Cardeal Burke: esse será o modelo da correção formal ao Papa Francisco
Uma vez que o Papa Francisco optou por não responder às cinco perguntas sobre se a sua Exortação Amoris Laetitia está em conformidade com a doutrina católica, é “necessário” fazer uma “correção” dos aspectos em que seu ensinamento se distancia da fé católica, disse o Cardeal Raymond Burke em uma nova entrevista.
Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Cardeais Raymond Burke, Joachim Meisner (recém-falecido), Walter Brandmüller e Carlo Caffarra LifeSite
Pete Baklinski, 16 de agosto de 2017, LifeSiteNews | Tradução: : Uma vez que o Papa Francisco optou por não responder às cinco perguntas sobre se a sua Exortação Amoris Laetitia está em conformidade com a doutrina católica, é “necessário” fazer uma “correção” dos aspectos em que seu ensinamento se distancia da fé católica, disse o Cardeal Raymond Burke em uma nova entrevista.
O Cardeal, que é um dos quatro signatários dos dubia apresentados há cerca de um ano e que pedia ao Papa para esclarecer o seu magistério, explicou em uma entrevista ao The Wanderer a maneira como se deve proceder para emitir uma “correção formal”.
Burke explicou: “Parece-me que a essência da correção é bastante simples”.
“Por um lado, expõe-se a doutrina clara da Igreja; por outro, aquilo que efetivamente está sendo ensinado pelo Romano Pontífice é afirmado. Se houver contradição, o Romano Pontífice é instado a conciliar seu próprio ensinamento em obediência a Cristo e ao Magistério da Igreja,” ele disse.
“A pergunta é a seguinte: ‘Como essa correção seria feita?’ De maneira muito simples, por meio de uma declaração formal a qual o Santo Padre seria obrigado a responder. Os Cardeais Brandmüller, Caffarra, Meisner e eu usamos uma instituição antiga na Igreja que propõe os dubia ao Papa,” continuou o Cardeal.
Fizemos isso de maneira muito respeitosa e de maneira alguma com agressividade, para dar-lhe a ocasião de expor a doutrina imutável da Igreja. O Papa Francisco optou por não responder aos cinco dubia. Então, agora é necessário simplesmente afirmar a doutrina da Igreja a respeito do matrimônio, da família, dos atos intrinsecamente maus, e assim por diante. Esses são os pontos que não estão claros nos ensinamentos atuais do Romano Pontífice. Portanto, esta situação deve ser corrigida. A correção se dirigiria principalmente a esses pontos doutrinários”, acrescentou.
No ano passado os quatro cardeais divulgaram suas perguntas (dubia), uma vez que o papa não lhes respondeu. Eles esperavam que a resposta do Papa às suas cinco perguntas do tipo sim ou não dissiparia o que chamavam de “incerteza, confusão e desorientação entre muitos fiéis” decorrentes da exortação polêmica.
Em junho, os quatro divulgaram publicaram uma carta ao Papa, na qual pediram, sem lograr êxito, uma audiência privada para discutir a “confusão e desorientação” dentro da Igreja em razão da exortação.
A exortação tem sido usada por vários bispos e grupos episcopais, inclusive na Argentina, Malta, Alemanha e Bélgica, para emitir diretrizes pastorais que permitem que a Comunhão seja dada aos católicos divorciados e recasados no civil que vivem em adultério. Entretanto, bispos no Canadá e na Polônia emitiram declarações com base na leitura do mesmo documento, que proíbe esses casais de receberem a Comunhão.
O Papa Francisco ainda não dialogou com os três cardeais remanescentes.
Burke disse na entrevista ao The Wanderer que o Papa é o “princípio da unidade dos bispos e de todos os fiéis”.
“Entretanto, a Igreja está sendo dilacerada neste momento pela confusão e divisão”, ele disse.
“O Santo Padre deve ser instado a exercer seu ofício para pôr fim à confusão”, acrescentou.
Se o Papa continuar se recusando a responder aos dubia, o “próximo passo seria uma declaração formal afirmando claramente a doutrina da Igreja, conforme exposto nos dubia”, disse Burke.
“Além disso, a declaração afirmaria que essas verdades da Fé não estão sendo definindas pelo Romano Pontífice com clareza. Em outras palavras, em vez de fazer as perguntas como foram feitas nos dubia, a correção formal consistiria em dar as respostas, conforme eninadas claramente pela Igreja”, acrescentou.
Acredita-se amplamente que os Cardeais, seguindo as doutrinas da Igreja sobre o Matrimônio, a Penitência e a Eucaristia, responderiam as cinco perguntas com sim ou não, da seguinte maneira:
- Seguindo as afirmações da Amoris Laetitia (números 300-305), um casal que vive habitualmente em adultério pode receber a absolvição e a Sagrada Comunhão? NÃO
- Com a publicação de Amoris Laetitia (ver n° 304), ainda é preciso considerar válido o ensinamento de São João Paulo II na Veritatis Splendor de que existem “normas morais absolutas que proíbem atos intrinsecamente maus e que são vinculativos sem exceções? “SIM
- Após a Amoris Laetitia (nº 301), ainda é possível afirmar que o adultério habitual pode ser uma “situação objetiva de pecado habitual grave”? SIM
- Após as afirmações da Amoris Laetitia (nº 302), os ensinamentos de João Paulo II na Veritatis Splendor ainda são válidos no sentido de que as “circunstâncias ou intenções nunca podem transformar um ato intrinsecamente mau em virtude de seu objeto em um ato “subjetivamente” bom ou que pode ser defendido como uma escolha “? SIM
- Após a Amoris Laetitia (nº 303), ainda é preciso considerar como válido o ensinamento da encíclica Veritatis Splendor de São João Paulo II “que exclui uma interpretação criativa do papel da consciência e enfatiza que a consciência nunca pode ser autorizada a legitimar exceções às normas morais absolutas que proíbem atos intrinsecamente maus em virtude de seu objeto? “SIM
O cardeal Burke disse que os fiéis católicos que se sentem frustrados com a maneira como o Papa Francisco lidera a Igreja não devem acolher nenhuma noção de “cisma”.
Ele disse: “As pessoas falam sobre um cisma de facto. Sou absolutamente contrário a qualquer tipo de cisma formal – um cisma nunca pode ser certo “.
“Entretanto, as pessoas podem estar vivendo em uma situação cismática se abandonaram a doutrina de Cristo. A palavra mais apropriada seria aquela que Nossa Senhora usou em sua Mensagem em Fátima: apostasia. Pode haver apostasia dentro da Igreja e, de fato, é o que está acontecendo. Com relação a essa apostasia, Nossa Senhora também se referiu à omissão dos pastores em buscar a unidade da Igreja”, acrescentou.