Eucaristia. Isto mesmo se reafirmou neste Documento do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos de 2001:
“Quando os fiéis caldeus participam na celebração assíria da Santa Eucaristia, o ministro assírio é vivamente convidado a inserir as palavras da Instituição na Anáfora de Addai e Mari, como foi permitido pelo Sagrado Sínodo da Igreja Assíria do Oriente”.
Com efeito, se alguém lê a anáfora de Addai e Mari, ortodoxa em suas origens, de tradição nestoriana, nela não se recitam as palavras da Consagração (“Isto é o meu Corpo…” … “Este é o Cálice do meu Sangue…”), que são as que, conforme a Igreja católica, operam a transubstanciação.
Na tradição manuscrita desta anáfora não se encontra inserido o relato da instituição eucarística. Isso não quer dizer que se prescindisse da consagração, mas que o temor que havia então de que as palavras consagratórias fossem profanadas por não cristãos justificava que elas fossem omitidas (apenas deixaram de ser escritas). A prova da existência oral dessa fórmula consagratória é a presença da uma anamnesis -, a parte da Santa Missa que se segue à consagração – explícita no texto.
A gravidade do que queremos denunciar neste artigo é que tememos que dentro em pouco na Igreja católica nos queiram dizer que a anáfora de Addai e Mari, sem a fórmula consagratória, é válida para o rito eucarístico conjunto católico-luterano que parece está sendo elaborado em Roma, pelas costas do Cardeal Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, a quem Francisco isolou depois de destituir os membros da Congregação herdados da etapa de João Paulo II e Bento XVI e de substituí-los por outros de marcado perfil modernista (17).
Aqui se pode ver a literalidade da anáfora:
http://www.prexeucharistica.org/_pdf/AM/AM-Anaf-06-castigliano.pdf
V. Conclusão
Rezemos todos para que Francisco volte à fidelidade do magistério da Igreja e não se obre pela sua mão a supressão do sacrifício perpétuo, com a ajuda do seu teólogo de gabinete, o cCrdeal Kasper, que lhe aplaina o caminho. A desculpa pode ser, por ocasião da comemoração (!) do 5º centenário do cisma luterano, a redação de um novo rito conjunto católico-luterano ou luterano-católico em que desapareça a forma (a fórmula da consagração eucarística da missa) e, por isso, a transubstanciação. Sua admiração por Lutero, cuja estátua roxa (!) foi colocada na Sala Paulo VI em 13 de outubro (!) passado (18) e cujas 95 teses sustentou sorridente neste ato não auguram notícias otimistas. Há também as suas muito preocupantes declarações sobre a Eucaristia, algumas das quais comentamos aqui, e a sua perturbadora negativa de se ajoelhar na consagração ou na adoração eucarísticas. Recordemos que Francisco também concelebrou uma cerimônia ecumênica conjunta com os protestantes luteranos na catedral luterana de Lund (19), nada menos que em um 31 de outubro, dia em que o heresiarca alemão afixou, faz agora 5 séculos, suas 95 teses na porta da capela do castelo de Wittenberg. Reparemos que, não por casualidade, o 31 de outubro é o dia do demônio no calendário satânico (Halloween)…
A Igreja protestante luterana sueca, que recebeu Francisco, ordena mulheres e muitas delas convivem como lésbicas (20). Na Declaração conjunta firmada por Francisco depois dessa celebração há o comprometimento de buscar soluções para celebrar conjuntamente a Eucaristia “em uma mesa” (21). Nela se diz abertamente que este é o objetivo.
“Muitos membros de nossas comunidades desejam receber a Eucaristia em uma mesa, como expressão concreta da unidade plena. Sentimos a dor dos que compartilham sua vida inteira, mas não podem compartilhar a presença redentora de Deus na mesa da Eucaristia. Reconhecemos nossa conjunta responsabilidade pastoral para responder à fome e sede espiritual do nosso povo com o fim de ser um em Cristo. Desejamos que seja curada esta ferida no Corpo de Cristo. Este é o propósito de nossos esforços ecumênicos, que desejamos que progridam, também com a renovação do nosso compromisso no diálogo teológico”.
A Divina Providência quis que escrevêssemos este artigo no dia 2 de agosto de 2017, sem reparar que é o dia de São Pedro Julião Eymard, apóstolo zelosíssimo da Eucaristia, fundador dos Sacerdotes do Santíssimo Sacramento, das Servas do Santíssimo Sacramento, Arquiconfraria do Santíssimo Sacramento e outras obras. Que ele interceda pela Eucaristia, coração e centro da nossa fé, mais ameaçada hoje do que em qualquer outro momento da história da Igreja.
Louvado seja o Santíssimo Sacramento do Altar! Bendita seja a Excelsa Mãe de Deus, Maria Santíssima, debeladora de todas as heresias! São José bendito, proteja a sua Igreja nesta hora obscura!
Notas
- http://comovaradealmendro.es/2016/10/hacia-la-desacralizacion-final-laeucaristia-documento-del-conflicto-la-comunion-conmemoracion-conjuntaluterano-catolico-romana-la-reforma-2017/#_ftnref19
2. http://comovaradealmendro.es/2017/06/homenaje-reparacion-cristo-eucaristiadia-del-corpus-christi/
3. Citado em Mons. Roche, Pius XII Devant l’Histoire, 52-53.
4. A mensagem principal de 12 de abril de 1947 indica que chegará um momento em que se suprimirá a Eucaristia: “… recostai-vos com mais fervor no sacramento vivente entre vós, a Eucaristia, que um dia será dessacralizada e não se acreditará mais na presença real do meu Filho… A ira de Satanás não se contém mais; o Espírito de Deus se retirará da Terra, a Igreja será deixada viúva, a batina jogada ao chão, à mercê do mundo…” Conforme o livro “Il veggente”, de Saveria Gaeta, Salani editore, Milano, 2016.
5. São Jerônimo: “O Anticristo abolirá o exercício público do único verdadeiro Sacrifício do altar” (V. S. Jer. “in Danielem 12,11. SUB TUUM PRAESIDIUM, nº 3, 2º Trim. 1986, p. 34.
Santo Ireneu, discípulo de Policarpo, por sua vez discípulo de São João Evangelista e apologeta: Santo Ireneu, testemunho quase de primeira mão da Tradição Apostólica, afirma que o Santo Sacrifício da Nova Aliança será desterrado por obra do Anticristo: “Deinde et tempus tyrannidis ejus significat, in quo tempore fugabuntur sancti qui purum sacrificium offerunt Deo”. Ou seja: “Mais tarde indica o tempo de sua tirania, quando serão perseguidos os santos que oferecem a Deus o sacrifício puro” (1. V, 25,4). Ouçamos os comentários do p. ORBE: “Nesse tempo os santos serão perseguidos e desterrado o sacrifício puro a Deus”. “Está claro, ele diz, o que entende Ireneu pela perseguição e fuga dos santos «qui purum sacrificium offerunt Deo». Cessará com o Anticristo o Sacrifício Puro, a Eucaristia dilatada por todo o mundo entre os povos para glorificar o nome do Deus Criador… A Eucaristia será, segundo Daniel (9,27), eliminada durante três anos e meio de tirania. Contra ela se acirrará singularmente o ódio do Anticristo por ser o sacrifício mais frutuoso para o homem…” (O.c. III, p. 45-48).
Santo Hipólito: “Sobrevindo ele, desaparecerá o sacrifício e a libação que, agora, em todas as partes é oferecida a Deus pelos povos”. (“De Antichristo”, 64 início; e sobretudo “In Danielem”, IV, 49,3). Citado na pág. 49.
Teodoreto de Ciro: Comentário “In Danielem” de Teodoreto de Ciro: “Abominationem autem desolationis vocat Antichristum, mutationem continuitatis ecclesiastici cultus, ordinem ab illius infamia et rabie dissipatum et ABOLITUM.” (Theodoretus de Cyro, “In Danielem”, Oratio X, circa finem.) “Chama Abominação da Desolação o Anticristo, a troca ou modificação da continuidade do culto eclesiástico, e a ordem interrompida e ABOLIDA por sua perversidade e furor”. Etc.
6. 1330. Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício do Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, “sacrifício de louvor” (Hch 13,15; Cf. Sal 116, 13.17), sacrifício espiritual (Cf. 1 P 2,5), sacrifício puro (Cf. Ml 1,11) e santo, posto que completa e supera todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
7. (Cf. Hb 7,25-27): “Quantas vezes se renova no altar o sacrifício da cruz, no qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, se realiza a obra da nossa redenção” (LG 3).
8. Por ser memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrificial da Eucaristia se manifesta nas palavras mesmas da instituição: “Isto é o meu Corpo que será entregue por vós” e “Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que será derramado por vós” (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá o mesmo corpo que por nós entregou na cruz, e o sangue mesmo que “derramou por muitos para a remissão dos pecados” (Mt 26,28).
9. A Eucaristia é, pois, um sacrifício porque representa (=faz presente) o sacrifício da cruz, porque é seu memorial e aplica seu fruto: (Cristo), nosso Deus e Senhor, se ofereceu a Deus Pai uma vez por todas, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar para os homens uma redenção eterna. No entanto, como sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, “a noite em que foi entregue” (1 Co 11,23), quis deixar para a Igreja, sua amada esposa, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana), onde seria representado o sacrifício sangrento que seria realizado uma única vez na cruz cuja memória se perpetuaria até o fim dos séculos (1 Co 11,23) e cuja virtude salutar se aplicaria à redenção dos pecados que cometemos cada dia (Cc. de Trento: DS 1740).
10. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são, pois, um único sacrifício: “É uma e mesma a vítima, que se oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo sobre a cruz. Só difere a maneira de oferecer”: (Cc. de Trento, Sess. 22a., Doctrina de ss. Missae sacrificio, c. 2: DS 1743) “E posto que neste divino sacrifício que se realiza na Missa, se contém e imola incruentamente o mesmo Cristo que no altar da cruz ‘se ofereceu a si mesmo uma vez de modo cruento’; … este sacrifício [é] verdadeiramente propiciatório” (Ibid.).
11. Pode-se ver aqui no vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=uB6dDU5nZ2E&feature=youtu.be
E aqui em formato de texto: https://www.aciprensa.com/noticias/texto-completohomilia-del-papa-francisco-en-la-misa-del-corpus-christi-2017-36209/
12. https://www.youtube.com/watch?v=10-fYVGu4c&feature=youtu.be&t=2803 (min. 47:30).
A festividade do Corpo de Cristo foi instituída pela Papa Urbano IV no século XIII frente às heresias que já então circulavam na Europa e que negavam o dogma central da Igreja: a presença real de Cristo na Eucaristia, com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho.
Desde então é comemorada na oitava quinta-feira depois da Quinta-Feira Santa, que corresponde à que segue ao domingo da Santíssima Trindade.
Na Espanha, desgraçadamente, em 1989 a Conferência Episcopal Espanhola tomou a decisão de mudar da quinta-feira para o domingo, razão pela qual desapareceram muitas procissões e outras decaíram em piedade e afluência de fiéis na celebração de um domingo normal e por causa também da influência negativa que os jogos esportivos e o resto das atividades lúdicas exercem sobre a devoção popular.
13. Tristemente, o mesmo fez Francisco na Diocese de Roma, depois de sete séculos de celebração na quinta-feira, dia da instituição da Eucaristia por Cristo: http://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=29416 e https://es.aleteia.org/2017/04/01/tras7-siglos-papa-francisco-celebrara-corpus-christi-el-domingo-en-roma/.
15. Aqui se pode ver em formato de vídeo e texto: https://www.aciprensa.com/noticias/video-papa-francisco-preside-solemnidad-decorpus-christi-en-san-juan-de-letran-10324/
19. https://www.youtube.com/watch?v=L7rEBZV30iU
20. GUIDELINES FOR ADMISSION TO THE EUCHARIST BETWEEN THE CHALDEAN CHURCH AND THE ASSYRIAN CHURCH OF THE EAST (http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/documents /rc_pc_chrstuni_doc_20011025_chiesa-caldea-assira_en.html). Um dos mentores deste documento do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, presidifo pelo próprio Kasper, não é ninguém menos que Robert Taft, sacerdote jesuíta, professor do Instituto Oriental de Roma, que sem vergonha alguma comenta que depois de um rigoroso estudo se pode concluir que a afirmação de que Jesus não está sacramentalmente presente até que o sacerdote diga as palavras mágicas (sic) da instituição “isto é o meu Corpo…” não aconteceu até a publicação da Adorabile Eucharistiae em 1822.
21. http://infocatolica.com/blog/deoomnis.php/1610301249-cambios-en-lacongregacion-pa
23. http://www.vidanuevadigital.com/2016/10/31/la-excepcional-ceremonia-ecumenicaen-la-catedral-de-lund/
25. https://press.vatican.va/content/salastampa/es/bollettino/pubblico/2016/10/31/decl.pdf