Cardeal Burke: “Confusão e erro” dos líderes católicos podem ser sinal do fim dos tempos
“Confusão, divisão e erro” dentro da Igreja Católica vindos dos “pastores”, até dos mais altos níveis, indicam que “podemos estar” no fim dos tempos, disse o Cardeal americano Raymond Burke em um discurso em Kentucky.
Pete Baklinski.
LifeSiteNews, 08 de agosto de 2017.
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Tradução. Bruno Braga.
“Confusão, divisão e erro” dentro da Igreja Católica vindos dos “pastores”, até dos mais altos níveis, indicam que “podemos estar” no fim dos tempos, disse o Cardeal americano Raymond Burke em um discurso em Kentucky.
O Cardeal, que falou no “Church Teaches Forum” no dia 22 de julho, em Louisville [1], afirmou que, na sua opinião, os tempos “parecem ser realisticamente apocalípticos”.
“Estamos vivendo os tempos mais confusos no mundo e também na Igreja”, disse. “Em uma tal condição cultural desordenada e generalizada, existe o temor legítimo de uma confrontação global que para muitos só pode significar destruição e morte”, acrescentou. “Claramente, a atual situação do mundo não pode continuar sem conduzir à aniquilação total”.
Burke, um dos principais especialistas em Direito Canônico, sublinhou como os males agora comumente aceitos na devastada cultura Ocidental conseguiram se infiltrar na Igreja, passando dos pastores para o rebanho.
“Mas, de uma forma diabólica, a confusão e o erro que conduziram a cultura humana ao caminho da morte e da destruição também entraram dentro da Igreja, de modo que Ela se aproxima da cultura sem saber Sua própria identidade e missão, sem parecer ter a claridade e a coragem de anunciar o Evangelho da Vida e do Amor Divino à cultura radicalmente secularizada”, disse.
Ele citou como exemplo as observações recentes do Cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, que disse que a legalização do “casamento” entre pessoas do mesmo sexo na Alemanha não era uma grande preocupação para a Igreja [2]. Marx disse que a Igreja deveria estar mais preocupada com o que ele chama intolerância contra pessoas que sofrem com a atração pelo mesmo sexo.
Pastores silenciosos
Burke, que é um dos quatro Cardeais que assinaram os dubia, pedindo ao Papa Francisco para esclarecer as ambiguidades nos seus ensinamentos, disse que existem “muitos pastores” que já não são verdadeiramente pastores dos fiéis confiados a eles.
“Por alguma razão, muitos pastores estão em silêncio sobre a situação em que a Igreja se encontra, ou abandonaram a clareza do ensinamento da Igreja pela confusão e pelo erro que, equivocadamente, pensam abordar de forma mais efetiva o colapso da vida cristã”, disse.
Burke afirmou que para ele um sinal claro de que a Igreja está “falhando terrivelmente” na sua missão é que Ela já não enfrenta ataques hostis da mídia secular.
“Há um tempo, um Cardeal em Roma comentou sobre como é bom que a mídia secular já não ataque a Igreja como fazia ferozmente durante o pontificado de Bento XVI”, disse. “Minha resposta foi que a aprovação da mídia secular é, ao contrário, um sinal de que a Igreja está falhando terrivelmente no Seu claro e corajoso testemunho para a salvação do mundo”, afirmou.
Ele notou especificamente como a mídia secular colocou aqueles fiéis ao ensinamento católico perene contra o Papa Francisco e sua agenda “pastoral” para a Igreja.
O Cardeal Burke acusou “vozes seculares” de promoverem o Papa Francisco como um “reformador, um revolucionário, isto é, como alguém comprometido com a reforma da Igreja através da quebra da Tradição, da norma da fé (regula fidei) e a correspondente regra do direito (regula iuris)”.
“Com relação às declarações frequentes do Papa Francisco, desenvolveu-se um entendimento popular de que toda declaração do Santo Padre deve ser aceita como ensinamento papal ou magisterial. A imprensa de massa certamente queria escolher e recortar as declarações do Papa Francisco com o objetivo de demonstrar que a Igreja Católica está passando por uma revolução e mudando radicalmente o seu ensinamento sobre certas questões-chave de fé, especialmente morais”, disse.
“Idolatria da Papado”
O Cardeal observou que o Papa não colabora, escolhe regularmente “falar de forma coloquial, seja em entrevistas dadas em aviões ou para veículos de comunicação, ou em comentários espontâneos a vários grupos”.
Ele disse que os católicos que procuram permanecer fiéis a Cristo e à Igreja que Ele fundou devem aprender a discernir entre “as palavras do homem que é o Papa e as palavras do Papa como Vigário de Cristo na Terra”.
“O Papa Francisco tem escolhido falar com frequência no seu primeiro corpo, o corpo do homem que é Papa. Na verdade, até em documentos que, no passado, representaram ensinamentos mais solenes, ele declara claramente que não está oferecendo ensinamento magisterial, mas o seu próprio pensamento”, afirmou o Cardeal.
“Mas aqueles que estão acostumados com uma forma diferente de discurso papal querem tornar de alguma forma todas as suas declarações parte do Magistério. Fazê-lo é contrário à razão e ao que a Igreja sempre entendeu. É simplesmente errado e nocivo à Igreja receber toda declaração do Papa como expressão do ensinamento papal ou magisterial”, acrescentou.
Burke chamou anteriormente a controversa Amoris Laetitia (2016) do Papa, “não um ato do Magistério”, mas uma “reflexão pessoal do Papa” [3]. A Exortação Apostólica tem sido interpretada por vários Bispos e Cardeais como permissão aos católicos civilmente divorciados e recasados, vivendo em adultério, a receberem a Sagrada Comunhão. Tal interpretação contradiz o ensinamento católico anterior.
O Cardeal disse que fazer a distinção entre “as palavras do homem que é Papa e as palavras do Papa como Vigário de Cristo na Terra” é crucial para mostrar um “respeito definitivo” pelo Ofício Petrino e manter-se fiel aos ensinamentos perenes da fé católica.
“Sem a distinção, perderíamos facilmente o respeito pelo Papado ou seríamos levados a pensar que, se não concordamos com as opiniões pessoais do homem que é o Pontífice Romano, então devemos quebrar a comunhão com a Igreja”, disse.
Ele alertou os católicos sobre não cair em uma “idolatria do Papado”, em que toda palavra dita pelo Papa é tratada como se fosse doutrina, “mesmo que seja interpretada para ser contrária à própria palavra de Cristo, por exemplo, com relação à indissolubilidade do casamento”.
Qualquer declaração do Papa, disse Burke, deve ser entendida “no contexto do ensinamento constante e da prática da Igreja, para que a confusão e a divisão sobre o ensinamento e a prática da Igreja não entrem no Seu Corpo para o grande prejuízo das almas e da evangelização do mundo”.
“Os fiéis não são livres para seguir opiniões teológicas que contradizem a doutrina contida nas Sagradas Escrituras e na Sagrada Tradição, e confirmada pelo Magistério ordinário, mesmo que essas opiniões encontrem ampla audiência na Igreja e que não sejam corrigidas pelos Seus pastores que, como pastores, são obrigados a corrigi-las”, acrescentou.
O Cardeal advertiu os católicos angustiados com a atual situação na Igreja a não pensarem em cisma, que é separar-se da Igreja Católica comandada pelo Papa na esperança de criar uma Igreja melhor.
“Não pode haver espaço para o cisma no nosso pensar e agir, ele é sempre e em todo lugar errado”, disse.
“O cisma é fruto de um modo de pensar mundano, de pensar que a Igreja está nas nossas mãos e não nas mãos de Cristo. A Igreja do nosso tempo tem necessidade de ser purificada de qualquer tipo de pensamento mundano”, acrescentou.
Superando a crise.
Burke apresentou um número de métodos práticos com os quais o católico que se esforça para ser fiel pode responder a atual crise na Igreja. Eles devem:
– Rezar por um crescimento na fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, “que está vivo para nós na Igreja e que nunca falha no ensino da santidade e nos guia na Igreja”, cujo “ensinamento não muda”.
– “Estudar mais atentamente os ensinamentos da fé contidos no Catecismo da Igreja Católica e estar preparado para defender aqueles ensinamentos contra qualquer falsidade que corrói a fé e, portanto, a unidade da Igreja”.
– Reunir-se para “aprofundar a fé e encorajar uns aos outros”.
– Recorrer à Santíssima Virgem Maria para procurar a sua maternal intercessão.
– Invocar com frequência ao longo do dia a intercessão de São Miguel Arcanjo.
– Rezar diariamente a São José, especialmente sob o título de “Terror dos Demônios”, pela “paz na Igreja, para a sua proteção contra todas as formas de confusão e divisão, que são sempre obra de Satanás”.
– Rezar pelo Papa, especialmente por meio da intercessão de São Pedro.
– Rezar pelos Cardeais da Igreja, que eles sejam “verdadeiro auxílio ao Santo Padre em exercício no seu Ofício”.
– “Permanecer serenos por causa da nossa fé em Cristo, que não permitirá que ‘as portas do inferno’ prevaleçam sobre a Igreja”.
– “Salvaguardar especialmente a nossa fé no Ofício Petrino e o nosso amor pelo sucessor de São Pedro, o Papa Francisco”.
O Cardeal Burke instou os católicos a não “se preocuparem se estes tempos são apocalípticos ou não, mas permanecerem fiéis, generosos e corajosos em servir a Cristo e ao Seu Corpo Místico, a Igreja”.
“Sabemos que o capítulo final da história destes tempos já está escrito. É a história da vitória de Cristo sobre o pecado e o seu fruto mais mortal, a morte eterna”, disse.
“Resta-nos escrever, com Cristo, os capítulos intermediários com a nossa fidelidade, coragem e generosidade como Seus verdadeiros colegas de trabalho, como verdadeiros soldados de Cristo. Resta-nos ser bons e fiéis servos, que esperam para abrir a porta para o Mestre na Sua Vinda”, acrescentou.
NOTAS.
[1]. Cf. [].
[2]. Cf. [].
[3]. Cf. [].