A flor
Antes de ditar a mensagem “Magnificat”, Nossa Senhora dá esclarecimentos a Raymundo sobre a atuação do Mal na Obra Missionária. “Para os que ficaram, iniciaram-se as tribulações, porque grande será a batalha. Reflitam bem e se conscientizem do tremendo poder maléfico que os envolverá daqui por diante”.
20 de dezembro de 1994
No desenrolar dos últimos dias tive experiências bastante desagradáveis com alguns missionários que se afastaram devido a desentendimentos internos. Meu temor de que finalmente estávamos sendo atacados pelo Diabo tinha fundamento.
Nesta madrugada, estava chateado. Quando escutei os anjos anunciando a chegada de Nossa Senhora para a mensagem semanal, tive um acesso de choro incontrolável. Mas percebi que o canto dos anjos não havia cessado. Pelo contrário, havia aumentado sensivelmente.
Passados alguns segundos, vi formar na minha frente a mesma flor que eu tinha visto em sonho nas mãos de Nossa Senhora. Ela brilhava em cima do papel. Era como se estivesse viva, pois suas pétalas se movimentavam. Dela caíram três pétalas, e depois algumas outras, mais escuras, e a flor se fechou completamente.
Verifiquei que numa das três pétalas estava escrito o nome de um desses missionários1. Essa pétala começou a se contorcer e enrolar em si mesma. Comecei a escutar gemidos, como se ela estivesse sentindo uma dor aguda. Assustado, levantei-me e fiquei olhando a cena.
Formou-se, no meio do papel que estava na mesa preparado para receber a mensagem, um buraco negro onde havia mãos que tentavam apanhar a flor e principalmente as pétalas caídas. A flor desabrochou de novo, e do seu interior saiu uma pétala branquíssima e brilhante que, flutuando até a borda do buraco, se abriu completamente e o tampou.
Eu estava literalmente descontrolado, e não parava de chorar. Os anjos se calaram, e vi formar bem na minha frente a figura de uma mão, totalmente materializada, que reconheci ser de Nossa Senhora.
Essa mão chegou até o meu rosto e tocou com um dedo uma lágrima que saía do meu olho. A lágrima ficou como que colada no dedo dela, e passeava na sua mão como uma gota de água em uma folha. Ela fazia malabarismos com a lágrima, que permanecia colada na sua mão, obedecendo a todos os seus movimentos. Fiquei perplexo com a cena que se desenrolava silenciosamente.
Em dado momento, a mão levou às pétalas que estavam jogadas na mesa a lágrima que permanecia colada no seu dedo, tocando uma a uma. Elas ficaram grudadas na lágrima, e a grande pétala que tinha ficado tampando o buraco negro se mexeu. A mão, num salto, recolheu todas as pétalas e as manteve longe do buraco, mas fora da flor.
A mão novamente veio ao meu rosto e recolheu mais duas lágrimas, levando-as à flor que, as recebendo, ficou com uma tonalidade arroxeada. Foi quando escutei Nossa Senhora dizer:
– Meu filho, vou lhe explicar o que acaba de ver. A flor é a minha Obra. Dela sairão muitos, mesmo aqueles que distingui como pequeninos especiais2, o que lhe custará muitas lágrimas. Mas não se preocupe. Desta flor sairá uma força maior que os impedirá de cair no abismo, porque Deus olhou para vocês com seu olhar misericordioso. Entretanto, nunca voltarão a fazer parte desta flor. Para os que ficaram, iniciaram-se as tribulações, porque grande será a batalha. Deus permitiu que o Mal atingisse um dos pequeninos, para que reflitam bem e se conscientizem do tremendo poder maléfico que os envolverá daqui por diante. Eu o preveni. Portanto, não esmoreça agora. Quero-o com o coração cheio de alegria, porque ainda tem a flor. Escreva então o que vou lhe ditar.
Com muita calma e pausadamente, iniciou a mensagem que foi intitulada Magnificat.
1 Joaquim Fonseca.
2 Nossa Senhora escolheu doze “pequeninos especiais”, de quem Ela esperava uma dedicação especial à Obra Missionária.
Referência: LOPES, Raymundo. A Flor. In: LEMBI, Francisco (Org.). Diálogos com o Infinito. Belo Horizonte: Magnificat, 2007. p. 56.