Religión en Libertad, 20 de maio de 2018.
[https://religionenlibertad.com/que-pasa-alma-una-iniciacion-masonica-los-masones-64087.htm].
Tradução. Bruno Braga.
Os dois grandes testemunhos de ex-maçons publicados em espanhol nos últimos anos, o de Maurice Caillet e o de Serge Abad-Gallardo [1], coincidem no impacto que neles produziu a cerimônia de iniciação e toda a sua carga simbólica, cujo significado a partir daí começavam a descobrir.
Não existe muito acordo, e entre os próprios maçons, a respeito do alcance dessas cerimônias sobre o novo adepto. É o que assinala José Antonio Ullate Fabo no artigo sobre “O rito, a iniciação e o simbolismo maçônicos”, publicado no número de março-abril da revista Verbo [2].
No seu livro sobre a doutrina transmitida pelas lojas (“El secreto masônico desvelado” [3]), Ullate aponta o naturalismo como a ideologia comum e instrutora de todas as obediências maçônicas. Na revista Verbo, ele esclarece que “o simbolismo maçônico é a coagulação, a síntese da doutrina naturalista da Maçonaria” e “uma ferramenta essencial para relativizar as convicções anteriores do maçom”.
Há um impacto imediato, portanto, dos ritos e fórmulas cabalísticas às quais se é submetido. Além da importância psicológica e sociológica de qualquer rito e em qualquer âmbito, no caso da iniciação maçônica é ainda maior, pois “o candidato desconhece os conteúdos reais da doutrina maçônica” quando ingressa nela. Todo o seu curso através dos diversos graus de iniciação consistirá em desvelá-la na forma de iluminações sucessivas. Portanto, antes de entrar, “não são as razões intelectuais o que atrai até a loja, mas motivações afetivas desordenadas”, em particular, “curiosidade e vaidade”, pois o aspirante busca “estar envolvido em um segredo” ou “ser parte de um grupo exclusivo”.
Então, qual é a natureza das iluminações sucessivas recebidas através dos ritos de iniciação? Em que grau tocam realmente a alma de quem se submete a elas? Paradoxalmente, dada a transcendência do rito e do símbolo nas cerimônias das lojas, os maçons divergem consideravelmente sobre essa questão. Ullate aponta, nos estudos que cita, cinco hipóteses formuladas pelos próprios membros da organização.
Hipótese 1. Não acontece nada.
O aspirante que se submete aos ritos de iniciação maçônica não experimenta nele nenhuma mudança: “Simplesmente transpõe o umbral do templo em que se vai ensinar as técnicas com as quais se vai alcançar os seus ‘fins espirituais’”. É uma concepção cronológica: a iniciação simplesmente inicia a jornada do maçom através dos sucessivos graus da sabedoria que ele aspira”.
Hipótese 2. A iniciação outorga já um conhecimento impreciso.
Esse conhecimento tem sobretudo um aspecto experimental. O grau de sabedoria recebido através dos ritos depende da subjetividade do novo adepto. Os ritos atuariam como os sacramentais na Igreja: ex opere operantis, somente em função dos impedimentos que apresenta quem os recebe.
Hipótese 3. O rito iniciático é eficaz em si mesmo.
Continuando com as analogias cristãs, atuaria como os sacramentos ne Igreja: ex opere operato, independentemente do sujeito. Na iniciação maçônica (um “psicodrama” em cuja descrição coincidem os ex-maçons Caillet e Abad-Gallardo), o neófito ao assumir a personalidade dos personagens que aparecem no rito (como Hiram, o arquiteto do templo de Salomão), “sofre um choque na ordem sensível que o faz adquirir um ‘conhecimento poético’ daquele ensinamento” que esses personagens supostamente transmitem. Segundo o maçom Javier Otaola, a iniciação é “o início de um processo de transformação pessoal”.
Hipótese 4. Existe uma iluminação.
De acordo com os maçons que sustentam esta posição, o ritual iniciático concede algo mais que um conhecimento existencial subjetivo (hipótese 2) ou objetivo (hipótese 3): concede um conhecimento intelectual que desperta “poderes psíquicos latentes”, provoca “uma mudança objetiva na inteligência do maçom”. Aparece aqui a tradição mágico-gnóstica.
Hipótese 5. Produz-se uma mudança na ordem do Ser.
Na escola “mais abertamente gnóstica”: a iniciação tem “uma virtualidade ontológica” que marca o maçom, imprime nele caráter, para tomar emprestado novamente a linguagem da teologia. Esta hipótese, sublinha Ullate, é “a que mais corresponde aos elementos dogmáticos da Maçonaria”. O seu grande formulador e defensor foi o teórico esotérico René Guénon, que afirma: a iniciação “tem como meta essencial ultrapassar o estado individual para passar aos estados superiores do Ser”.
Não é possível fazer isso individualmente, mas no seio de uma organização “que mantenha sem nenhuma interrupção a continuidade da cadeia iniciática”, isto é, na Maçonaria: novamente uma visão invertida da Igreja. Guénon acrescenta que “os verdadeiros ritos iniciáticos e símbolos tradicionais são de origem não humana” e têm sempre “como meta colocar o ser humano em relação com algo que ultrapassa a sua individualidade”.
Portanto, a iniciação, segundo o autorizado magistério de Guénon, que abandonou a Maçonaria nos seus últimos anos para buscar o mesmo na “mística” sufi (muçulmana), não é mero ponto de partida moral (hipótese 1), não é um processo também moral (hipótese 2), não é uma experiência ou “psicodrama (hipótese 3) nem um acesso a conhecimentos secretos (hipótese 4), mas “uma escalada na hierarquia dos múltiplos estados do Ser”. Essa doutrina, recorda Ullate, “reflete uma cosmologia gnóstica panteísta”.
A realidade do que acontece na alma.
Todos os autores maçons citados por Ullate (Alec Mellor, Florencio Serrano, Francesc Xavier Altarriba, Javier Otaola, Oswald Wirth, Henry Wilson Coil, John Salza e o próprio Guénon) coincidem na importância dos rituais de iniciação. Mas não esclarecem nada sobre o que realmente acontece com quem passa por esse conjunto de representações.
Seguindo o ex-mestre maçom John Salza, e partindo da simples e – esta sim, muito clara – teologia moral cristã e a sua distinção entre a vida da graça e a vida sem a graça (no pecado), Ullate explica: é “a sugestão de pensar que já pertence ao grupo eleito dos que receberam a luz, embora não seja claro em que consiste tal iluminação. A vaidade é sem dúvida um ingrediente essencial da iniciação maçônica”.
NOTAS.
[2]. Cf. [https://fundacionspeiro.org/revista-verbo].
[3]. Cf. [https://masones.wordpress.com/2007/11/13/nuevo-libro-el-secreto-masonico-desvelado-2/].