As dores de Nossa Senhora
Na Capela Magnificat, o arcanjo descreve para Raymundo algumas das dores que Nossa Senhora teve que enfrentar durante a sua vida terrena. Além disso, esclarece que Deus não nos nega a proteção dos anjos quando o pedimos com o coração contrito, e neste sentido lhe ensina uma bela oração.
24 de fevereiro de 2004
Eram três horas da manhã do dia 24 de fevereiro de 2004. Eu havia perdido o sono e não conseguia dormir. Pensava no pedido de um missionário, para que eu lhe arrumasse algo sobre as sete dores de Nossa Senhora.
Como fazer isso, se percebo sem dificuldade, pela vivência destes últimos 12 anos, que Maria Santíssima não teve sete dores, mas setenta vezes sete?… E por todas Ela nos perdoou as amarguras que causamos ao seu espírito puro e sem mancha.
Resolvi descer à capela. A noite estava bonita e sem chuva. À luz de velas, rezei ajoelhado diante do Sacrário:
– Senhor bom Deus, fizemos sofrer a sua santa e doce Mãe. E acredito que até hoje, a todo momento, repetimos este gesto infame, devido aos nossos pecados de desobediência, soberba e tantos outros difíceis de enumerar, que lançamos contra o seu santo Nome. Me desculpe por estar aqui pensando nestas coisas, mas a minha fraqueza humana está curiosa quanto a essas dores enfrentadas pela sua Mãe Santíssima. Mais uma vez, me desculpe…
Eu tinha deixado a porta da capela semi-aberta para não entrar vento, pois a noite estava um pouco fria. De joelhos, como estava, ouvi a porta abrir. Levantei rapidamente pensando ser o Danielzinho1 que estivesse entrando. Não era ele, era o “garoto” que sempre me visita. Estava de branco e pezinhos descalços. Ele me disse com serenidade:
– Posso entrar?
– Claro que pode. Não sei por que me pergunta isso, se entra e sai desta casa da maneira que entende. Entre…
Ele entrou, sentou na primeira cadeira à esquerda do altar e ficou com o rostinho fixo no Sacrário, sem dizer nada. Fiquei admirando a beleza daquela criança por alguns instantes. Depois lhe perguntei:
– O que deseja desta vez? Fiz alguma coisa errada?
Ele se levantou e subiu no degrau perto do altar.
– A doce Senhora, com a permissão do bom Deus, me manda até você para lhe dizer alguma coisa sobre o que está tirando o seu sono.
– As dores que Ela sentiu no coração por causa das coisas ruins que lhe aconteceram enquanto viveu aqui?
– Foram muitas, mas houve algumas que deixaram o coração da doce Senhora ferido durante toda a sua vida terrena.
– Quais? – perguntei.
A essa altura eu já estava sentado numa outra cadeira, ao lado do menino.
– O sofrimento da doce Senhora iniciou quando a afastaram dos pais, para que Ela fosse viver no Templo. Sua alma de criança custou um bom tempo para aceitar isto, e a cena nunca se apagou do seu suave e puro semblante. Mais tarde, uma segunda separação a esperava. Faleceram os seus pais, e Ela se sentiu insegura e sem amparo, apesar de saber que Deus a assistia. A doce Senhora tinha entregado a Deus a sua castidade, e ser prometida a um varão em casamento fez com que mais uma vez o seu espírito se conturbasse.
Aqui eu interrompi:
– Meu Deus, coitada de Nossa Senhora, Ela deve ter sofrido muito com isso!…
O menino balançou a cabeça, confirmando o que eu dizia.
– A doce Senhora, por obra do Todo-Poderoso, transforma-se no receptáculo de Jesus, e apesar da sua virgindade intocada, Ela se vê grávida. Isto a deixou exultante de alegria, mas causou graves questionamentos em José e em suas famílias. A Senhora sofreu muito por causa disso. Mais tarde, a saída inesperada para o Egito agitou mais uma vez o espírito calmo de Maria, e Ela chorou. Quando soube que Herodes tinha tido a infeliz ideia de eliminar tantos inocentes para se livrar de Jesus, Maria ficou dias e dias numa profunda tristeza. Naquela grande festa em Jerusalém, o desencontro com José desencadeou a perda de Jesus. A noite desceu no espírito da Bem-Aventurada, e Ela também chorou aflita. Tempos depois, a doce e amada Esposa tem de se despedir do esposo, porque o Senhor bom Deus chama José à eternidade. Maria sofreu com paciência a viuvez. Mas sabemos que o que mais conturbou o espírito santo da amada Senhora foi ver Jesus dependurado na cruz. Foi sua mais cruenta dor, difícil de ser relatada. A separação causada pela ida do Senhor Jesus para o Céu e a espera do encontro definitivo na eternidade põem fim por definitivo às dores terrenas da doce e serena Senhora.
Depois ele ficou me olhando, e eu então lhe disse:
– Teve outras, que eu sei!…
– Teve. Há muitas outras dores, mas, para que você possa meditar como amar cada vez mais a doce Senhora, pense nessas que lhe passo.
– Posso lhe perguntar uma coisa que me deixa curioso?
– Pode, pergunte – ele respondeu com firmeza.
– Os anjos tomam conta de nós sempre, a todo momento?
– Quando vocês pedem isso com o coração contrito ao Senhor bom Deus, Ele não nega a ninguém essa ajuda.
– Como se faz isso? – perguntei.
– Rezando ao Senhor bom Deus.
– Me ensine como fazer isso.
– É simples, veja.
Ele ajoelhou diante do Sacrário, abaixou a cabeça, e com a voz firme e pausada rezou a seguinte oração:
“Senhor bom Deus, força insuperável criadora do infinito, a minha alma tem necessidade de vivenciar a tua presença na Terra, porque me sinto fraco e sem forças para entender os teus desígnios. Os teus anjos desde o meu nascimento me rodeiam e se esforçam para que eu entenda, cada vez mais, que a tua vontade criadora deseja me ver feliz. Agora eu desejo, do fundo do meu coração, que esse contato se realize plenamente.
Estou com a minha alma prostrada aos teus pés santíssimos, com a cabeça baixa e totalmente entregue à tua vigilância paterna. Faze, Senhor, com que a tua força me envolva através dos teus anjos e me forneça proteção contra as ciladas do demônio. Que o perfume das criaturas, criadas segundo a tua vontade e fiéis ao teu amor, possa desvanecer por completo o inóspito caminho em que me encontro.
Senhor, a minha alma deseja ser transformada em instrumento da tua presença, e sei que através dos anjos que me rodeiam dia e noite isto pode ser realizado.
Amor que se fez carne um dia no seio virginal de Maria, o meu coração se acha pronto para ser totalmente invadido através dos teus anjos, pela força do teu Espírito, para que sejam dissipadas todas as dúvidas, seja dissipado todo o desentendimento, seja dissipado todo o desamor, sejam desmoronadas as colunas do ódio, da inveja e da desavença.
Senhor, que os teus anjos me assistam e me transformem numa alma limpa, para entender e fazer a tua vontade na Terra. Amém”.
– Viu? É simples. Peça desta forma, que os anjos do Senhor bom Deus estarão sempre por perto. A manhã está chegando, tenho que ir.
Eu então o interrompi novamente:
– Espere!… Como é que eu vou me lembrar disso e dessa oração ao Senhor bom Deus?…
– Está gravado no seu cérebro até que escreva. Faça isto.
Dizendo isto, ele se dirigiu à porta, desceu a rampa da capela pelo lado direito, e desapareceu no portão de saída da casa.
1 Missionário do Coração Imaculado.