Raymundo passa mal e é internado no Hospital Biocor com pancreatite aguda. Durante a internação, uma freira de hábito preto, que diz chamar-se Francisca, lhe dá três pílulas azuis. Raymundo as toma e fica imediatamente curado.
02 de fevereiro de 2010
Necessito relatar com exatidão o que me aconteceu quando da minha internação no Hospital Biocor, em Nova Lima.
Eu estava com a minha esposa fazendo compras, quando comecei a sentir dores enormes na região do estômago, e pensei que fosse desmaiar. Dei o alarme, e me levaram imediatamente para o Hospital Biocor, onde fui encaminhado para a emergência. Depois de alguns exames, disseram-me que eu estava com um quadro de pancreatite aguda.
Fiquei internado durante três semanas. Nesse ínterim, preocupado com a Basílica de Lourdes, onde rezo o Terço toda terça-feira, pedi a Nossa Senhora que me ajudasse.
Pela manhã, entrou no meu quarto uma pessoa, que me pareceu ser enfermeira, com uma caixinha de remédio nas mãos. Perguntei-lhe se era para mim, e ela me respondeu que não. Eram pílulas de açúcar. Achei isso estranho, e perguntei-lhe o porquê daquilo. E daí ela me contou a seguinte história. A direção desconfiava que alguns pacientes internados tinham doenças psicossomáticas. A estes eram ministradas essas pílulas de açúcar, e então fazia-se um diagnóstico. Aquilo ficou na minha mente.
À tarde o meu celular tocou. Era uma senhora me pedindo ajuda por estar com ânsia de vômito persistente. Durante a conversa, ela me contou que seu filho estava envolvido com droga, tinha saído de casa e havia duas semanas que não dava notícia. Foi fácil perceber que essa senhora tinha também um quadro psicossomático. Fiquei preocupado com isso. Depois entrou no meu quarto uma freira vestida de hábito preto, que me disse:
– Como você está?
– Estou bem – respondi.
– Não se esqueça de mim.
– Qual é o seu nome, senhora?
– Me chamo Francisca – e saiu.
Naquela tarde o meu estado se agravou, e tive que ser atendido. Estava com muitas dores, e num ato impensado entrei no chuveiro com roupa, a fim de que a água fria me aliviasse. Nesse momento ouvi uma atendente do hospital falar com um enfermeiro:
– O estado dele não é bom, acho melhor falar com a acompanhante para avisar a família.
A minha esposa tinha ido em casa. Moramos perto do hospital.
Fiz então um pedido a Nossa Senhora:
– Mãe Santíssima, sei que a minha missão ainda não acabou, mas os desígnios de Deus são insondáveis. Peça a Jesus por mim, porque necessito de mais um tempo para atendê-la naquilo que tanto me pede.
Foi quando vi na porta a freirinha trazendo nas mãos algumas pílulas azuis. Ela aproximou-se de mim e disse:
– Deus escutou as preces de Maria a seu favor; tome isto.
Eu tomei então três pílulas que estavam numa caixinha nas mãos da freirinha. E ela me disse:
– Ficará bom, não se preocupe – e depois saiu.
No mesmo instante as dores passaram. Mais tarde, quando o médico chegou junto com a minha esposa, a crise já havia passado, e não voltou mais. O médico me perguntou:
– O que houve?
– Não sei, tive uma crise de dores, mas o remédio foi bom.
– Que remédio?…
– O que o senhor me mandou pela freirinha.
– Que freirinha?…
– Uma de preto.
– Mas aqui não temos freiras, e muito menos de preto… Ela lhe deu algum remédio?
– Me deu três pílulas.
Ele saiu e voltou com uma enfermeira, a quem perguntou com uma papeleta nas mãos:
– Você administrou algum medicamento a este senhor há poucos minutos atrás?
– Eu não, doutor!…
– Pode ir – ele lhe disse.
– Senhor Raymundo, necessitamos repetir alguns exames.
– Pois não, doutor.
– Amanhã cedo vamos repetir todos os exames.
De fato, na manhã seguinte fui submetido a mais alguns exames, e à tarde fui liberado. Segundo tinham me avisado, o perigo da pancreatite tinha passado.
Referência: LOPES, R. As Pílulas Azuis. In: LEMBI, Francisco. Raymundo Lopes, Daniel: Uma incógnita dos finais dos tempos. Belo Horizonte: Magnificat, 2010. p. 131-132.